De acordo com especialistas, fatores culturais, econômicos e sociais explicariam esse declínio do interesse dos jovens por possuírem sua habilitação e a optarem muitas vezes pelo uso de aplicativos, do transporte coletivo, ou mesmo de outros veículos, como a bicicleta.
José Montal, diretor da Associação Brasileira de Medicina do Trabalho (Abramet), afirma que alterações culturais e comportamentais tiraram do automóvel o apelo que o tornou objeto do desejo de várias gerações de jovens que chegavam na idade em que podiam se habilitar como motorista. Segundo ele, o conceito que os jovens tem hoje do transporte leva mais em conta a questão da mobilidade, muitas vezes privilegiando outros modais mais saudáveis, como a bicicleta e mesmo o pedestrianismo.
Para Márcia Menezes, diretora-executiva da Federação Nacional das Cooperativas de Trabalho dos Médicos e Psicólogos Peritos de Trânsito (Fenactran), vários fatores explicam o interesse decrescente dos jovens em se habilitar, entre eles se destaca o preço do carro e os custos para sua manutenção. “Muitos optam por aplicativos de uso temporário. Mudou também a representação social sobre veículos, vistos como essenciais pelos mais velhos, acostumados a enxergar no carro um símbolo de independência, conquistas e poder”, explica Márcia.
A professora Carolina Cheres, de 27 anos, mora na Grande São Paulo e não é habilitada. Ela prefere se locomover por aplicativos, taxi, ônibus e metrô. “Não me preocupo com IPVA, gasolina, multas, pedágios, problemas mecânicos, estacionamento ou brigas de trânsito. Sem falar que ainda contribuo com a redução de gases poluentes”, esclarece ela.
Milton Souza, universitário de 21 anos, afirma não ter interesse no momento em tirar CNH ou necessidade de aprender a dirigir. “Com a pandemia saio muito pouco de casa, então não ter uma CNH interfere quase nada na minha rotina. Quando preciso ir a algum lugar peço para meu pai me levar ou utilizo um aplicativo”, afirma.