Nazaré Paulista: o paraíso das águas e da fé sob nova direção

Professora Guinha estreia como a primeira prefeita mulher na história da cidade. Após três décadas de magistério e um mandato de vereadora, ela assume seu novo cargo com o compromisso de “cuidar das pessoas”

Foto – DCSI/Prefeitura de Nazaré Paulista

 

Professora Guinha, prefeita de Nazaré Paulista

 

Nazaré Paulista, com o céu azul de anil todo espelhado na represa que a envolve, é seguramente uma das poucas cidades, das mais antigas do Estado de São Paulo, que tem o privilégio de ver o autor de seu hino – o maestro Nestor Avelino Pinheiro, 83 – à frente da banda que o executa em cerimônias públicas, como lá se viu em dezembro último na inauguração do novo paço municipal.

Situada no alto de uma colina, a mais de mil metros de altitude – e embelezada pela Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré em cujo entorno surgiu no século XVII –, a então Freguesia da Vila de Atibaia dela se emancipou em 1850, ganhando, assim, sua autonomia político-administrativa: com tal novo status, nasce aí a Vila de Nazareth, depois Município de Nazareth em 1906 e, finalmente, Nazaré Paulista em 1944.

Historicamente ligada, portanto, a Atibaia, Nazaré Paulista – cidade de 18,5 mil habitantes, adornada pelas fitas coloridas de sua Festa do Divino – entra para os anais da 16ª Zona Eleitoral (Atibaia, Bom Jesus dos Perdões e Nazaré Paulista) ao eleger pela primeira vez uma mulher para sua chefia política: em 6 de outubro de 2024 foi eleita, com expressivos 6.445 votos (58,57% dos votos válidos), a prefeita Avanilde Aparecida Gonzaga Canedo, a Professora Guinha (União Brasil).

Ela sucede ao prefeito Murilo Pinheiro (PSDB), jovem e competente engenheiro civil que administrou Nazaré por oito anos (2017/20 – 2021/24) deixando, com sentimento de dever cumprido, importante legado para a cidade: as contas públicas saneadas; a duplicação do orçamento anual; a indenização, pela Sabesp, de R$ 18 milhões por causa do alagamento, nos anos 1970, da área ocupada pela Represa Atibainha; e a mais visível de todas as obras: a nova, imponente e bem localizada sede da Prefeitura Municipal, um edifício de mais de 2.500 m2, com três pavimentos e amplo estacionamento bem na entrada da cidade (Rua João de Passos, 557), solenemente inaugurada em 21 de dezembro de 2024.

Ao tomar posse de seu novo cargo, a Professora Guinha – que o assume com o compromisso de “cuidar das pessoas” – rompe, portanto, longa tradição de 175 anos de domínio político masculino na história de Nazaré: desde 1850, quando o povo local pôde eleger seus mandatários, o Poder Executivo daquela cidade jamais foi exercido por uma mulher.

Afastadas da vida política nacional durante os primeiros 43 anos de República, as mulheres – que são hoje 52,4% do eleitorado brasileiro – somente puderam votar em 1932, com o primeiro Código Eleitoral. O direito de serem votadas, porém, e, com isso, a plenitude de seus direitos políticos, só veio em 1965, com a nova lei eleitoral.

Com essa faculdade, Nazaré elegeu em 1988 sua primeira vereadora: Maria Inês Pinheiro da Conceição (1989/92). Somente no ano 2000, todavia, uma mulher assume a presidência de sua Câmara Municipal: a vereadora Roberta dos Santos Tezoni.

Agora, despontando entre os municípios a ela coligados, Nazaré confia seu destino a uma filha sua: a Professora Guinha. Mulher de profunda fé cristã, nazareana, casada, mãe de três filhos e uma vida – retilínea – de dedicação ao trabalho, Guinha exerceu o magistério na rede pública de ensino durante quase três décadas. Em 2012 foi acometida por um câncer de mama. Curada, passou a ajudar as mulheres no diagnóstico precoce dessa doença e, à vista desse trabalho, foi eleita vereadora em 2020, cargo que exerceu entre 2021 e 2024.

Em 2022, na abertura do “Outubro Rosa”, ela viu nascer a Casa da Mulher Nazareana – unidade de saúde especializada nas áreas de ginecologia e psicologia, entre outras, e onde são realizados exames como ultrassom e Papanicolau. Desde sua criação, já foram atendidas mais de 4.800 mulheres e feitos mais de 3.600 exames.

Ao fim de seu mandato na Câmara de Vereadores – apoiada pelo então prefeito Murilo Pinheiro e unindo suas forças ao ex-prefeito Dr. Humberto Cruz (Republicanos), ele que também goza de grande estima na comunidade –, a Professora Guinha, animada pelo propósito de servir, submeteu seu nome à vontade popular, sendo eleita a primeira prefeita mulher de Nazaré Paulista.

Neta de José Guedes de Moraes Filho, bisavô do Dr. Rogério Correia Dias, juiz de Direito em Atibaia, Guinha trabalhou a seu lado – ambos adolescentes, operários numa pequenina “fábrica de costura” em Perdões nos anos 1982/83 –, tendo recebido das mãos de tal magistrado, em 13 de dezembro de 2024, o diploma que a habilitou a tomar posse no mais alto e dignificante cargo político de sua cidade natal: Nazaré Paulista, nascida, como as estrelas, para as alturas do céu: Duc in Altum.