Boa notícia ajuda a enfrentar o medo da morte na pandemia

Luiz Gonzaga Neto

Todo mundo sabe do impacto das notícias más, aquelas que expõem os podres do mundo. Mas precisamos lembrar também das boas notícias, que neste momento de pandemia nos ajudam a enfrentar o medo da morte.
Nos últimos meses, o Jornal da USP tem me auxiliado neste alívio dos traumas. Um exemplo foi o artigo escrito por Diogo Meyer, professor do Instituto de Biociências da USP, sob o título “Com a evolução não se brinca”, para o “Darwinianas: A Ciência em Movimento”, blog dedicado à popularização da ciência.
Na abertura do texto, ele afirma: “O material genético do coronavírus que hoje circula pelo mundo causando a covid tem várias diferenças em relação àquele que começou a se espalhar no final de 2019. Essa transformação resulta de mutações, que são erros que ocorrem quando o material genético é copiado. Algumas das mutações que surgiram se tornaram comuns. As linhagens do coronavírus são definidas pela combinação de mutações que acumularam. A mudança na composição genética de uma espécie ao longo do tempo é uma forma de definir a evolução. Assim como outros seres vivos, o vírus evolui”.
Segundo Meyer, vírus em geral, e com o coronavírus não é diferente, sofrem seleção natural constantemente. “A seleção explica o aumento de frequência de mutações que os tornam capazes de resistir a drogas antivirais, de resistir a anticorpos gerados pela imunidade natural e à imunidade induzida pela vacina, ou de apresentar maior potencial de infecção. Os vírus evoluem, e a evolução por seleção natural torna-os capazes de burlar nossas defesas”.
“Controlar a disseminação do vírus – por isolamento físico, pela vacinação extensa e rápida— irá reduzir o número de cópias de vírus circulando, encurralando o vírus, no sentido de diminuir seus números a ponto de tornar mais improvável que sejam originadas, por mutação, formas resistentes. Se essas linhagens surgem num ambiente em que há uma fração pequena da população vacinada, a exposição dessas variantes às vacinas cria uma condição em que pode haver seleção favorecendo a disseminação de linhagens resistentes. Dessa forma, um processo de vacinação lento tem o potencial de favorecer o surgimento de linhagens resistentes: a baixa vacinação não diminui a população viral, permitindo que surjam mutantes, e expõe as novas mutantes à seleção pelos indivíduos vacinados. Uma vacinação rápida e em massa diminuiria os riscos de surgimento de formas resistentes”, explicou .
Para o professor, outro cenário preocupante é o da infecção de pessoas imunocomprometidas com o coronavírus. Nelas, o vírus persiste por muito tempo e, na ausência de defesas eficazes, sua proliferação pode ser extensa, gerando muitas novas variantes. Estudo recente mostrou que, num homem com uma história de imunossupressão, o vírus gerou linhagens resistentes aos anticorpos com os quais ele vinha sendo tratado. Nesse caso, a evolução do vírus ocorreu dentro de uma pessoa. Proteger pessoas imunocomprometidas seria, portanto, uma forma de proteger não só a saúde delas, mas também uma forma de reduzir as chances de surgirem linhagens com adaptações a drogas ou vacinas.
Concluindo: “Vírus evoluem. Para enfrentá-los, precisamos evitar que encontrem condições favoráveis para que surjam linhagens novas e perigosas, e que elas proliferem. Em termos práticos, sabemos o que fazer: tomar atitudes para diminuir a quantidade de vírus circulando, realizar a vacinação de modo ágil e em massa, e monitorar o surgimento de novas linhagens, para sabermos como o vírus está evoluindo. Essas são nossas estratégias. O vírus, de seu lado, conta com a evolução. E com a evolução não se brinca”.

* Luiz Gonzaga Neto é jornalista, analista em comunicação da Câmara de Atibaia e blogueiro, autor de brincantedeletras.wordpress.com. Esta coluna pode ser lida também no site do jornal O Atibaiense – www.oatibaiense.com.br.