Banda 1º de maio, a Banda Operária

Márcio Zago

Em dezembro de 1913 “O Atibaiense” publicava uma pequena nota com o título “Grêmio Musical 1º de maio”: “No domingo próximo passado fez sua belíssima estreia a nova banda musical organizada quase exclusivamente com pessoal da fábrica de Tecidos São João, tocando à tarde no novo palacete do Sr. Jorge de Barros pela ocasião da benção do mesmo. É regente da nova banda o Sr. Edmundo Russomano”. Embora haja uma versão diferente, o artigo confirma a data de sua fundação em 04 de dezembro de 1913.
A Fábrica de Tecidos São João, fundada em 1909,gerou emprego para boa parte da população de Atibaia e região favorecendo o surgimento de associações e grupos de caráter recreativo, esportivo e cultural. A Banda 10 de Maio, também conhecida como Banda Operária, foi uma delas. O nome tem origem no histórico10 de maio de 1886, quando ocorreu uma greve operária em Chicago, nos Estados Unidos, que marcou a luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e a redução da jornada de 13 horas para 8 horas.
A data ainda é comemorada em várias partes do mundo. No Brasil ela é celebrada desde ofim do século XIX e inicio do século XX com a chegada dos trabalhadores europeus com ideais de luta trabalhista. Em Atibaia, um ano após a inauguração da fábrica, foi anunciada a primeira grande festa em comemoração ao 10 de maio que nomearam “Festa dos Operários”. Sem o caráter reivindicatório,que caracteriza a data, a festa se configurava uma grande celebração ao trabalho, com alvorada matinal, distribuição de lanches, desfiles pelas ruas da cidade acompanhadas pelas bandas musicais (que tocavam o hino dos operários), pic-nics, visitas ao diretório republicano local, discursos e outros eventos. Diferente das demais corporações musicais existentes na época, a Banda Operária não tocava com regularidade nos eventos e festas que ocorriam na cidade. Pelo menos não constavamnas matérias do jornal “O Atibaiense”. Somente em 1917, quatro anos depois da primeira nota publicada acima surge outra noticia sobre a Banda Operária. Ela informava o resultado de uma eleição que, segundo seu estatuto, escolheu a nova diretoria da associação, ficando assim estabelecida: Para Presidente honorário Sr. Álvaro A. Diniz, para vice honorário Sr. Willian Stewart, para diretor Américo Bartolomeu, para fiscal Arnaldo de O. Leme e para secretário Pedro Ferreira Pires. Na pesquisa “Música em Atibaia, uma História Possível” do maestro Daniel Guimarães Nery consta que Edmundo Russomano, o primeiro regente da Banda Operária, nasceu em Bragança no ano de 1893 e pertenceu também a Banda União da Mocidade (antecessora da Lyra Atibaiense).
Diz ainda que ele foi um dos fundadores da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, cidade onde faleceu em 1962. Também foi maestro da Banda Operária o músico Pedro Hilário de Vasconcelos. Como curiosidade fica o registro de que por determinado tempo, entre 1913 a 1917, existiu três bandas musicais atuantes em Atibaia: A Banda 24 de Maio, a Lyra Atibaiensee a Banda 10 de Maio. Prova disso é um artigo publicado em 05 de maio de 1912, que faz referencia as comemorações do 10 de Maio daquele ano: “(…) A 1 hora da tarde, presentes no Largo da Matriz centenas de pessoas, foi ouvido o Hino Nacional pelas três bandas, após uma salva de 21 tiros (…)”.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.