INDEPENDÊNCIA OU MORTE – parte II

III – Dom Pedro I

Fiquei ouvindo aquela simpática professora, bem alta, de pele clara e olhos azuis, falar de toda as providências que ela já tinha tomado para que “D. Pedro” participasse do desfile de sete de setembro, nas ruas do centro de Atibaia.
Dona Dirce continuou a falar:
― Já sei inclusive onde alugar a roupa do D. Pedro, para você vestir. É numa loja da Rua Direita, em São Paulo, cidade onde eu moro.de onde venho quase todos os dias a Atibaia para dar aula. Sabe, Luiz Carlos –continuou ela – a roupa de D. Pedro é uma espécie dessas fardas de militar, sabe como é. Coisa muito chique. Uma camisa branca toda bordada com fios dourados. Uma barba bem preta, uma peruca, umas botas, além de uma faixa nas cores verde e amarelo que você deve colocar por todo o corpo, igual a essas que um presidente da república usa quando toma posse do governo. Com tudo isso e com essa estatura que Deus lhe deu, você vai ficar um D. Pedro para ninguém botar defeito. Amanhã eu vou te dizer quando vai ser o ensaio. A gente vai ensaiar aqui mesmo no pátio do nosso colégio. E você será instruído direitinho, para saber como desfilar.
Depois, ela parou de falar por alguns segundos e, entusiasmada, falou mais alto:

Terceira parte – O Cavalo
― Ah…, agora uma outra surpresa. D. Pedro vai desfilar montado num cavalo.
Vamos emprestá-lo de uma estrebaria que tem aqui perto, na Rua Treze de Maio. Ele é maravilhoso. É todo branco e bem mansinho, igualzinho o cavalo que D. Pedro cavalgava quando proclamou a independência do Brasil. Você vai adorá-lo.
Em seguida, ela perguntou:
― Você já andou de cavalo alguma vez, Luiz Carlos?
Eu respondi que nunca e ela me disse então para não me preocupar com isso porque ela ia contratar um senhor que lida com cavalos para me instruir como cavalgar.
Depois, olhando bem nos fundos dos meus olhos, me disse:
— Você é um menino inteligente e vai se desincumbir bem nessa tarefa que estou lhe propondo. Tenho certeza. Quer saber de uma coisa?Acho que escolhi o aluno ideal para ser D. Pedro. Além disso, até que você tem meio jeito dele. É alto. O porte físico é bem parecido.
Como Latim era a minha última aula, naquele dia, depois que acabei de conversar com Dona Dirce, o expediente no colégio já tinha se encerrado, e eu fui para casa.Quando cheguei em casa, contei aquela grande novidade para meus irmãos e meus pais e eles adoraram aquela ideia de eu sair de D. Pedro no desfile do dia da Independência.
Uns quatro dias depois, Dona Dirce me chamou novamente, agora para o ensaio. Encontramo-nos no pátio do colégio e ela entregou-me uma sacola preta que continha a roupa de D. Pedro e tudo que eu ia precisar. No pátio do colégio fui apresentado pela professora a um senhor moreno bem robusto que se chamava Lamartine e acabara de trazer o cavalo para o colégio e logo começou a me instruir como cavalgar: montar no cavalo, descer do cavalo, tudo isso com facilidade. Seu Lamartine ensinou me também como manejar o chicote. Serve para dar umas batidas no traseiro do cavalo, como disse ele, quando ele não me obedecer.
Passaram-se uns dias e chegou o dia do desfile. Com a sacola preta, que a Dona Dirce me passou, nas mãos, fui ao banheiro do colégio para trocar de roupa. De roupa trocada me olhei no espelho e me senti ridículo quando vi a imagem de “D. Pedro” no espelho. . Depois voltei para o pátio onde estava a professora.Láa professora me orientou para montar no cavalo a partir daquele momento. Falou que a gente ia naquele instante para o Largo do Rosário, bem em frente à igreja de onde ia partir o desfile.
Lá Dona Dirce explicou o trajeto do desfile para mim. Disse que ia sair daquela praça e seguir por toda a Rua José Alvim. Depois no final dessa rua, ia virar à esquerda, passar por trás da igreja e dirigir-se ao Largo da Matriz. Ela finalizou sua explicação me dando a seguinte instrução: em frente à igreja da Matriz: o desfile vai dar uma parada de uns cinco minutos e nesse momento eu tinha que gritar Independência ou morte.

III Odesfile
Começou o desfile. Marchamos ao som da maravilhosa fanfarra, do colégio comandada com tanta competência por um colega do curso colegial chamado Luiz Antonio, o Totonho, rumo ao largo da Matriz pela Rua José Alvim. Uns vinte minutos depois, já estávamos na praça. Já estava quase na hora de eu dar o famoso grito. Quando estava bem em frente da igreja, o desfile deu uma parada eu olhei para Dona Dirce e ela fez o sinal para eu gritar. Levantei a espada bem alto e gritei com muita veemência: :
─ Independência ou morte!
Depois do grito todo mundo me aplaudiu.Tanto os alunos que participavam do desfile quanto o público que assistia ao desfile. . De repente , após os aplausos, ouvi alguém me chamar:atrás de mim.
─ Luiz, Luiz, Luiz…
Olhei para trás para ver quem era. Achei que fosse D. Dirce para me falar alguma coisa importante. .
Vi então que não tinha nenhum cavalo, não tinha Dona Dirce, não tinha nenhum desfile onde eu estava. . Havia só uma cama onde eu estava dormindo no meu quarto lá na casa da rua Treze de Maio, em que eu morava.
Não era a voz de Dona Dirce que eu estava ouvindo, mas uma outravoz que eu muito bem conhecia. Ada minha mãe, Aparecida, acordando-me para eu ir à aula no colégio, que ia começar dentro de uma hora.

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