Agravamento da crise hídrica aponta para risco de racionamento

A economia de água deve ser objetivo incentivado neste período de junho a setembro.

O Atibaiense – Da redação

A chuva de granizo, que caiu sobre Atibaia e a região de Jundiaí na semana passada, derrubou árvores e destruiu jardins residenciais, mas também comprovou o agravamento da crise hídrica, com sinais de racionamento ou de pelo menos “apagões pontuais” no horizonte. A economia de água deve ser objetivo incentivado neste período de junho a setembro. No final de junho, o governo federal divulgou alerta de emergência hídrica, incluindo São Paulo. É o primeiro alerta dessa natureza em 111 anos. O momento atual lembra 2001 e 2002, quando o Brasil viveu a chamada “crise do apagão”.
De acordo com texto publicado no jornal Nexo Políticas Públicas por pesquisadores do Centro de Economia Energética e Ambiental da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o principal motivo por trás da crise de 2001 foi “a ausência de investimento e planejamento na geração e distribuição de energia”, à qual se somou a escassez de chuvas. Agora em 2021, a situação é classificada como “severa” nas regiões da bacia do Paraná e a previsão é de pouco volume de chuvas para o período. Novamente, a emergência hídrica é associada à escassez de precipitação e a previsão é que o cenário persista até setembro. Encerrado em abril, o período chuvoso foi o mais seco em 91 anos.

FLEXIBILIZAR RESTRIÇÕES
Diante disso, a ANA (Agência Nacional de Águas) decidiu flexibilizar restrições em usinas hidrelétricas, com a finalidade de que os governos possam garantir o fornecimento de luz. O Nexo Jornal lembrou que a maior parte da energia elétrica no Brasil – cerca de 63% – é gerada em usinas hidrelétricas, pressionadas pelo baixo nível das chuvas. Segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), o período de chuvas entre o final de 2020 e o início de 2021 registrou o pior “aporte hidráulico” no período úmido da história do SIN (Sistema Interligado Nacional). Significa que a época de chuvas de 2020-2021 foi a que adicionou menor volume de água aos reservatórios desde 1931, início da série histórica.
Os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste estavam, conjuntamente, em níveis de 32,2% no final de maio de 2021. É o nível mais baixo para o mês desde 2001. O Operador Nacional do Sistema Elétrico – do qual participam agentes públicos e privados do setor – prevê chegar a outubro com os reservatórios da região tendo 20% de armazenamento. Em outubro do ano passado, o Ministério de Minas e Energia passou a empregar mais usinas termelétricas – mais caras e mais poluentes – e determinou a importação de energia da Argentina e do Uruguai.

BANDEIRA VERMELHA
A Aneel anunciou para este mês de junho a bandeira vermelha patamar 2, com acréscimo de R$ 6,243 para o consumo de cada 100 kWh (quilowatts-hora, uma das unidades usadas para medir o consumo de energia elétrica). Em maio, quando foi acionada a bandeira vermelha patamar 1, também houve um acréscimo na conta de luz. Ao mesmo tempo, a vazão de usinas localizadas na bacia do Rio Paraná deverá ser reduzida, aumentando-se o controle sobre o nível das reservas, a fim de diminuir o risco de desabastecimento. Especialistas preveem bandeira vermelha até o final do ano.
O Ministério de Minas e Energia não fala em racionamento. O foco da pasta é “manter o máximo possível de água nos reservatórios” e “aumentar a disponibilidade dos recursos termelétricos, a gás natural, biomassa e a óleo combustível” para que outras fontes de energia possam ser acionadas. Especialistas ouvidos pelo jornal Valor Econômico em reportagem publicada na segunda-feira (31) afirmaram, majoritariamente, que o risco de racionamento é baixo. Podem ocorrer cortes pontuais de energia em horários de pico no segundo semestre, quando a expectativa é de que a atividade econômica esteja mais aquecida. Seriam apagões pontuais.

POBREZA ENERGÉTICA?
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo publicada no sábado passado (29) também mostrou que a maioria dos especialistas entende que a chance de racionamento em 2021 é pequena. Especialistas ouvidos em maio pelo Nexo Jornal concordaram que, apesar de a situação exigir atenção, racionamento de energia é pouco provável. Diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético, Roberto D’Araújo disse que, ainda assim, a crise deve ter efeitos significativos para a população, com possível racionamento via preço: “Vai ficar tão caro que as pessoas vão deixar de pagar”.
Clarice Ferraz, professora da Escola de Química da UFRJ, disse que a situação pode culminar no “fenômeno de pobreza energética para os cidadãos brasileiros de renda média e baixa, e com impacto sobre as atividades econômicas”. Ou seja, o acesso à energia elétrica no país pelas empresas e pelas populações mais vulneráveis pode ficar prejudicado em função do aumento do preço da energia.