A morte do maestro

Marcio Zago*

Em abril de 1011 a comunidade musical de Atibaia perdeu um promissor representante: o jovem compositor e maestro Arnaldo de Moura. Meses antes, em fevereiro de 1910, “O Atibaiense” recebia em sua redação a visitade uma comitiva da companhia circense Clementino, entre eleso músico Arnaldo de Moura. O Circo Clementino tinha acabado de se instalar na cidade e um mês depois partiu para Bragança Paulista, mas sem o talentoso músico que permaneceu na cidade até sua morte.
Natural de Coimbra, Portugal, Arnaldo de Moura veio ainda criança para o Brasil em companhia dos pais, fixando-se em Bebedouro-SP. Mais tarde transferiu-se para Barretos-SP, onde fundou e dirigiu uma folha. Mudou-se depois para São Miguel-PR, onde dirigiu uma banda musical e de lá passou por Atibaia, como integrante do Circo Clementino, aqui permanecendo como maestro da corporação musical “União da Mocidade”.
No dia 10 de abril de 1910 o jornal anunciava: “Para reger esta florescente filarmônica, foi contratado o insigne professor e maestro Arnaldo de Moura, o qual tomou posse e está ensaiando novas peças que serão no domingo próximo exibidos em concerto no coreto do Largo da Matriz. A União da Mocidade, com a entrada do maestro Moura, entrou em franco período de prosperidade, pois estamos certos que com o pessoal inteligente que conta a corporação e a maestria de seu regente, logo estará apta para exibir-se sem temor, perante qualquer das sumidades da divina arte de Enterpe”. Além de reger a banda União da Mocidade, o maestro passou a lecionar musica na residênciados interessados e também no Hotel Santa Cruz, onde se hospedava.
Fundou ainda a orquestra Santa Cecília, no Clube Recreativo Atibaiano. O talento do jovem músico despertou o entusiasmo da coletividade, mas a grande expectativa logo começou a se dissipar em razão de sua frágil saúde. Os cancelamentos das apresentações musicais tornavam-se cada vez mais frequentes, até o desfecho final.
Sua morte causou grande comoção na cidade, expresso em vários artigos publicados no jornal da época: “Repercutiu dolorosamente no seio da nossa sociedade atibaiense a triste e rude noticia do prematuro passamento do jovem maestro Arnaldo de Moura, que contava nesta cidade muitíssimos admiradores devido a seu irrepreensível trato e o seu robusto talento musical… A morte é inflexível e traiçoeira em seudesigno, veio colhê-lo em plena primavera da vida, quando dourados eram teus sonhos”.
Como compositor deixou valsas, mazurcas, marchas, dobrados, polcas, tango e a belíssima valsa de coreto “Ecos da Solidão”. Segundo Petrônius, que escrevia na época para o jornal “O Atibaiense”: “Ecos da Solidão, sua última composição, é sentimental e podemos dizê-lo, são os ternos queixumes da alma sofredora. Parece-nos que previa seu próximo fim”. Em sua missa de sétimo dia o maestro Pedro Hilário, importante músico da cidade, regeu a melancólica marcha “Memória de Arnaldo de Moura”, de sua autoria. E como última homenagem ao maestro recém-falecido ficou exposta na vitrina da Casa Gerab um retrato em crayon, assinado pelo amigo Calixto Rinaldi. Arnaldo de Moura foi um dos inúmeros artistas que muito contribuiu para a formação da identidade cultural de Atibaia. Infelizmente,ainda hoje,muitos deles permanecem soterrados na poeira do abandono, do desinteresse e do descaso que mantemos pela própria história.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.