Exposição reviveu a história do Museu Madre Paulina

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Atibaia, abrigou o Museu dos Escravos Madre Paulina, que ficava no piso superior da capela e foi inaugurado em 2004. A iniciativa foi do Padre Eugênio Luiz Berti, responsável pela paróquia na época, iniciando acervo formado por peças e utensílios utilizados pelos negros no período da escravidão. Esse projeto foi revivido pela exposição Fragmentos, aberta em agosto e organizada pela Secretaria Municipal de Cultura no Centro Cultural André Carneiro.
A proposta do museu, inaugurado com a presença de autoridades e do presidente da Associação Comercial Silvio Pais, foi recolher relíquias como os objetos usados para cozinhar, correntes e exemplos de telhas de coxa, que as escravas fabricavam em barro moldando uma a uma. A Igreja do Rosário foi construída em 1763 pelos escravos impedidos de frequentar a Igreja São João Batista (Matriz), onde apenas os brancos podiam entrar. Teve como engenheiro Baltazar de Godoy Camargo e passou por várias reformas até chegar à arquitetura atual.

FALTA DE VOLUNTÁRIOS
Por falta de voluntários na paróquia, o Museu Madre Paulina permaneceu fechado durante um bom tempo. A coleção ficou um pouco mais esquecida com a transferência do padre Eugênio Bertti para outra paróquia, em Itatiba, em 2017. Padre Eugênio, nascido em Caieiras em 1962, chegou em Atibaia em 2000, depois de atuar em paróquia de Franco da Rocha. Ele marcou sua presença aqui pelo respeito às tradições culturais do povo, como as Congadas.
Uma história curiosa ligada ao museu se refere à escultura de Madre Paulina, criada pelo artista plástico Peter Grey. Em um diário da produção, que a jornalista CelitaStamatiu fez chegar à redação do jornal O Atibaiense, ele conta o passo a passo da jornada. A ideia da imagem em argila contou com o Lions Clube de Atibaia, presidido entre 2002 e 2003 por Cristina Xavier. O artista, que morava em Mauá, fez inicialmente esboços em papel e desenhos em crayon, estudou a história da madre desde a Itália e experimentou descobertas ao longo do trabalho.

BRAÇO PENDURADO
Depois de várias fases, modelando o material, a figura chegou à altura de 80 cm. Mas Frey viu que a esultura começou a envergar. Na mesma noite, sonhou com Madre Paulina, que tinha feições italianas, lembrando as mulheres italianas. Em outro sonho, a santa o incentivou a continuar o trabalho. Quando estava fazendo o braço direito, o artista percebeu que não conseguia dar o ângulo “correto”. O braço voltava sempre a ficar pendurado e isso continuou até o acabamento final da imagem.
O braço da santa permanecia estendido. “Procurei na história dela e constatei que realmente havia um problema sério naquele mesmo braço; resolvi então não mexer”, confessou o artista. Para Celita, ele disse que foi uma grande experiência de fé. Frey foi criado na religião luterana, em que os santos não têm a mesma importância do catolicismo. Correndo com a história, que merece acréscimos e novas interpretações, houve a entrega da santa, que foi acompanhada nas páginas do jornal O Atibaiense.
A informação é de que o Museu Madre Paulina será administrado pelo coletivo Negra Visão, como passo na preservação da memória e da cultura negra em Atibaia.