Judiciário envolve escolas em projeto para naturalizar a adoção

Naturalizar as questões referentes à adoção é o principal objetivo do projeto “Escola Amiga da Adoção”, que tem envolvido colégios da rede particular e pública da comarca de Toledo (PR). A iniciativa surgiu na Vara da Infância e Juventude local que, a partir de conversas com as famílias adotantes, percebeu a necessidade de envolver a rede de ensino na disseminação de informações sobre adoção – com o objetivo de conscientizar a sociedade em relação ao tema e do desenvolvimento de uma cultura de adoção sem mitos e preconceitos -, além de melhorar a recepção e tratamento das crianças e adolescentes oriundas desse contexto familiar. A fonte deste artigo é o Conselho Nacional de Justiça.
A prática, que começou em 2018, inclui a assinatura de um acordo entre a escola e o Judiciário, em que as instituições de ensino se comprometem a fazer uma alteração no Projeto Político Pedagógico, que inclui a temática da adoção nas diretrizes da escola. Além disso, há a realização de atividades de conscientização sobre a adoção; e a capacitação de suas equipes – diretores, secretários e professores – a respeito das questões ligadas à adoção. Mas as famílias participantes do Grupo de Apoio à Adoção de Toledo, acompanhado pelo juiz da Vara da Infância e Juventude da comarca, dr. Rodrigo Rodrigues Dias, apresentaram as dificuldades enfrentadas com as escolas em relação aos filhos adotivos. “Temos um acompanhamento muito próximo com as famílias, que trouxeram demandas específicas em relação às escolas”.
Os problemas começavam pelo nome das crianças: as escolas não reconheciam os nomes escolhidos pela nova família, mas insistiam na documentação apresentada, ainda que houvesse a ressalva do processo de adoção, por exemplo. “O nome das crianças só é alterado depois de todo o processo concluído. Isso não é imediato. E há toda uma concepção de família que precisa ser entendida pelas escolas. Isso nos levou a refletir sobre a necessidade de repensar os esclarecimentos à rede de ensino”, explicou o juiz.
Nesse sentido, o juiz e sua equipe identificaram as fragilidades das escolas e propuseram a participação no projeto “Escola Amiga da Adoção”. “A partir das conversas com as escolas, identificamos a falta de conhecimento sobre os processos de adoção e percebemos que era preciso sensibilizar a comunidade escolar”. A capacitação das equipes que atuam nas escolas visa esclarecer as questões sobre acolhimento, abrigamento e adoção em suas complexidades, mostrando os diversos cenários e protagonistas que participam dos processos, como o sistema de Justiça, as instituições de acolhimento, as crianças, as famílias biológicas e as adotantes.
Segundo o juiz, uma das coisas mais difíceis da adoção é que não se fala do assunto abertamente. “Há muitos mitos e preconceitos. O que pretendemos é que a sociedade fale a respeito e entenda a adoção”. Para isso, buscando acabar com o estranhamento sobre a questão desde o início, as escolas passam a realizar atividades pedagógicas de conscientização no Dia Nacional da Adoção, a fim de mostrar para as crianças o que a adoção significa, de forma a gerar um pensamento ético, solidário e comprometido com a realidade familiar da comunidade.