Estudo mostra que 34% dos idosos têm depressão e 16% sofrem de solidão

Assim como outros fatores com efeitos já bem estabelecidos, como a obesidade e o tabagismo, a solidão é um fator de risco para mortalidade prematura.

Na foto O conselheiro Augusto Luppi, durante reunião na Câmara

O Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil) é conduzido em amostra nacionalmente representativa de adultos com 50 anos ou mais residentes na comunidade. A primeira onda foi conduzida em 2015-16 e a segunda onda em 2019-21. A terceira onda ocorreu em 2023. Segundo os Cadernos de Saúde Público (Scielo Brasil, Scientific Electronic Library Online), o objetivo foi investigar a prevalência de solidão e suas associações com indicadores sociodemográficos e de saúde em amostra nacionalmente representativa de adultos e idosos brasileiros. Foram incluídos os participantes com informações completas nas variáveis de interesse. Solidão foi a variável para a qual se utilizou a pergunta “Com que frequência o(a) senhor(a) se sentiu sozinho(a) ou solitário(a): sempre, algumas vezes ou nunca?”.

 

 

As variáveis independentes compreenderam indicadores sociodemográficos e comportamentos e condições de saúde. A prevalência de sempre sentir solidão foi de 16,8%; de algumas vezes, 31,7%; e de nunca, 51,5%. Dado seu potencial de prejuízo à qualidade de vida, é necessário conhecer longitudinalmente as trajetórias da solidão e as variáveis associadas e usar esse conhecimento para o delineamento de políticas públicas e intervenções em saúde que poderão beneficiar o bem-estar biopsicossocial de adultos e idosos brasileiros.
Assim como outros fatores com efeitos já bem estabelecidos, como a obesidade e o tabagismo, a solidão é um fator de risco para mortalidade prematura. Está associada à autoavaliação de saúde negativa, um indicador confiável do estado de saúde física e preditor robusto de morbimortalidade em idosos. É bem conhecida a relação entre solidão e problemas de saúde mental, como pior qualidade do sono e depressão. A associação entre solidão e condições de saúde é complexa, mas pode ser explicada por mecanismos fisiológicos e psicológicos e pela relação com comportamentos nocivos à saúde, como sedentarismo, dietas não saudáveis, tabagismo e etilismo.

SENTIMENTO NEGATIVO
Na reunião de agosto do Conselho do Idoso, no plenário da Câmara de Atibaia, o conselheiro Augusto Luppi abordou o estudo e destacou: um terço ou 34% dos idosos têm sintomas de depressão e 16% se sentem solitários. “A solidão está mais associada às mulheres que relatam má qualidade de sono, aliada a uma autoavaliação de má saúde. Quando a solidão se manifesta, os sintomas de depressão chegam a dobrar. A pesquisa foi conduzida sem mencionar a palavra ‘depressão’ ao entrevistado, que a citaram espontaneamente e 36% se declararam depressivos”.
Luppi explicou que solidão, ou mesmo sentir-se sozinho, é segundo a geriatria “um sentimento negativo e doloroso, quase sempre subjetivo e que acontece quando a pessoa espera receber mais de suas relações sociais e, recebendo menos, fica insatisfeita. “Não é porque uma pessoa vive sozinha ou mesmo com poucas relações sociais, é que irá necessariamente se sentir solitária. Sabem-se que algumas, mesmo casadas, tendo amigos e trabalhando, sentem-se solitárias”.

FALTA DE OPÇÃO
Na maioria das vezes, o idoso mora sozinho por falta de opção, o que acaba se refletindo em outros comportamentos. No Brasil, são poucos os idosos que moram sozinhos por convicção ou por terem condições de se manter, por terem saúde ou porque se sentem confortáveis e querem estar sozinhos, curtindo saudavelmente a solidão. “Para esse grupo, ao contrário da maioria, o fato de morar sozinho leva a um isolamento social e se transforma em fator de alto risco. Sabemos, no Conselho, que muitos idosos que nos procuram relatando maus-tratos e abandono pelo família, via de regra o foram por seus próprios comportamentos, como atestam membros da família quando chamados a depor”.
A geriatria se preocupa com esses idosos que, sem motivação, não buscam a prática de esportes, as atividades sociais e de lazer, a alimentação saudável. “Pessoas deprimidas e solitárias tendem a ter desfechos negativos de saúde, morrem mais, morrem mais cedo, têm mais fragilidades e mais perda funcional”, concluiu Augusto Luppi.