A importância dos Clubs na cidade

A partir do teatro surgiu o interesse para outras atividades culturais como o carnaval, a música e as festas dançantes, justificando a criação formal da “Sociedade Recreativa Carlos Gomes”, em 1903.

Márcio Zago*

Na primeira década do século XX a elite local passou a se organizar de maneira formal através de clubes e associações, visando ampliar as relações sociais e culturais da comunidade. Um pouco antes, no final do século XIX surgiu o “Club Recreativo Atibaiano”, em 1897. Em 1902 os imigrantes italianos fundaram no município a “Sociedade Italiana do Mútuo Socorro”.Mesmo ano em que artistas locais criaram o “Grupo Dramático Carlos Gomes”. A partir do teatro surgiu o interesse para outras atividades culturais como o carnaval, a música e as festas dançantes, justificando a criação formal da “Sociedade Recreativa Carlos Gomes”, em 1903. Nessa época foi ventilado, pelas páginas do jornal “O Atibaiense”,a criação do “Club Diversivo dos Operários”.

A matéria informava que a sede seria num sobrado pertencente ao coronel Lourenço Franco, na Rua José Alvim. No ano seguinte as noticias sobre o “Club dos Operários”eramrelativosà cobrança feita pelo tesoureiro Basílio de Oliveira Cunha, anunciando o não pagamento das mensalidades por parte dos associados. Meses depois nova matéria assinada como “Muitos Sócios”,que cobrava da antiga diretoria o paradeiro dos recursos pagos pelos associados. A resposta veio do Sr. José Franco da Silveira, um dos membros da diretoria, que exigia o recibo de pagamento dos reclamantes, caso contrário, não responderia as “insinuações maldosas acobertadas pelo vil anonimato”. Estava encerrado o “Club Diversivo dos Operários”… Sem mesmo ter começado. A curiosidade é que a maioria destas agremiações utilizavam Club, e não Clube como conhecemos hoje. O termo estava em voga na época, ganhando a simpatia popular e utilizada, muitas vezes, fora de seu contexto e significado. “O Atibaiense” chegou a publicar uma longa matéria sobre o tema, tratando da palavra, desde sua origem até sua utilização… Mas não teve jeito.

Quando o Honoratinho, um sapateiro da Rua José Lucas, anunciou o “Primeiro Club Atibaiense de Calçados Finos”, a coluna “De Palanque”, publicado semanalmente no jornal não perdoou: “Sempre quis saber que diabo entenderá o bondoso sapateiro pela palavra “Club”. Se a moda pega daqui a dias teremos nesta terra coisas bem apreciáveis. O Zé Camilo, que mora quase defronte porá à venda um enorme letreiro com estes belos dizeres: “Grande Club Atibaiano de Secos e Molhados”. O João Cerro anunciará pomposamente um “Club da Ferramenta”, o Rinaldi porá uma tabuleta em que se lerá “Grandioso Club da Raspação”, o Palhares, que se mudou para o largo da Matriz trocará o velho dístico Hotel Palhares para outro mais apetitoso: “Club da Papança”…”.

Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.