O teatro em crise em Atibaia

Márcio Zago

Artigo que dá continuidade à história do teatro atibaiense no inicio do século XX. Depois do décimo quinto recital do Grupo Dramático Carlos Gomes, ocorrido em fevereiro de 1905, o Teatrinho do Mercado passou por um esvaziamento temporário. Os ensaios deixaram de acontecer na mesma frequência que ocorria até aquele momento.
Só em março, a Companhia Carrara se apresentou no local e dois meses depois o Grupo Carlos Gomes voltou à cena com as peças “Espectro do Passado” e “Vossa Excelência Desculpe”. Esse espetáculo não foi anunciado como o décimo sexto recital, fato que demonstra o início da desestruturação do grupo.
Lembrando que os recitais eram parte integrante do compromisso assumido entre os atores com seus associados, onde a mensalidade era o próprio ingresso para as apresentações mensais. Neste espetáculo houve grande empenho de Antônio de Almeida em manter o grupo ativo, convidando inclusive alguns atores de Bragança para complementar o elenco como Arthur Muniz, Amadéia Centini e Guilherme Armani.
Mesmo com todo esforço o grupo não resistiu. No inicio de agosto daquele mesmo ano, na coluna Croniqueta, o jornal “O Atibaiense”publicou: “Consta que a defunta já falecida Sociedade Recreativa Carlos Gomes vai reviver das cinzas; pois os micróbios que escangalharam com seu precioso corpo vão trabalhar para que se reencarne e o Alexandre Paganellie o Antônio Almeida, vão dar o sopro e reviver o espírito que jazia morto e bem morto (…)”. E assim, vinte dias depois, um novo espetáculo é apresentado no Teatrinho do Mercado. Neste espetáculo a grande homenageada foi à atriz Nieves Paganelli, esposa de Alexandre Paganelli, o casal de atores que através do Grupo Dramático Carlos Gomes estruturou o teatro local naquele inicio de século XX. A peça mereceu um anúncio com grande destaque, com direito a clichês e molduras: “TEATRO – Hoje – Grande espetáculo em benefício da atriz Nieves Paganelli com o concurso da Sociedade Recreativa Carlos Gomes, Grupo Dramático Infantil e do distinto amador Castro Neves.
Programa: Pelo Grupo Infantil o drama em 2 quadros “Torturas de um Escravo” e a comédia em 1 ato “O Diabo a Solta”. Seguir-se-á um variado intermédio de monólogos e cançonetas pelos distintos amadores S. de Castro Neves, Antônio de Almeida e Benedito Pierotti, finalizando com a impagável comédia em 1 ato intitulada “Cada Doido…” A banda musical desta cidade, sob a hábil batuta do distinto maestro Juvêncio Maciel Fonseca em obséquio a beneficiada dará a costumeira volta pelas ruas principais.
A beneficiada agradece penhorada a todos os distintos cavalheiros que a auxiliam neste espetáculo como também as exímias famílias que com a sua presença abrilhantarão a sua festa artística”. A curiosidade desse anúncio é a volta do Grupo Dramático Infantil depois de vários meses desativada, além do nome Castro Neves, pessoa não identificado até o momento.
Não há registro sobre a realização dessa peça. Meses depois Alexandre Paganelli encenou outro espetáculo. Desta vez com um texto de sua autoria: “O Escravo Mártir”. Além deste drama o espetáculo incluiu a comédia “Dois Surdos”, já encenada anteriormente. No programa do espetáculo não contava nenhuma referencia ao Grupo Dramático Carlos Gomes ou a Sociedade Recreativa Carlos Gomes. Sinais de que a cena teatral atibaiense esmorecia, deixando para trás anos e anos de intensa atividade.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.