Com crise hídrica, Atibaia corre risco de racionamento

“Ressaltamos que é o último recurso que lançaremos mão, visto que não é uma prática benéfica nem à população, tão pouco ao SAAE por inúmeros motivos”.

O Atibaiense – Da redação

A crise hídrica já era sentida em Atibaia, na poeira das ruas e estradas, mas a última semana foi de maior preocupação. Choveu nesta quinta, 9 de setembro, mas o final de semana passado foi complicado. No sábado, 4 de setembro, em decorrência da colisão de ônibus com poste de energia em frente à sede administrativa do SAAE, houve interrupção de cerca de duas horas na operação da Estação Central. Depois, na madrugada de domingo, 5 de setembro, uma das bombas da Estação de Captação do Rio Atibaia apresentou problemas e, para sua manutenção, as demais bombas foram desligadas e a captação, interrompida.
Resultado: cerca de 6 horas sem captação e tratamento de água. O reservatório central amanheceu sem nível para o abastecimento e teve de ser fechado após interligação ao sistema abastecido pelo Córrego do Onofre, levando à falta de água em toda a cidade. Sob tensão e pressão, o SAAE voltou a alertar o consumidor para o período seco em função do baixo índice pluviométrico, o que torna “fundamental o uso racional”.
Na semana passada, o Consórcio PCJ em seu Boletim sobre a Disponibilidade Hídrica confirmou cenários simulados pelos técnicos. A redução do armazenamento no Sistema Cantareira, importante manancial para a bacia e a Região Metropolitana de São Paulo, levaria os reservatórios em dezembro a apenas 20,20% de seu volume útil. Segundo o documento, as vazões de afluência estão em níveis muito similares aos verificados na crise hídrica de 2014, a pior ocorrência climática da série histórica.
As chuvas em 2021 seguem abaixo da média e, de acordo com a Nota Técnica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o trimestre de setembro a novembro apresentará volume total de chuvas entre 10 e 50 mm abaixo da média climatológica; em algumas cidades da região, até 100 mm menor. O Consórcio PCJ informou que a crise hídrica em 2022 pode ser mais complexa devido ao processo eleitoral, que tende a politizar assuntos estritamente técnicos, e recomendou que os municípios e empresas associados criem Grupos de Gestão de Crise Hídrica (GGCH), com o objetivo de iniciar os debates com diversos setores da sociedade para traçar ações e planos de contingenciamento para um possível e crescente agravamento da disponibilidade hídrica.
Além disso, a entidade voltou a recomendar medidas para ampliar a reserva de água e iniciar campanhas de sensibilização da comunidade sobre o uso eficiente da água. Entre essas ações, podem ser destacadas: obras para ampliação de reserva de água bruta ou tratada, plantios ciliares, desassoreamentos, preservação de mananciais, recarga do lençol freático, medidas essas, que garantam maior resiliência aos eventos extremos.O Sistema Adutor Regional das Bacias PCJ (SAR-PCJ) é um empreendimento de segurança hídrica associado às barragens Duas Pontes, em Amparo, e Pedreira, que distribuía a água desses barramentos para cidades além das calhas dos rios diretamente afetados por eles, ampliando o número de cidades atendidas, entre as quais Atibaia.
Diante da crise hídrica, O Atibaiense encaminhou diversas perguntas ao SAAE. Veja as respostas:

O Atibaiense – Não é a primeira vez que as bombas da Estação de Captação de Água do Rio Atibaia apresentam problemas. O equipamento é antigo? Como solucionar o problema de vez?
SAAE – Esclarecemos que o desabastecimento do final de semana passado não ocorreu por falta de manutenção preventiva ou corretiva, bem como pelo estado de conservação das bombas. Foi um fato isolado decorrente das quedas e oscilações de energia, devido ao acidente com o ônibus no sábado. O impacto das quedas e oscilações de energia provocou uma falha na resistência de uma vedação entre flanges, sendo necessário desligar o sistema por seis horas para manutenção, fato que causou a queda do nível do reservatório central, sendo necessário seu fechamento para a recuperação de todo o sistema de abastecimento.

O Atibaiense – Quanto tempo o SAAE tem de reserva de água potável? Horas? Dias?
SAAE – O SAAE possui vários reservatórios na cidade com tempos diferentes de reservação, baseados no consumo de cada local e nas normas sanitárias, razão da importância do uso consciente da água. No entanto, toda água produzida passa por um reservatório central antes de ser distribuída, cuja capacidade de reservação é de 4 milhões de litros e seu volume variável dependendo do consumo. Quando cheio, geralmente de madrugada devido à redução do consumo, sua capacidade de reservação é de cerca de 4 horas.

