Guerra, pandemia e os primeiros cinemas de Atibaia

Márcio Zago

A última notícia sobre o Nordisk Cinema apareceu no jornal “O Atibaiense” no dia 03 de junho de 1917. Era um anúncio normal, divulgando um drama com um nome bastante sugestivo para o momento: “O Fim da História”. No próprio jornal, não foi encontrada nenhuma crônica ou informações sobre os reais motivos que levaram ao fechamento do Nordisk Cinema e qual o destino do prédio, mas a crise ocasionada pela Primeira Guerra Mundial com certeza influenciou nessa decisão.
O Nordisk Cinema teve seu início no dia 20 de outubro de 1912 com o nome de Popular Cinema, ocupando primeiramente o Teatrinho do Mercado como espaço exibidor. O mesmo espaço que tinha sido ocupado anteriormente pelo Recreio Cinema, do empresário Deoclides Freire. A ocupação do Teatrinho pelo Popular Cinema foi até 16 de agosto de 1913, quando também se mudou para seu próprio espaço, renomeado Palace Theatre. Seu proprietário, o empresário Hilário de Vasconcelos, alugou em junho de 1915 o prédio para os empresários Luís Mana & Cia, que alteraram seu nome para Nordisk Cinema.
No início de 1917, os novos empresários adquiriram definitivamente o cinema, mas fecharam suas portas seis meses depois. Com o fechamento do Nordisk Cinema, o Pavilhão Central passou a ser o único cinema de Atibaia. Sem a concorrência, imaginava-se que seria mais fácil manter o negócio, mas não foi isso que ocorreu. A crise se agravaria meses depois, quando o Brasil deixou sua posição de neutralidade e entrou na guerra após ter o navio Paraná afundado pela Alemanha no Canal da Mancha. A Gripe Espanhola, no ano seguinte, também agravaria uma situação já bastante precarizada. Nesse contexto, o novo proprietário do Pavilhão Central, o Capitão Joaquim Florido, não conseguiu manter o cinema por muito tempo.
No final de 1917, o jornal informava que novos empresários estariam à frente do Pavilhão Central: a empresa Titarelli& Cunha. Três ou quatro meses depois, novos empresários arrendaram o empreendimento: a empresa Pereira, Guimarães &Campanaro. Um pequeno rumor surgiu em razão da possível troca de nome, de Pavilhão Central para Cinema Central, mas o fato não se confirmou. Em agosto de 1918, o nome Pereira deixa de constar na empresa, ficando somente Guimarães & Campanaro. Pelas constantes trocas de empresários, é possível avaliar a dificuldade existente em manter uma casa de diversões em uma pequena cidade do interior.
Esses primeiros cinemas que existiram no início do século XX em Atibaia foram resultados dos sonhos dos empresários Deoclides Freire e Hilário de Vasconcelos, mas era um sonho grande demais para a diminuta oferta existente. Mesmo assim, o Nordisk Cinema durou quase cinco anos e o Pavilhão Central, que mais tarde receberia o nome de Cine República, sobreviveu até os anos sessenta, quando foi demolido para dar lugar a um estacionamento.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.