Pais e filhos: amizade, superproteção e autoritarismo

Por Luiz Gonzaga Neto

Não sei vocês, mas sempre procurei evitar o autoritarismo em família. Até porque quem manda mesmo é a mãe. Em alguns momentos, tentei “controlar” a vida das minhas filhas, mas percebi sempre que isso não daria certo. Quando adolescentes, elas voaram para o mundo e só na amizade foi possível manter o diálogo. Com a mais nova, tive momentos de superproteção. A mais velha sempre foi mais livre e decidida a realizar suas próprias experiências.
O tempo passou, mas a relação entre pais e filhos continua uma questão importante para a socidade como um todo, incluindo professores, psicólogos, chefes e subalternos. De acordo com a psicóloga Fernanda Kimie Mishima, ouvida pelo Jornal da USP, é necessário autoconhecimento e autoconfiança dos pais no entendimento de seus próprios limites para construir uma relação saudável com os filhos. É preciso que o amor e o respeito prevaleçam.
Sim, com amor você tolera a negatividade dos filhos e eles conseguem tolerar a nossa. Responsável pelo Serviço de Triagem e Atendimento Infantil e Familiar (Staif) do Centro de Pesquisa e Psicologia Aplicada (CPA) da USP, em Ribeirão Preto, Fernanda, entrevistada por Vitória Perri, conta que a dificuldade de dialogar e o receio de não ter autoridade e ser manipulado pelos filhos fazem alguns pais serem autoritários, impositivos em suas opiniões, negligenciando pensamentos e interesses dos filhos. Dessa forma, segundo a psicóloga, os filhos se sentem “pouco amados e pouco compreendidos, inseguros, com medo de se expressar e, enquanto crianças, inibidos da curiosidade e do aprender”.
O autoritarismo impede o jovem de compartilhar acontecimentos de sua vida pessoal com os pais. Segundo a psicóloga, diante do autoritarismo dos pais, os filhos entendem que não podem ser eles mesmos. Por isso, é preciso que os pais ouçam os diferentes questionamentos dos filhos e procurem compreendê-los, sem impor suas próprias ideias. Por outro lado, a superproteção também é nociva para a relação e para o desenvolvimento dos filhos. Fernanda afirma que o comportamento prejudica o amadurecimento da relação entre pais e filhos, além de impedir os pais de confiarem na capacidade dos filhos.
Para Fernanda, dizer “eu superprotejo meu filho porque ele não pode ter frustração, ele não pode saber que há limites” confunde a mente da criança, “que passa a acreditar que pode tudo e suas vontades devem ser sempre respeitadas porque são as corretas”. A superproteção “falseia o amor” e mascara o “verdadeiro sentimento de gostar de alguém”. Garante ser este um comportamento que engana pais e filhos.
“Não dar limites e não frustrar é um amor cruel e muito enganoso”, afirmou, dizendo que os pais devem, ao contrário, mostrar aos filhos que “nós todos temos limites e não podemos tudo, não sabemos tudo”. A psicóloga assegura que, ao admitir esses limites, os pais ajudam a libertar os filhos “da onipotência de serem os melhores e de acharem que são melhores em tudo”. Aprendi a lição – e na prática – mas acho que errei também com meu neto. Coisas da vida!