Como potencializar as oportunidades de negócios em áreas periféricas

O jornal Valor Econômico e a revista Forbes destacaram essa movimentação, apontando que o desenvolvimento da favela depende de investimento externo e os investidores precisam se conectar com quem faz e cumpre para que eles possam investir cada vez mais. Imagem Ilustrativa

Wagner Casemiro

As áreas periféricas ainda enfrentam o estigma da pobreza, mas empreendedores, com linguagem e conexões com a economia da inovação e da tecnologia, estão transformando essa realidade. No primeiro artigo de fevereiro, abordamos aspectos desse movimento que transforma a realidade social e aponta para caminho de equilíbrio perante as desigualdades do país. Falamos de Celso Athayde, que criou holding de empresas em parceria com favelas. Seu trabalho chegou ao Fórum Econômico Mundial e foi premiado. “Quando criei a frase ‘favela não é carência, favela é potência’, que hoje é repetida por muitos que se inspiram em nosso trabalho, eu fiz como reconhecimento na força de produção e capacidade de realização de muitos favelados que fazem acontecer. São com essas pessoas que divido esse reconhecimento”.
O jornal Valor Econômico e a revista Forbes destacaram essa movimentação, apontando que o desenvolvimento da favela depende de investimento externo e os investidores precisam se conectar com quem faz e cumpre para que eles possam investir cada vez mais. O primeiro passo é abandonar o discurso de carência ou escassez e mostrar o quanto é possível produzir. O Jornal de Negócios do Sebrae-SP também trouxe artigo nesta direção. “O empreendedorismo é um fator muito importante de inclusão nas comunidades”, disse Gilson Rodrigues, do G10 Favelas e CEO do G10 Bank, referindo-se à realidade dos pequenos negócios na periferia.
Se empreender, por si só, já traz muitos desafios, o empreendedor da favela enfrenta dificuldades extras, como falta de estrutura e preconceito. Para apoiar esses pequenos negócios, o Sebrae-SP inaugurou, em maio do ano passado, um posto do Sebrae Aqui em Paraisópolis, na Capital paulista, disponibilizando atendimento presencial, cursos e orientações sobre gestão. A segunda maior favela de São Paulo e quinta maior do Brasil pode ser comparada a um município, já que abriga cerca de 100 mil habitantes, empreendimentos de diversos tipos, escolas, agências bancárias e unidades de saúde.
O G10 Favelas é um bloco de líderes e empreendedores criado em 2019 para fortalecer iniciativas de impacto social nas comunidades do país, explicou Gilson. “Buscamos sempre mostrar o potencial das favelas, que juntas movimentam bilhões de reais por ano. Essa iniciativa faz alusão ao G20, bloco econômico dos países mais ricos do mundo. Com isso, criamos um olhar sobre a favela, como favelas ricas e grandes potências, onde o empreendedorismo faz com que a economia seja potente nas comunidades, possibilitando que o dinheiro circule nesses territórios e, consequentemente, gere mais empregos e renda. Com a chegada da pandemia, criamos 12 iniciativas humanitárias por meio do Comitê das Favelas – Presidentes de Rua com intuito de minimizar os efeitos negativos do coronavírus nas comunidades do Brasil. Já impactamos milhares de pessoas levando alimentos, entre outras iniciativas”.
“Quando uma pessoa começa a empreender e tem retorno financeiro, ela consegue ter poder aquisitivo e acesso a bens e serviços que antes não tinha. Consequentemente, ela precisa adquirir mais conhecimento para fortalecer o seu negócio e ter condições para continuar empreendendo. Recentemente, o G10 Favelas criou o G10 Hub – Acelerador de Negócios, que conta com iniciativas de inovação, educação, microcrédito por meio do G10 Bank, desenvolvimento e sustentabilidade”, acrescentou. Segundo o site Catraca Livre, “em países subdesenvolvidos, o improviso sempre foi necessário como questão básica de sobrevivência. Com o tempo, as chances de transformar ideias, mesmo que simples, em negócios rentáveis se tornaram mais abrangentes, sofisticadas e acessíveis, indo dos grandes centros urbanos às periferias. Mais do que estimativa, os dados mostram que empreender na favela ainda é um desafio, mas não é impossível”.

* Wagner Casemiro é Secretário Municipal de Habitação de Atibaia, Professor Universitário Especialista em Administração, Contabilidade e Economia e Representante do CRA – Conselho Regional de Administração Atibaia.