Nhoquim Florido e o Pavilhão Central

A Companhia Carrara era uma velha conhecida da cidade e um sucesso garantido desde 1904, quando se apresentou pela primeira vez no Teatrinho do Mercado.

Márcio Zago

Em maio de 1917 Deoclides Freire vendeu seu cinema e mudou-se para Santos. Chamado anteriormente como Pavilhão do Cinema e Pavilhão Recreio Cinema, o nome Pavilhão Central foi o que permaneceu ao ser adquirido pelo Capitão Joaquim Florido. Depois de uma pequena reforma no prédio,o novo empresário trouxe novamente para Atibaia a companhia teatral Carrara para reinaugurar as alterações feitas no palco.
A Companhia Carrara era uma velha conhecida da cidade e um sucesso garantido desde 1904, quando se apresentou pela primeira vez no Teatrinho do Mercado. A companhia era especializada em operetas e espetáculos de variedades, que incluíam prestidigitadores e mágicos.
Outra atração trazida pelo Capitão Joaquim Florido,o Nhoquim Florido, foi o violonista Lambert Ribeiro, formado pelo Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro. Na tese “Música em Atibaia: Uma História Possível”, de Daniel Nery, o autor cita Lambert Ribeiro, ao lado de Luiz Basílio Ferraz, como os responsáveis pela introdução da música de câmara em Atibaia. O cinema recebeu ainda a Troupe Lírica Del Maré-Benechi, interpretando a ópera “O Trovador”, de Verdi, além dos transformistas e cançonetistas Tabarelli e Carmem Linda. A patinação, um “sport” abandonado até então, também voltou a ocorrer no tempo ocioso do espaço.
Na programação cinematográfica os cinejornais ganharam força novamente. Como se nota o empresário Nhoquim Florido, além da programação de filmes,intensificou as atrações extras de sua casa de diversões, uma praxe da época. Mas foi em junho que o espaço recebeu uma atração bastante ligada aquele período histórico: O Festival Lítero-Musical. Tratava-se de um evento em benefício da Linha de Tiro, uma associação recém-organizada na cidade. A primeira guerra mundial, intitulada naquela época de Conflagração Europeia, chamou a atenção das autoridades, e mesmo de boa parte da população, para a necessidade de militarizar o país em razão da fragilidade do setor frente às grandes potencias europeias.
A obrigatoriedade do serviço militar, finalmente implantada naquele ano, levou o Prefeito Municipal, Benedito de Almeida Bueno e demais políticos como Major Juvenal Alvim, Orestes Caparica e outros a criar a Linha de Tiro de Atibaia, uma associação encarregada de fornecer treinamento militar aos jovens atibaienses como alternativa ao serviço militar. As práticas incluíam ginásticas, esgrima, pontaria, exercícios nas trincheiras e outros. Tudo para instrumentalizar os jovens para a guerra.
O Festival Lítero-Musical trazia em sua programação um discurso do Juiz de Direito, o Dr. Francisco Cardoso Ribeiro, entremeado de apresentações musicais e pequenos esquetes teatrais. A boa relação com a oficialidade local, porém, não impediu que em setembro de 1917 uma pequena nota de jornal, emitida pelo Delegado de Polícia, chamasse a atenção para sua determinação em relação à obrigatoriedade da programação do cinema começar pontualmente às 8 horas da noite, conforme informações fornecidas pelo próprio empresário. Sinal de que as reclamações eram constantes e que nem tudo eram flores na gestão do cinema. A primeira guerra mundial acabaria em breve, mas a crise econômica ainda persistiria por mais tempo. Crise que levou ao desaparecimento do outro concorrente do Pavilhão Central: O Nordisk Cinema. A última noticiasobre ele apareceu no jornal “O Atibaiense” no dia 03 de junho de 1917, período que coincide com a aquisição do Pavilhão Central pelo empresário Nhoquim Florido.