Surge o Club Dançante Democrata

A partir de 1911, com a inauguração do Pavilhão Recreio Cinema e mais tarde, em 1913, com o Palace Teatro surgiram novos espaços para os encontros dançantes.

Márcio Zago

No inicio do século XX o carnaval carioca tinha dois clubes bastante populares: Os Fenianos e os Democratas. Talvez por essa razão muitas cidades na época tiveram um clube de nome Democrata… Atibaia também teve. Com a crescente urbanização da cidade a burguesia local passou a se organizar em clubes e associações, tendência que logo chegou à dança. Os grandes bailes, que varavam madrugadas, já eram comunstanto no Clube Recreativo Atibaiano, como nas residências de grandes personalidades locais.
A partir de 1911, com a inauguração do Pavilhão Recreio Cinema e mais tarde, em 1913, com o Palace Teatro surgiram novos espaços para os encontros dançantes. Estes dois cinemas existentes na época tinhamcaráter multiuso abrigando, além das exibições cinematográficas, peças teatrais, festas e bailes. As cadeiraseram de palhinha e não ficavampresas ao chão, como hoje, fato que facilitava sua remoção abrindo espaço para a evolução dos dançarinosno centro do salão. Tinham ainda um pequeno palco onde os músicos se acomodavam para animar a festa. O Club Dançante Democrata, inaugurado em 1914, foi fundado por Pedro Hilário, Manuel Marques Pires e B. Maximiano. Sua estreia se deuno pavilhão do Palace Teatro, que segundo o jornal “O Atibaiense” se achava “vistosamente adornado com flores e brilhantemente iluminado”. Lembrando que a iluminação elétrica era relativamente recente naquela época.
A nota informava ainda queo comparecimento foienorme, reunindo inúmeros sócios e convidados que, acompanhados de seus familiares, dançaram até às 3 horas da manhã. Dias depois outra pequena nota convidava os sócios para comparecerem novamente ao Palace Teatroa fim de eleger sua diretoria. Informava também que no mesmo encontro começariam os primeiros ensaios dos associados, sugerindo que, além dos bailes, ocorriam outros encontros visandoo aprendizado ou o aperfeiçoamento dos sócios na difícil arte da dança.
Mais que entretenimento, era uma oportunidade de encontro e convívio social numa época em que a diversão era quase inexistente na cidade. Nosdois meses seguintes, depois de inaugurado,outros dois bailes foram realizados no Palace Teatro, ou Teatro Popular como também nomeavam. A partir daí mais nenhuma informação surgiu no jornal a respeito do Club Dançante Democratas, embora os bailes continuassem a acontecer no Palace Teatro, tendo inclusive a participação doHilário, um dos fundadores do clube. Sua função era servir chá aos participantes durante os intervalos dos bailes, uma peculiaridade da época.
O Club Dançante Democrata teve curta duração e alguns fatorescontribuíram para isso. A data em que ocorreu seu último baile coincidiu com o inicio da Primeira Guerra Mundial, tratada na época como a “Grande Guerra”. Foi um período difícil, triste e pouco adequado para a diversão, mas outro motivo ainda mais forte colaborou na extinção do Club Dançante Democrata, a criação de um segundo clube voltado à dança em Atibaia: O Terpsichore Club. Surgido na mesma data de seu antecessor este clube de nome estranho teve uma atuação um pouco mais prolongada que o concorrente e provavelmente absorveu boa parte dos dançarinos do clube extinto. Assunto para a próxima semana.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.