O segundo cinema de Atibaia

Márcio Zago

A partir do dia 16 de agosto de 1913 a cidade passou a ter dois cinemas. O primeiro foi o Pavilhão Recreio Cinema, do empresário Deoclides Freire. Agora, com a inauguração do Palace Theatre, dois cinemas passaram a disputar o escasso público atibaiano. Até essa data o Palace Theatre funcionava provisoriamente no Teatrinho do Mercado, com o nome de Popular Cinema. A nova casa de espetáculos, segundo seu proprietário Hilário de Vasconcelos, comportava 650 pessoas na plateia e 100 na galeria, além de possuir26 camarotes. Sobre sua inauguração o jornal “O Atibaiense” publicou: “Revestiu-se de grande brilho a inauguração desta nova casa de diversões sita a Rua José Lucas. É um teatro verdadeiramente modesto, porém de construção elegante satisfazendo plenamente a todas as condições de higiene e conforto.

Dispõe de um bom palco, de uma espaçosa plateia, além de uma vasta ordem de camarotes e balcões. Num amplo salão de espera foi colocado um bem montado buffet. A casa estava literalmente cheia. Vimos lá os mais belos ornamentos da nossa sociedade elegante, onde o bom gosto e o luxo das toilettes estavam em plena harmonia com a beleza e elegância natural do nosso belo sexo. Em resumo o Palace ficará sendo doravante um excelente centro de diversões capaz de satisfazer a todas as exigências do público”. Ainda segundo o Atibaiense a inauguração contou com a banda musical Lyra Atibaiense, mas teve um atraso de quase uma hora na exibição da primeira fita em razão dos “desarranjos” na instalação elétrica (uma constante na época). Na matéria do jornal havia grande evidencia para o fato de o edifício possuir ventiladores naturais em virtude de sua arquitetura, fato que eliminava a necessidade dos ventiladores elétricos (ventiladores elétricos era o grande destaque do Pavilhão Recreio Cinema). Não há informação sobre o primeiro filme exibido, mas para manter-se em evidência, o Palace Theatretrouxe para Atibaia, um pouco depois de sua inauguração, uma fita que fazia bastante sucesso na capital intitulada Branco contra Preto. Não se tratava de um filme ligado à questão racial, como sugere o nome, e sim de aventura: “no decorrer deste magnífico filme de grande metragem e enredo emocionante, vemos entrar em cena grande número de autos, colisão de comboio, acidentes a bordo e em aeróstatos (balões), além de um amistosíssimo match de box”. Seu protagonista era o afamado ator italiano Alberto Capozzi, um astro do cinema mudo. Para divulgar sua estreia Hilário de Vasconcelos utilizou de todos os recursos que dispunha: De um imenso painel fixado em frente ao cinema até a publicação no jornal de um poema/reclame de nome “Bravo”.

Na frente o Palace Theatre
Que a pouco foi inaugurado
Tem um branco contra um preto
Do tamanho exagerado…

Esta fita é muito boa
Disse alguém, que por sinal.
Assistiu outro dia
Quando foi a capital.

Ora bem, diz-me uma coisa.
Responde e seja muito franco,
Qual dos dois é vencedor
Será o preto ou será o branco?

Não assisti, estou brincando.
E não posso adivinhar,
Mas logo que é do Palace
Sucesso pode afirmar.

Ora vá plantar batatas
Não me fales tão atoa
Quem não sabe que o Palace
Exibe somente fita boa?

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.