O que jornalistas ambientais podem fazer neste momento?

Jornalistas ambientais não são “bichos-grilos”, exóticos, caipiras ou ecochatos.

Luiz Gonzaga Neto

A resposta é: eles já fizeram. Entre os anos 80 e 90, estava este escriba em São Paulo, fazendo publicações dirigidas à agropecuária. Lembro que uma grande figura das entrevistas coletivas com técnicos e executivos dessa área era Randau Marques, considerado o primeiro jornalista a fazer coberturas especiais sobre a temática do meio ambiente no país. Atuando no famoso Jornal da Tarde, a “bíblia” dos novos periodistas como eu, ele já falava de preservação da natureza e chegou a ser um dos criadores do SOS Mata Atlântica. Randau faleceu em 2020.
Outro grande jornalista ambiental, que o leitor deve se lembrar, foi Washington Novaes, também falecido no ano passado, depois de uma vida dedicada a assuntos como a cultura indígena, especialmente o Xingu, e o desenvolvimento sustentável, escrevendo para jornais e dirigindo documentários para a televisão. Tanto um quanto o outro foram profissionais da comunicação que defenderam a apropriação do conhecimento científico como grande potencial e abertura para o trabalho na mídia, além da discussão sobre a natureza do crescimento econômico. Ou seja, precisamos avançar na chamada “contabilidade ambiental” – o que ganhamos e o que perdemos com o modelo de economia que foi adotado no século XX.
Jornalistas ambientais não são “bichos-grilos”, exóticos, caipiras ou ecochatos. Vi uma frase que define bem a profissão: “jornalismo ambiental busca desvendar conexões ocultas que perpassam a sociedade, não se detendo unicamente no que é tido como ambiental”. Perfeito! Lendo o boletim Nieman Lab sobre o jornalismo americano, vejo que essas questões ainda são vividas nos EUA, onde muitos dos jornalistas ambientais são negros ou têm origem indígena, mas nas grandes revistas escrevem predominantemente os chamados “brancos mais velhos”.
Na verdade, grandes reuniões internacionais vêm comprovando que as mudanças climáticas estão relacionadas a todos os aspectos da vida e se impõem como agenda para presidentes ao redor do planeta. Em 2019, Rosalind Donald escreveu para a Columbia Journalism Review que “a mudança climática é uma história econômica e uma história de saúde pública. Os alertas globais apontam para cadeias de abastecimento, recursos hídricos, infraestrutura tecnológica, desenvolvimento comunitário e perdas, e assim por diante. A cobertura climática tem sido relegada a flashes ambientais e científicos, fora do reino das grandes notícias”.
Como a mudança climática não impacta todo mundo de forma igual, é fundamental contarmos com uma imprensa competente e diversa na cobertura desses temas. Nos EUA, projetos estão surgindo para dar apoio aos jornalistas ambientais, que podem fazer muito pelos temas internacionais mais urgentes. Também são mencionadas organizações como a Society for Environmental Journalists, a National Association of Science Writers, e o Climate Matters. Em outras palavras, mais um aspecto interessante em que podemos e devemos imitar o Tio Sam.

* Luiz Gonzaga Neto é jornalista, analista em comunicação da Câmara de Atibaia e blogueiro, autor de brincantedeletras.wordpress.com. Esta coluna pode ser lida também no site do jornal O Atibaiense – www.oatibaiense.com.br.