A importância do teatro na formação do histórico cultural de Atibaia – Parte 2

Nascido em 1889, Silveira Bueno mudou-se com a família para Atibaia ainda menino, vindo de Campo Largo (atual Jarinu).

Márcio Zago

No artigo anterior foi abordado a crônica “Teatros”, de Francisco da Silveira Bueno, publicada na coluna Recordações de Atibaia, espaço que o autor mantinha no jornal O Atibaiense nos anos 1930.
Nascido em 1889, Silveira Bueno mudou-se com a família para Atibaia ainda menino, vindo de Campo Largo (atual Jarinu), quando o município ainda era distrito de Atibaia. O Teatrinho do Mercado, portanto, exerceu forte influência em sua formação. Na crônica mencionada, ele recorda a transição no cenário teatral da época, marcada pelo fechamento do Teatrinho do Mercado em 1915 e pela inauguração de um novo espaço para as artes cênicas de Atibaia, o Pavilhão Recreio Cinema, que passou a ter dupla função, de cinema e teatro.
Na crônica, a inevitável associação: (…) Mas, subiu o pano e vieram os atores. Ah! – suspirou minha alma – nem tudo é estranho aqui! Pisa naquele tablado alguém que no outro já pisava; e em torno da figura esguia do ator, vi surgir tanta gente nossa que anda longe dessa terra e de outras que, na multidão de espectadores, haveriam de esmar comigo por esse mundo além, de reminiscências que doíam. O tempo havia diminuído no corpo do ator a vivacidade das comédias idas – era o mesmo indivíduo, mas, não era o mesmo artista de outrora – parecia-me até que o meu cismar houvesse influenciado na atitude cômica e ele também, do alto daquele palco avistasse lá embaixo, o antigo “Carlos Gomes” e se entristecesse (…). Saí de mim próprio, vi recuar o proscênio para muito longe, vi se agitarem os barretes brancos dos músicos, transformarem-se em cabeças grisalhas minhas amigas e o professor Bastos surgiu, regendo uma orquestra completa, onde violinos gementes, onde as flautas veladas punham mágoas no ar. Pinturas surgiram e as palmeiras curvas que Momo desenhara no proscênio de outrora, avançavam solenes, brilhando aos focos de luz a cor ouro fulvo dos desertos em que nasceram”.
O texto do professor Francisco da Silveira Bueno ganha beleza se esclarecido certas referencias presente na história cultural do município. Como mencionado no artigo anterior, o Carlos Gomes foi um grupo teatral formado pelo casal Nieves e Alexandre Paganelli, que teve grande importância para o teatro local no início do século XX.Os barretes, citados na crônica, eram instrumentos usados antigamente pelos maestros para indicar o tempo da música – uma espécie de cajado que era batido no chão para marcar o ritmo.
Já o professor Bastos, também mencionado no texto, foi um dos músicos responsáveis pela orquestra que acompanhava as apresentações teatrais na fase inicial do Teatrinho do Mercado. Outro maestro que exerceu essa função foi Juvêncio Fonseca. Ambos desempenharam papéis fundamentais na formação musical da época. Por fim, as “palmeiras de Momo” fazem referência a Jeronymo Momo, artista plástico que chegou a Atibaia no início do século XX e aqui permaneceu.
Foi ele quem pintou as famosas palmeiras no proscênio do Teatrinho do Mercado. Além de pintar cenários, Momo esteve envolvido em diversas funções do teatro, contribuindo também para o carnaval (construindo carros alegóricos), para a igreja (pintando imagens sagras nas paredes) e outros espaços que necessitassem de seu talento como artista. A crônica de Francisco da Silveira Bueno, mais que revelar a importância do teatro na formação do nosso histórico cultural, revela o primor literário de um de nossos maiores escritores.