O Atibaiense – Com a crise hídrica que estamos enfrentando, Atibaia corre risco de racionamento?
SAAE – Importante esclarecer que a crise não se restringe a Atibaia, como é possível verificar no Boletim de Disponibilidade Hídrica Bacias PCJ Mês de Referência: agosto de 2021. Como em toda crise, existe o potencial de risco de racionamento ou da gestão da água disponível. Assim, levando em conta a disponibilidade do recurso, o comportamento de consumo e as possibilidades de transposição de redes para abastecimento, há sim a possibilidade de racionamento ou restrição de distribuição que, se necessário, com prévia e ampla divulgação, poderá ser implantado. Ressaltamos que é o último recurso que lançaremos mão, visto que não é uma prática benéfica nem à população, tão pouco ao SAAE por inúmeros motivos. Lembramos também sobre a importância da caixa d’água nas residências. Ela mantém a reservação mínima, sobretudo, quando há interrupção do abastecimento por manutenções que sejam programadas, preventivas ou emergenciais.

O Atibaiense – O nível do Rio Atibaia está baixo? Podemos ter problemas de racionamento?
SAAE – O Rio Atibaia hoje é um importante condutor de água bruta para o abastecimento de grande parte da Bacia do PCJ, principalmente Campinas, com mais de 1,5 milhão de habitantes. Mas tudo isso só é possível porque o Rio Atibaia é formado pela união do Cachoeira com Atibaia, saída das represas do Sistema Cantareira, que também abastece a região metropolitana de São Paulo. Dessa forma, o volume de água do Rio Atibaia é compartilhado com a bacia toda, mas sujeito ao volume reservado no Sistema Cantareira, também compartilhado por São Paulo. Assim, o volume disponível de água no Rio Atibaia depende deste sensível equilíbrio entre volume reservado, volume disponibilizado e volume utilizado, voltando novamente à necessidade do uso consciente da água. Quanto maior for a redução do consumo, maior será nossa reserva estratégica. Em contraponto, quanto mais for exigido deste sistema, mais próximo ficamos de um racionamento para compartilhar a única água ou volume disponível para toda a bacia, porque a água do Rio Atibaia não e só de Atibaia. É importante destacar que, com o intuito de amenizar os impactos decorrentes da redução da vazão do Córrego do Onofre, foi executada recentemente a interligação do Sistema Central ao Sistema Imperial/ Cerejeiras, ou seja, a água do Rio Atibaia também abastece essa região. Por esse motivo, novamente ressaltamos a importância do uso consciente da água.

O Atibaiense – O Córrego do Onofre já teve problemas recentemente. Como está a situação hoje?
SAAE – O Onofre é uma importante bacia municipal; nasce em nosso território e deságua no Rio Atibaia, ainda em nosso território. Assim, não há uso compartilhado da água com outro município, porém é necessário um olhar especial para este manancial nas ações de conservação, preservação, uso e ocupação do território e gestão ambiental. Por ter uma vazão menor, ele está sujeito mais intensamente à escassez hídrica, visto que sua vazão vem caindo muito desde 2020. Nossa outorga de captação é de 120 l/s. Houve dias em que a vazão total do córrego não passou de 45 l/s, inviabilizando a captação. Infelizmente, a oscilação de vazão tem sido cada vez mais frequente.

O Atibaiense – Quantos bairros da cidade ainda não recebem água tratada?
SAAE – Informamos que 11,71% da população total do município ainda não é atendida pelo sistema de abastecimento público de água.

O Atibaiense – Diante da crise hídrica que já se instalou no país, com preocupação técnica e política, o que o governo está planejando, com o SAAE e a Secretaria de Meio Ambiente? Há um plano elaborado de racionamento e campanha de economia no uso da água? Como estão as conversas com a Elektro na parte de iluminação?

SAAE – A crise hídrica afeta todo o setor produtivo e a energia elétrica é um grande fator limitante, visto que a produção e distribuição da água dependem totalmente da energia elétrica. Por isso, o racionamento do setor elétrico pode ser um fator motivador para qualquer ação de racionamento ou a restrição do abastecimento. Assim, considerando esta alta dependência, estamos em tratativas para alinhar ações que possam minimizar os impactos de uma eventual crise energética.