Aprígio de Toledo e o teatro local

Além de seus dotes como jornalista e suas qualidades como advogado, que sempre defendeu a causa dos mais necessitados, sua fama era de ser o maior palestrante da região.

Márcio Zago

Em fevereiro de 1905 o Teatro Carlos Gomes, de Bragança Paulista, foi palco da première em português da peça “Margarida”, do industrial bragantino Adolfo Bertoloti. O drama, escrito e encenado originalmente em italiano,teve no papel do personagem Conde Ascânio Orsini a participação de Antônio José de Almeida, um dos mais atuantes integrantes do grupo de amadores teatrais de Atibaia.
Na semana seguinte a peça também foi encenada em Atibaia, no Teatrinho do Mercado. Na época Aprígio de Toledo mantinha estreita ligação com o teatro local produzindo com frequência artigos para o jornal “O Atibaiense”,onde comentava sobre as peças encenadas no município. Pela qualidade literária de seus apontamentos foi convidado pelo autor Adolfo Bertolotia fazer a crítica da peça “Margarida”. Aprígio de Toledo foi uma das pessoas mais respeitadas de seu tempo, reputação conquistada pelas inúmeras participações que teve em importantes acontecimentos sociais e políticos da época, sempre ao lado dos amigos Benedito de Almeida Bueno e Major Juvenal Alvim. Sem nunca ter exercido qualquer cargo público, sua opinião norteou boa parte dos acontecimentos que ocorreram entre 1890 a 1919, influindo na instalação do Grupo Escolar, na implantação da fabrica de tecidos, da luz elétrica, da rede de esgoto e se entregou de corpo e alma a causa humanitária durante o flagelo da gripe espanhola que se abateu sobre a cidade em 1918. De família podre, órfão muito cedo, sua formação se deu sozinha e incluía o conhecimento de vários idiomas que complementava sua vasta erudição.
Além de seus dotes como jornalista e suas qualidades como advogado, que sempre defendeu a causa dos mais necessitados, sua fama era de ser o maior palestrante da região, não por acaso era considerado o orador oficial de Atibaia. Suas qualidades como homem público foi devidamente registrado nos livros de histórias de Atibaia, principalmente na obra de João Batista Conti, que inseriu um comovente artigo escrito pelo amigo Dr. Afonso de Carvalho por ocasião de seu falecimento, em agosto de 1919.
Além desses predicados merece atenção especial sua atuação na área cultural.No teatro, sua paixão, integrou enquanto jovem uma trupe que percorreu vários estados brasileiros, ocasião em que vivenciou a realidade social do país. Desiludido, abandonou a trupe e ingressou num batalhão paulista durante a revolta federalista,defendendo seus ideais republicanos.Aprígio de Toledo pode ser considerado o primeiro crítico teatral de Atibaia e sua qualidade como literato ficou registrado no texto que escreveu para a peça “Margarida”. Sua força de argumentação impulsionou uma prolongada polêmica com o Doutor Vicente Guilherme, de Bragança Paulista, resultando em inúmeras resenhas. Foram doze artigos publicados na cidade vizinhapelo Doutor Vicente Guilherme (provavelmente no jornal “Cidade de Bragança”) e oito extensos artigos de Aprígio de Toledo publicados no jornal “O Atibaiense”, entre março e agosto de 1905. Nestes artigos ficou registrado seu profundo conhecimento sobre a cena teatral da época.
Aprígio de Toledo, mais que o nome de uma praça, é um personagem genuinamente atibaiano e integra uma das páginas mais interessantes da nossa história, mas seu nome permanece encoberto pela poeira do esquecimento a espera do sopro renovador de algum estudante ou pesquisador curioso. Mais que sua atuação social e política, precisamos conhecer outro aspecto de sua personalidade: sua influencia no histórico cultural do município.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.