Atriz atibaiense Isadora Títto estreia no Sesc com “Um Grito Parado No Ar”
Com direção de Rogério Tarifa, o espetáculo musical celebra os 52 anos da obra de Gianfrancesco Guarnieri com uma nova montagem desse clássico.
Uma nova versão de Um Grito Parado no Ar, clássico de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), estreou no dia 17 de janeiro no Sesc Bom Retiro. Sob a direção de Rogério Tarifa e montagem do grupo Teatro do Osso, a obra revisita a icônica peça que reflete sobre os desafios da criação artística em tempos de censura e repressão. A dramaturgia, atualizada por Jonathan Silva, Rogério Tarifa e o Teatro do Osso, dialoga com o contexto contemporâneo, enquanto a encenação preserva o caráter crítico e metateatral que marcou a história do teatro brasileiro. A temporada segue até 16 de fevereiro, com sessões às sextas e sábados, às 19h30, e aos domingos e feriados, às 18h.
A atriz atibaiense Isadora Títto é, em suas palavras, artista do palco, filha do teatro e da música. Revela em cena seu talento em uma atuação visceral, fazendo jus aos seus 25 anos de carreira. Ela foi quem pesquisou as dramaturgas contemporâneas à Guarnieri ao lado da atriz Maria Loverra. Ambas descobriram a dramaturga Renata Pallottini como moradora de Atibaia, e na exposição virtual do grupo vocês podem conferir na Sala 4 “Renata Pallottini e as dramaturgas” a pesquisa das atrizes sobre a invisibilização do trabalho de Renata Pallottini, Leilah Assumpção, Consuelo de Castro e outras escritoras do mesmo período. O site para acesso à pesquisa é www.teatrodoosso.com.br.
A beleza está além de sua performance, mas no conjunto do grupo que se articula no palco com naturalidade ao apresentar um texto complexo, como uma engrenagem humana orquestrada pelo talento de todos os que figuram no palco: atores, coro, músicos da banda…
No coro figura a sempre impecável educadora da nossa cidade Ísis Gonçalves, mãe de Isadora, que apresenta com singeleza e assertividade a potência transformadora que pode ter um profissional da educação que deposita seu empenho na quebra de estigmas e desigualdades que, num país como o Brasil, não raro acorrentam os estudantes.

Além de Isadora e Ísis, participa da peça o ator Thiego Torres, membro do Grupo Arcênicos, do município de Atibaia, compartilhando os caminhos que trilhou em sua vida até retornar o teatro, fato que explícita os entraves com a falta de reconhecimento da profissão: ator.
Gianfrancesco Guarnieri foi ator, diretor, dramaturgo e poeta italiano naturalizado brasileiro. Figura central do Teatro de Arena de São Paulo, Guarnieri marcou a dramaturgia nacional com textos que abordavam questões sociais e políticas. Entre suas obras mais significativas está Eles Não Usam Black-Tie, reconhecida como um marco do teatro brasileiro.
Escrito em 1973, durante a ditadura militar brasileira, Um Grito Parado no Ar se destacou por expor os desafios de se fazer arte em um contexto de repressão. Na adaptação de Tarifa, a obra preserva sua essência crítica e amplia o diálogo com o presente, conectando as questões sociais da época em que foi escrita, aos desafios culturais contemporâneos.
A narrativa acompanha um grupo de artistas que ensaia uma peça a dez dias de sua estreia. Enquanto pressões externas, como dívidas e restrições financeiras, ameaçam o andamento da produção, a trama reflete a precariedade e a persistência da arte em tempos complexos. Com improvisações baseadas em relatos reais de moradores da cidade, o espetáculo revela as tensões sociais e econômicas que permeiam o cotidiano, reafirmando o teatro como espaço de resistência e transformação.
O ato-espetáculo musical conta com a participação da atriz convidada Dulce Muniz (Teatro Studio Heleny Guariba) no papel de Flora. O diretor Rogério Tarifa destaca que Dulce fez parte do Teatro Arena e da história do teatro brasileiro. O grupo costuma trabalhar com depoimentos de pessoas, e Dulce traz um olhar especial por ter vivenciado as duas épocas, 1973 e a atual, trazendo essa bagagens de dores, lutas e vivências.
Marcada por essas narrativas cheias de potência, a peça traz ainda como ator convidado Oswaldo Ribeiro Acalêo (TUOV – Teatro Popular União e Olho Vivo).
“O espetáculo surgiu da colaboração entre meu trabalho e o Teatro do Osso, a partir de uma pesquisa sobre o Teatro Épico no Brasil, inspirada nas obras de Guarnieri. Realizamos um estudo aprofundado sobre esse período, coletando referências e realizando entrevistas com artistas da época. Fomos ao Rio de Janeiro e conversamos com Othon Bastos e Sonia Loureiro. Assim, a montagem representa um encontro entre a companhia Teatro do Osso e um Grito Parado no Ar, unindo características de 1973 e da atualidade, estabelecendo diálogos entre esses dois momentos”, comenta Tarifa.
A direção musical de William Guedes conta com músicas originais compostas por Jonathan Silva criadas especialmente para o espetáculo, enriquecendo a experiência e a conexão com o público. “Essa abordagem envolve algumas características essenciais, como a dramaturgia coletiva, a música ao vivo e as composições criadas especialmente para o espetáculo. Na nossa montagem, embora o texto tenha origem na dramaturgia de Guarnieri, incorporamos também toda a pesquisa necessária para a construção do espetáculo e desses elementos”, explica Tarifa.
A obraestreou há 52 anos, em um período de forte repressão política, e tornou-se um símbolo da resistência cultural. A frase “Nós vamos estrear nem que seja na marra!”, dita pelo personagem Fernando, ecoava como um manifesto dos artistas contra a censura. Hoje, o Teatro do Osso traz essa força para os palcos, reafirmando a importância do teatro como ferramenta de questionamento e crítica social.
Debate
Na quarta-feira, dia 12 de fevereiro, às 19h, acontece no teatro do Sesc Bom Retiro o debate Um Grito Parado no Ar de 1973 a 2025, com entrada gratuita. Na ocasião, Sônia Loureiro, atriz da montagem “Um Grito parado no ar” de 1973, se encontra com Renato Borghi, ator que junto a José Celso Martinez Corrêa e Amir Haddad fundou o Teatro Oficina em 1958, e Dulce Muniz, atriz do teatro de arena, para falar da montagem de 73, assim como da versão contemporânea, realizada pelo Teatro do Osso 52 anos após a montagem original. Falam também sobre teatro, representatividade, história e ditadura.
Serviço:
Um Grito Parado No Ar
Direção: Rogério Tarifa
Estreia dia 17/1, sexta, às 19h30. Temporada até 16/2.
De Sexta a domingo. Sextas e sábados, 19h30. Domingos, 18h.
Local: teatro (291 lugares). 14 anos. Duração: 2h30m sem intervalo.
Valores: R$18 (Credencial Plena), R$30 (Meia) e R$60 (Inteira).
Sessões com acessibilidade: Audiodescrição: dia 1/2, sábado, às 20h. Libras: 2/2, domingo, às 18h.
Venda de ingressos disponíveis pelo APP Credencial Sesc SP, no site
sescsp.org.br/bomretiro, ou nas bilheterias.
Sesc Bom Retiro
Alameda Nothmann, 185. CEP 01216-000.
Campos Elíseos, São Paulo – SP. Telefone: (11) 3332-3600
Elenco: Guilherme Carrasco, Isadora Títto, Maria Loverra, Oswaldo Ribeiro Acalêo e Rubens Consulini. Atriz convidada: Dulce Muniz.