Benedito Calixto em Atibaia

Na época, o Padre Köhly requisitou ao ilustre visitante um trabalho artístico para ser colocado no altar-mor da igreja.

Márcio Zago

No dia 26 de março de 1911 Atibaia recebia a visita do já famoso pintor Benedito Calixto, acompanhado da esposa Antônia Leopoldina de Araújo e da filha Pedrina. A intenção da família era passar alguns dias na cidade em busca da cura para a filha que sofria de grave moléstia pulmonar. As águas medicinais e o clima serrano da cidade já eram famosos e muito indicados para casos de pneumonia.
Hospedados no Hotel Central, logo o pintor recebeu a visita do Padre Juvenal Köhly, que havia assumido recentemente as funções religiosas na cidade. De sólida formação intelectual, o Padre Köhly executava naquela época uma profunda remodelação física da igreja matriz, requisitando ao ilustre visitante um trabalho artístico para ser colocado no altar-mor. Dias depois o Presidente da Câmara Municipal, Major Juvenal Alvim, juntamente com Olegário Barreto, outro rico fazendeiro do município, também lançam mãos dos serviços do pintor. Desta vez a intenção era que o artista retratasse uma panorâmica da cidade para colocar em lugar de honra na Câmara Municipal (atual Museu Municipal João Batista Conti), localizada no Largo Alegre (hoje Praça Bento Paes). O trabalho foi pago com ajuda de outros cidadãos atibaianos de forma cotizada. No dia 30 de abril o quadro “Vista de Atibaia” estava pronto e foi exposto à apreciação pública.
Dias depois foi vez da tela “Batismo de Jesus” ocupar seu lugar de honra na igreja, onde permanece até hoje. Com o trabalho concluído Benedito Calixto se prepara para deixar a cidade. A cerimônia de despedida, após a missa solene, contou com a presença de autoridades locais e do povo, além da Banda União da Mocidade e do orador Aprígio de Toledo, que prestaram suas últimas homenagens ao pintor defronte ao Hotel onde a família se hospedava. Benedito Calixto deixou a cidade dia 14 de maio de 1911, com a filha totalmente recuperada. No breve tempo de permanência na cidade, além das citadas obras, o artista esboçou outras que mais tarde resultariam em trabalhos de igual qualidade. É o caso do segundo quadro “Vista Panorâmica de Atibaia”, pintado em 1919, além da pintura “Rio Atibaia”, executado sobre cartão. Ambos de colecionadores particulares. Deixou ainda “Santo Sudário”, em exposição na igreja matriz.
O trabalho”Vista de Atibaia” encontra-se em exposição no Museu Municipal João Batista Conti. Mais que quadros, o artista deixou histórias pelo município que entraram para o rol das lendas locais. É o caso da valsa “A pinturinha”, composta pelo musico atibaiano Benedito Estevão Peçanha, o Nitico, dedicada a sua grande paixão: a jovem Pedrina (a filha recuperada de Benedito Calixto). Outra história envolve a emblemática “Julinha”, que mantém ainda hoje um túmulo bastante frequentado no cemitério municipal, onde inúmeros devotos depositam suas esperanças por acreditar em seus dons divinos. Essa linda história diz que Julinha foi apaixonada pelo pintor. Paixão materializada num “santinho de papel” que estampa seu rosto. Quem olhar atentamente nos olhos da imagem verá o perfil de seu grande amor: o pintor Benedito Calixto.

Márcio Zago é artista plástico e artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”. É criador e curador da Semana André Carneiro.