A Sociedade Recreativa Carlos Gomes chega ao fim

Artigo que dá continuidade à história do teatro atibaiense no inicio do século XX.

Márcio Zago

Os meses finais de 1905 marcaram o desmonte da Sociedade Recreativa Carlos Gomes. Em março de 1906, um artigo publicado no jornal “O Atibaiense” tentou dar um sopro de esperança aos amantes da arte de Talma (como se referiam ao teatro…): “Consta-nos que a Sociedade Recreativa Carlos Gomes vai reviver de seus escombros e brevemente nos proporcionará noites agradabilíssimas, como em saudosos tempos nos deliciou.
É mister haver coragem e perseverança para de novo não baquear. Já se acham em ensaios um emocionante drama e uma chistosa comédia. Conta-nos mais, que no próximo domingo reunir-se-ão os sócios para elegerem a nova diretoria que deve reger os destinos desta sociedade no presente ano.
Por nossa parte fazemos ardentes votos que vá avante a ideia da reorganização desta tão útil sociedade diversiva, para assim nos tirar deste nevrótico viver que tanto entorpece o progresso intelectual e o gosto pelas letras”. Apesar dos esforços nada aconteceu, mas o Teatrinho do Mercado não ficou vazio. Em maio foi à vez do “Grupo Dramático Aprígio de Oliveira” se apresentar no local. Formado pelo casal Aprígio e Clélia de Oliveira o grupo apresentou três peças e uma opereta. O espetáculo foi bastante elogiado e gerou outra apresentação extra no dia seguinte, com textos inéditos.
O casal gostou da cidade e aqui permaneceu por curto período. Tempo suficiente para a montagem de nova peça, desta vez com a participação de alguns amadores locais. A peça escolhida foi o drama “Remorso Vivo” que teve no elenco, além dos atores Aprígio de Oliveira, Clélia de Oliveira e Narciso Costa, os atores locais S. de Castro Neves, Antônio Brazil, Vicente Lauriano e o Juca.
A experiência animou o setor e nova tentativa foi realizada para reativar a combalida Sociedade Recreativa Carlos Gomes. Em agosto de 1906 o jornal publicou um artigo onde o grupo propunha sua retomada, reafirmando o compromisso em realizar apresentações mensais em troca do pagamento dos associados. Em agosto a reunião finalmente aconteceu: “No domingo passado reuniram-se os amadores do teatro desta cidade e depois de várias discussões resolveram: A) Considerar dissolvido o antigo Grupo e deram como organizado outro sob o título de Grupo Dramático João Caetano; B) Nomear uma comissão para aquisição de assinaturas mensais e permanentes; C) Nomeação de uma comissão para organização do estatuto. Em breve haverá outra reunião para firmar definitivamente quando deverão ter inicio os ensaios. Sabemos que a ideia tem sido muito bem recebida estando já em alto número às assinaturas pelos principais chefes de família da cidade.
Oxalá não esmoreça este entusiasmo e os galhardos rapazes possam cantar vitória”. Estava definitivamente encerrada a Sociedade Recreativa Carlos Gomes, mas surgia outra. Quem sabe agora o nome João Caetano, o responsável pela profissionali-zação do teatro no Brasil, não trouxesse melhor sorte. Assunto para o próximo artigo.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.