Projeto Agente Multiplicador 2022 começa com palestra sobre psicologia na mediação

Iniciando o Projeto Agente Multiplicador 2022, o CEJUSC de Atibaia e Jarinu realizou a exposição/palestra “A Relevância da Multidisciplinariedade na Mediação”, por videoconferência, na noite de 27 de janeiro. A palestrante foi a psicóloga Elvira Maria Leme, do CEJUSC Central. Psicóloga, psicoterapeuta e perita judicial, ela é graduada pela PUC-SP e capacitada em conciliação e mediação pela Escola Paulista de Magistratura. Conciliadora e mediadora do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo desde 2008, atua na 1ª instância e no pré-processual do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania da capital-central.
Por um olhar em seu currículo, percebe-se a importância que a conciliadora dá para a criatividade, a integração, o desenvolvimento, as práticas integrativas e a atuação
interdisciplinar. Sua exposição deixou clara a valorização da Psicologia no contexto da mediação, com fundamentação científica. A prática é trabalhar com a gestão das emoções em cada sessão de conciliação. Por um ângulo do processo, a neurofisiologia terá de “conversar” bem com as técnicas de meditação e mindfulness. A psicóloga se colocou à disposição dos mediadores regionais (Atibaia e Jarinu) para vivências em que essa prática poderá ser detalhada. Seu trabalho está bem fincado na educação, já que é professora há décadas e vem trabalhando com a Uninove no estreitamento das relações entre o Direito e a Psicologia.
Outro ponto interessante na palestra foi a referência aos toques. Em texto de 2014, Elvira Leme apontou a direção: “O trabalho psicológico é um trabalho de laboratório onde se deixa acontecer. E deixar as coisas acontecerem é promover o retorno ao ser. O ser é o lugar da existência personificada e ela será experimentada no corpo e não em outro lugar”. Ao escrever sobre os círculos de construção de paz, observou: “A educação para a paz é uma forma de educação em valores, processo contínuo e permanente que está na base da transformação da cultura de conflitos e implica em ações práticas. O círculo de construção de paz é uma proposta educativa que se torna um instrumento eficiente para a prevenção da violência, o aprendizado da convivência e a promoção da cultura da paz. A paz não é dada, é construída e de modo coparticipativo, cotidianamente nas relações uns com os outros”.
Segundo o neuropsiquiatra Stephen Porges, é possível recuperamos a capacidade de nos mantermos estáveis, tanto internamente quanto em grupo, para que possamos criar e ampliar nossas capacidades mais profundas como seres humanos. Por consequência, ele nomeou um novo sistema, a neurocepção. É a capacidade do sistema nervoso perceber as alterações externas do ambiente para agir e atuar, muito antes dos sistemas corticais criarem significados e gerarem reações racionais. E essa percepção, se trabalhada com exercícios adequados e monitorados, pode contribuir para a inteligência emocional dos mediadores.
Bruno Bernardes, que pesquisou o assunto durante anos, valoriza a expressão facial e as extensões da voz, que contribuem para um ambiente seguro ao outro. “Quando nós terapeutas cuidamos para estarmos regulados e presentes para recebermos o que a outra pessoa traz, de forma curiosa e atenta, já estamos ajudando o sistema do outro a estar aberto para se regular e se curar e assim as técnicas ou métodos utilizados seriam infinitamente potencializados”. Em outras palavras, é um caminho profundo e muito produtivo na criação e recriação da paz, extremamente necessária para o nosso mundo.