Anna Luiza Calixto publica livro infantil de prevenção ao abuso sexual contra crianças e adolescentes

A Cartilha Bem me quer, mal me quer? é uma ferramenta orientadora disponibilizada gratuitamente pela internet e publicada com o apoio do Ministério Público do Trabalho.

Por todo o Brasil, três crianças e adolescentes são vítimas de violência sexual dia após dia. Esta violação de direitos impacta meninos e meninas brasileiros de diferentes faixas etárias, regiões, etnias e condições sócioeconômicas. O abuso sexual não tem rosto e, durante o período de distanciamento social em decorrência da pandemia do Covid-19, suas estatísticas tem crescido vertiginosamente em uma curva sem freio e mais invisibilizada do que nunca.
Pensando em caminhos para combater esta violência tão perversa em meio à conjectura mais que desafiadora que enfrentamos, a jovem atibaiense Anna Luiza Calixto, escritora infantil, fundadora do Projeto Social “Os Cinco Passos”, palestrante e colunista do Jornal O Atibaiense, escreveu a Cartilha Bem me quer, mal me quer?, uma ferramenta poderosa no combate ao abuso sexual infantil: um manual prático de orientação, combate e prevenção a esta violação de direitos, conduzindo – através da literatura infantil – o contato dialógico com as crianças, estimulando a denúncia e trazendo à voga o direito à dizer não, a não culpabilização da vítima, os limites de cada corpo e, o mais importante, a diferenciação do contato afetuoso para o toque abusivo, apresentando também os órgãos da rede de proteção e elucidando com sutileza e didática apropriada esta temática pouco trabalhada com nossas crianças e adolescentes.
Anna Luiza Calixto, autora da Cartilha, fundou em 2015 uma ferramenta de cidadania itinerante que leva as pautas dos direitos humanos para as salas de aula de catorze estados brasileiros, em contato com meio milhão de estudantes, o Projeto Social Os Cinco Passos. Autora deste e outros cinco títulos, a jovem representa o estado de São Paulo no Comitê Nacional de Adolescentes pela Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e é cientista social em formação pela Universidade Federal de São Paulo, atuando na área do direito da criança e do adolescente desde 2008.
Em entrevista ao O Atibaiense, conta: “Pautar a violência sexual infantil é mais do que necessário: é urgente. Nossas crianças e adolescentes devem estar na ordem do dia de todos os dias no tecido da sociedade, família e Estado, tripé elementar da rede de proteção. Quando foi anunciado o período de distanciamento social, nossa primeira preocupação foi: e as crianças que estarão isoladas com seus próprios algozes, em quarentena com seus abusadores? A severidade da questão se acentua pelo fato de que nossos fortes aliados nesta luta, os professores e educadores, perderam o contato presencial com as crianças – o que é determinante na identificação das manifestações sintomáticas do abuso sexual infantil. Mais do que nunca, toda ferramenta de prevenção e mapeamento desta violação de direitos é imprescindível; e foi pensando nisto que nasceu a Cartilha Bem me quer, mal me quer? para ser fio condutor deste diálogo com as crianças, para discernir o que chamamos no livro de carinho de verdade e carinho de mentira, apontar que a culpa da violência nunca é do violentado e orientá-las a procurar por um adulto de confiança e pedir ajuda, denunciar.”
O livro infantil foi publicado com o apoio e parceria do Ministério Público do Trabalho e do PETECA, programa cearense que lidera diferentes frentes nacionais no enfrentamento do abuso sexual infantil através de políticas públicas intersetoriais articuladas. Procurador do Trabalho, Dr. Antonio de Oliveira Lima (ou Seu Peteca, como é conhecido) relata: “Temos acompanhado de perto a constante crescente dos números de vítimas do abuso sexual infantil durante a pandemia e sabemos da necessidade de reinvenção do sistema de garantia de direitos para atender a esta demanda. Então, a sempre parceira do MPT, Anna Luiza, propôs um material orientador e digital para alcançar o maior número de crianças possível e vencer a primeira barreira em que esbarramos: a dificuldade de identificação do abuso, uma vez que o violentador faz uso da alienação emocional para descaracterizar o conceito da criança de amor e afetuosidade. A Cartilha é uma resposta extremamente necessária e emergencial para a infância brasileira, nossa prioridade absoluta.”
Narrada em primeira pessoa por uma menina brasileira vítima de abuso sexual, a história aborda a resiliência e a possibilidade de resgate à infância após a denúncia, através do acolhimento na contramão da revitimização e do olhar sensível e da escuta atenta.
Lançado no último dia 13, o conteúdo está disponível gratuitamente através das redes sociais do Projeto Social Os Cinco Passos, do Peteca e da autora, em arquivo aberto para compartilhamento e leitura. Durante o lançamento, as primeiras crianças de todo o Brasil que realizaram a leitura do material tiveram a palavra livre para compartilhar suas reflexões e contar suas experiências com a leitura da obra para o público do sistema de garantia de direitos, que ouvia atento do outro lado da tela.
“Precisamos aprender a ouvir nossos meninos e meninas, sem medo ou preconceitos. Sempre que me perguntam, durante alguma oficina do Projeto Os Cinco Passos, a partir de que faixa etária é possível conversar com nossas crianças e adolescentes sobre o abuso e a exploração sexual, eu devolvo a pergunta: a partir de que idade nossas crianças e adolescentes podem ser violentados sexualmente? Não há limites para a violência. A Cartilha propõe o diálogo de criança pra criança; o aprendizado coletivo e a descoberta do corpo e dos próprios direitos. Muitos adultos que representam figuras de cuidado para crianças e adolescentes não se sentem preparados para conduzir esta abordagem, e a literatura infantil oferece uma ponte, ao passo que apresenta uma personagem como principal interlocutora, promovendo reflexões que suscitarão trocas entre o pequeno leitor e o adulto de sua confiança. Não podemos desviar o olhar porque quem não denuncia, também violenta. Toda criança é nossa criança.”
A Cartilha Bem me quer, mal me quer? foi escrita em uma metodologia pensada e construída considerando as especificidades e particularidades da infância, em estado de pleno desenvolvimento peculiar, abordando a temática sem tocar em pontos que as crianças não estão preparadas para assimilar. Revisada por uma psicóloga especialista em sintomas psicossociais em suspeita de violação de direitos e doutora em psicologia escolar, a Cartilha é um sucesso entre as crianças e tem o apoio do Movimento Nacional de Combate e Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes: Faça Bonito.
Prevenir a violência sexual infantil é a resposta ideal em meio ao período de distanciamento social, considerando que mais de 70% dos casos são praticados por uma figura de cuidado ou um adulto muito próximo a criança e, em mais de 90% das estatísticas, a violência aconteceu dentro de casa. Para a melhor experiência de leitura com o maior aproveitamento da Cartilha, Anna Luiza Calixto propõe: “Leiam juntos, debatam as ilustrações, observem atentamente as reações de cada criança, escutem suas perguntas e construam, a partir disto, aquele papo cabeça. A Cartilha pode (e deve) ser lida parte a parte, sem pressa, de acordo com o ritmo dos pequenos leitores – e repetidas vezes, para acompanhar o avanço dos saberes de nossos meninos e meninas sobre seus corpos e direitos. Lembre-se de que se a criança não entende que o que está acontecendo é uma relação de abuso, não compreenderá a importância de contar para você ou outro adulto de confiança. Bem me quer ou mal me quer? Para responder a esta pergunta, de criança pra criança, vamos falar de abuso sexual infantil. Para elas e com elas, daremos a tantos meninos e meninas brasileiras uma nova história, escrita por suas próprias mãos.”