O PESSEGUEIRO

Nunca mais me esqueci do pessegueiro que havia no fundo do   quintal de minha casa, em Atibaia, na rua Treze de Maio,onde morei até 1964, por cerca de vinte anos.Esse pessegueiro já existia e era bem grandequando papai, afamoso Quitá, da Bicicletas da Saudade,a adquiriu recém construída do senhorZezicoAlvim,  la pelo ano 1940. Essa casa até hoje existe, apesar de ser bem velhinha. Já o pessegueiro morreu há muito tempo. Quando isso aconteceu eu não residia mais em Atibaia.

Ele tinha  bastante galhos. Quase todos os dias eu e meus irmãos subíamos nele. No outonopara apanhar as frutas, que mesmobichadas nós saboreávamos. Papai infelizmente não tinha tempo de colocar nos frutos os saquinhos para protegê-los  dos bichos.  Engolíamos a fruta com os bichos. Ainda bem que eles nunca  nos fizeram mal.Outras vezes  subíamos para apreciar a maravilhosa paisagem que era possível avistar lá de cima. As montanhas, a Pedra Grande e a Avenida Nogueira Garcez e seu entorno, aliás, paisagem bem diferente da de hoje, pois naquela época, anos cinquenta,por ali quase não havia casas. Só havia a Estância Lince. Hoje essa região já está  bem urbanizada.

Quantas horas de nossa infância e adolescência eu e meus irmãos  ficamos naqueles galhos!? Difícil saber. Quando floreava,esse pessegueiro ficava maravilhoso.Mamãe costumava arrancaralguns galhos floridos  para colocar  num vaso e enfeitar nossa  casa. Algum tempo depois  vinham os frutos. Uns, quando ainda verdes, já eram apanhados para mamãe fazer um delicioso doce. Quando ficavam maduros lá íamos apanhá-los saboreando-os sentados nos galhos. Que delícia!Estou me lembrando agora do sabor dos pêssegos.

Para pousar  nesse pessegueiro, naquela época,  pássaros frequentavam nosso quintal, e lá cantavam.  Alguns chegavam até mesmo a fazer ninho nessa árvore.Eu sabia o nome de todos os pássaros  que noscontemplavam com seus maravilhosos cantos. Foi meu avô Lamartine Netto, pai de  mamãe, que nos ensinou os nomes desses pássaros. Eram inúmeros. Sabiá, bem-te-vi, sanhaço, coleirinha, avinhado bigodinho, azulão, pintassilgo, tico-tico rei etc.

Uma ocasião meu saudoso irmão Cláudio estava na árvore e levou o maior tombo.É que de repente  começou a chover e ele estava   descendo muito depressa, e caiu da árvore.. Bateu um dos braços nummuro e o quebrou.Ele linha só uns dez anos. Berrava de dor.Depois de engessar, na Santa Casa, o braço quebrado,ele ficou bem. Chegava até a exibl-lo para todo mundo e pedia sempre para escrever um autógrafo no gesso. Mas,  depois desse acidente,e  coitado, ele nunca mais quis subir no pessegueiro.Mas não foi só meu irmão Claudio que um dia sofreu debaixo daquela árvore. Eu também. Num dos galhos  havia um enxame  e eu fui picado por uma das abelhas. Foi ´uma picadinha de nada, mas o suficiente para meu braço ficar muito inchado e doer muito. Meu pai levou-me então à farmácia do senhorAvelino. ali na Rua José Alvim, esquina com a José Pires,para me fazerem  um curativo.Meu braço foi desinchando e parou de doer.

Esses dois acidentes que aconteceram naquela árvore foram só dois pequenos detalhes que causaram sofrimento a mime a meu irmão. Foram, contudo, insignificantes diante das alegrias que aquela árvore nos proporcionou.Por isso ela é um capítulo muito importante na história de minha vida.

 

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