Cientistas investigam como espiritualidade ajuda na saúde

Luiz Gonzaga neto

Práticas espirituais – e não necessariamente religiosas – que trazem bem-estar, como meditação, passes, oração, perdão, atos de gratidão e fé, podem, em alguns casos, ser aliadas de pacientes. Universidades já têm centros de pesquisa para estudar o tema, segundo a BBC News Brasil, em matéria de Daniele Madureira. Sempre acreditei nessa possibilidade e, na minha vida pessoal, como praticante de Yoga, tenho evidências suficientes como leigo. O jornalismo científico poderia enveredar mais por esses caminhos.
Raiva, rancor, orgulho, medo, egoísmo são sentimentos comuns a todos os seres humanos e podem estar no cerne de boa parte das doenças enfrentadas pela humanidade, segundo a própria medicina. Várias instituições no Brasil e no mundo vêm se dedicando a estudar até que ponto a saúde do indivíduo é influenciada, literalmente, pelo seu estado de espírito. No país, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP, por meio do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (Proser), e a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com o Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes), têm investigado o quanto a espiritualidade (não necessariamente a religiosidade) do paciente auxilia na cura de doenças físicas e psíquicas – que podem ser agravadas a partir de sentimentos ruins e pensamentos destrutivos.
A BBC apontou que, nos Estados Unidos, grandes instituições de ensino como a Escola de Medicina de Stanford, as Universidades Duke, a da Flórida, a do Texas e Columbia mantêm centros de estudos exclusivos sobre o assunto, assim como a Universidade de Munique, na Alemanha, a de Calgary, no Canadá, e o Royal College of Psychiatrists, no Reino Unido. Para os centros de pesquisa, há um conjunto de evidências que indicam que diversas expressões da espiritualidade têm impacto significativo na saúde e no bem-estar, associadas a menores níveis de mortalidade, depressão, suicídio, uso de drogas, ou mesmo internações e medicamentos.
As instituições ressaltam que espiritualidade é diferente de religião: em tese, uma pessoa religiosa é espiritualizada; mas alguém espiritualizado não necessariamente segue uma religião – e pode até não acreditar em Deus. A espiritualidade estaria ligada à busca pessoal de um propósito de vida e de uma transcendência, envolvendo também as relações com a família, a sociedade e o ambiente. Perf plreito, minha gente! Sei que os ateus e os descrentes em geral vão torcer o nariz para este artigo, mas a prática espiritual nos deixa mais resistentes a críticas. Em muitos momentos, consigo utilizar até mesmo o bom humor para lidar com elas.
“A espiritualidade é um estado mental e emocional que norteia atitudes, pensamentos, ações e reações nas circunstâncias da vida de relacionamento, sendo passível de observação e mensuração científica”, disse o médico Álvaro Avezum Júnior, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Segundo ele, a espiritualidade é expressa por crenças, valores, tradições e práticas.
Ele é um dos principais estudiosos do país da relação entre espiritualidade e saúde. Esteve à frente da iniciativa da SBC em publicar, há dois anos, as Diretrizes Brasileiras Sobre Espiritualidade e Fatores Psicossociais, que integram o conjunto de prevenção cardiovascular. E isso não é pouco.