O papel dos velhos jornalistas

Falar sobre sua experiência não como modelo a ser repetido, mas como forma-ferramenta de inspirar os novos profissionais. Entendo que este é o papel dos velhos jornalistas, entre os quais me incluo. Na Câmara e em conversas feitas com estudantes, em escolas e entidades de Atibaia, gosto sempre de ressaltar esse valor da formação de novas gerações de comunicadores.
As ferramentas mudaram – da máquina manual de escrever para o computador, o celular e as redes sociais. A internet tomou conta, de forma arrebatadora; os consumidores de notícias e a imprensa tradicional vem se adaptando a essa realidade, criando seus próprios sites e veículos digitais; é difícil prever as turbulências do dia seguinte, quanto mais do “futuro”.
Mas mesmo nesse cenário de transformações e mutações, um fator não mudou: a importância do conteúdo. O bom conteúdo – ou seja, a informação bem apurada, estudada, com versões e pontos de vista diversificados – vem ganhando cada vez mais significado, em um mundo dominado às vezes por falsos comunicadores, alimentadores de fake news, enfim por desinformadores.
Quando alguém reproduz os ataques desses “criminosos”, em conversas informais ou públicas, vou para os veículos de referência – os jornais e revistas estabelecidos, a mídia internacional e publicações bem produzidas como o El País, o Guardian e o Valor Econômico. É batata! É ali que você se alimenta da informação correta e da interpretação conduzida de forma a contextualizar a notícia sem viés ideológico ou no limite da ignorância impura e simples.
Os velhos jornalistas desenvolvem em geral essas qualidades. Um ou outro se deteriorou com o tempo. São vinhos que amadurecem com bons resultados. Para termos safras de profissionais de qualidade, o investimento principal é em cultura clássica – literatura, cinema, teatro, artes plásticas, etc. Depois, muita curiosidade e a habilidade escrever com clareza e concisão e de cultivar fontes confiáveis em vários segmentos. Pronto: estão aí os melhores ingredientes.
Nós, velhos jornalistas, podemos ser, além disso, bons conselheiros pela facilidade de ler cenários e compor narrativas com os dados apresentados. Somos úteis tanto no governo quanto nas empresas e nas organizações sociais. Podemos fazer o trabalho de gabinete – edição e programação das notícias – com maior agilidade que os jovens, rápidos nas tecnologias e essenciais no trabalho de campo, mas geralmente hesitantes e inseguros em situações polêmicas e de pressão.
Como velho jornalista, aposto também – e me preparo para isso diariamente – em um novo comunicador de terceira idade. Seria o velhinho em forma física e intelectual, com muita disposição de aprender com as novas gerações e a certeza de que terá de passar, a qualquer momento, a “tocha olímpica” para os garotos e garotas das redações. Mesmo saindo do dia a dia, você pode integrar conselhos administrativos e institucionais, orientar equipes e fornecer diretrizes em momentos de crise como o atual.