A Orquestra Santa Cecilia

Marcio Zago*

Em junho de 1912 estreava no Clube Recreativo Atibaiano a Orquestra Santa Cecília, iniciativa do maestro Arnaldo de Moura. Recém-contratado como regente da banda musical “União da Mocidade”, Arnaldo de Moura chegou à cidade como integrante do Circo Clementino e aqui ficou. O talento do jovem músico contagiou a sociedade local gerando grande expectativa, como demonstra este artigo do jornal “O Atibaiense”:
“Realizou-se no domingo passado o concerto de estreia da nova orquestra organizada pelo maestro Moura, a qual, como era de se esperar, agradou imensamente ao enorme auditório que enchia o vasto salão do Club Recreativo Atibaiano. Nos finais de todas as exibições de músicas eram delirantemente aplaudidas (…)”.
Não há informações a respeito do naipe instrumental e nem dos integrantes da orquestra, com exceção de Isaura Pierotti (piano e canto) e Nicolau Barra Junior (violoncelo). Sabemos também que havia uma flauta. No repertório marchas, valsas e polcas, muitas de autoria do próprio maestro Arnaldo de Moura. A intenção era realizar eventos mensais, mas depois de aproximadamente seis apresentações uma estranha nota no jornal anunciava: “(…) Pede-nos o maestro Moura para cientificar as partes interessadas a probabilidade de ser este o último concerto da Orquestra, cujo motivo será conhecido em ocasião oportuna a quem pela mesma se interessar.” Tratava-se do agravamento de sua doença. Fato que tirou sua vida dias depois deste derradeiro concerto. Três anos e meio depois do triste episódio outra nota de jornal anuncia a criação de uma nova Orquestra Santa Cecília: “Sob a direção do Sr. Cap. Francisco Napoleão Maia, com o concurso dos professores de música Srs. Juvêncio Fonseca, Eugênio de Toledo e dos amadores Plínio Maia, João Marinho Fagundes, João Maia e outros que nos escapou a lembrança, fundou-se nessa cidade, no dia 22 de Novembro (1914) uma bem organizada orquestra com a denominação “Santa Cecília”, com o fim único recreativo. Os ensaios tem tido lugar na residência do Cap. Francisco Napoleão Maia, sendo ensaiadas músicas de composição do mesmo, e do maestro Juvêncio. O instrumental atualmente da orquestra compõem-se de dois violinos, duas flautas, um violoncelo (provavelmente Nicolau Barra Junior), uma clarineta, piano e duas trompas.
A execução somente com dois ensaios já foi de um sucesso ótimo. Esperamos que brevemente a orquestra Santa Cecília nos proporcione alguns concertos no Club Recreativo Atibaiano”. O nome Santa Cecília era bastante comum na época. A maioria das cidades do interior tinha algum grupo musical com este nome. Era uma alusão à santa cristã padroeira dos músicos e da música sacra que, segundo a tradição, teria cantado a Deusao morrer. Em Atibaia, anos depois, foi criada outra organização com o mesmo nome: A Escola de Musica Santa Cecília, de LeonelloChiochetti…Mas isso é uma história que fica para outro artigo.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.