Selfie, a solidão compartilhada

Por Luiz Gonzaga Neto

“Muitas pessoas se encontram apenas na foto que aparece postada na internet. A moça que sorri, faz careta e mostra o decote no espelho quer seduzir, mas esconde tristezas e decepções. O casal que se beija na imagem curtida por centenas de amigos brigou logo após o clique. O show que
eles foram nem foi tão legal assim e a família que aparece abraçada no Facebook não se vê há meses, divida por fofocas.
Gente que acorda de mau humor, que perde a paciência com a moça do telemarketing, que briga no trânsito, que já não está feliz no casamento. Que tem saudade do pai que morreu, que devora o pacote inteiro de bolachas, que engordou e não tem roupa para ir ao casamento da amiga,
que perdeu o emprego nesta sexta-feira, que não tem grana para pagar as contas, que está com uma doença séria e não sabe como contar ao filho. Gente comum, que escolhe uma máscara atraente e constrói o #MelhorDaVida para amigos virtuais”.
Os dois parágrafos foram escritos pela jornalista e pesquisadora Juliana Luz Bacci, pós-graduada em Mídia, Informação e Cultura pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELACC), da Universidade de São Paulo. Sua pesquisa de pós-graduação, “Selfie: retratos da solidão compartilhada”, teve como objetivo analisar esse fenômeno social, que marca a pós-modernidade.
O foco aqui não é a selfie como simples postagem de foto na web, mas como elemento indicativo de fenômeno que marca a sociedade pós-moderna no século XXI, impulsionado pelo advento das novas tecnologias. “A pesquisa de caráter interdisciplinar aborda o autorretrato produzido para ser postado na web – principalmente nos sites de relacionamento – como expressão da individualidade, do culto ao corpo como reflexo do trabalho e do lazer, da realidade e de identidades construídas e editadas a partir de ferramentas tecnológicas. Mais do que analisar o comportamento de internautas, impulsionado pela popularização de celulares do tipo smartphones, o estudo analisa o meio de vida ao qual estão submetidos: a solidão compartilhada. Mais conectados, mais sozinhos”, afirma Juliana.
Juliana Bacci é especializada em Roteiro pela Escuela Internacional de Cine y TV, em Cuba. E também tem especialização em Redação Criativa pela Universidade de Nova York. Atualmente é editora de Conteúdo do SBT.

* Luiz Gonzaga Neto é jornalista, analista em comunicação da Câmara de Atibaia e blogueiro, autor de brincantedeletras.wordpress.com. Esta coluna pode ser lida também no site do jornal O Atibaiense – www.oatibaiense.com.br.

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