A crônica nas páginas d’O Atibaiense

Uma crônica que gosto muito fala de um passeio a Pedra Grande.

Marcio Zago*

Entre o jornalismo e a literatura está à crônica. Sem ela não saberíamos quase nada sobre os bastidores das cidades, seus personagens e suas histórias: “Por ter um texto mais simples e ser utilizada para descrever fatos do cotidiano, a crônica facilita a aproximação do leitor, como uma conversa entre amigos, tornando a leitura leve e divertida. Em geral, as crônicas tratam de temáticas comuns sobre assuntos que estão na “boca do povo”, apresentando uma crítica de forma objetiva, sem muitos detalhes e, muitas vezes, fora dos padrões textuais que estamos acostumados” (Ana Inez Klein).
No jornal “OAtibaiense” as crônicas eram publicadas em seus primórdios. Em geral vinham de colunas como “Chroniqueta”, “Rabiscando”, “Rabiscos”, “Palestrando”, “Vagando”, “Atibaia Progride”, “Nazareth”, “Cartas da Paulicéia”, “Piracaia”, “Cavaqueando” e outros. Algumas eram assinadas por pessoas conhecidas na época como Licínio Carpinelli, outros assinavam por pseudônimos e nunca saberemos quem eram seus reais autores. Um bom exemplo da qualidade da crônica como registro do cotidiano vem do pesquisador Renato Zanoni, que reuniu em seu livro “Atibaia no Século XX”, uma série de frases e expressões características de diferentes personalidadeslocais que viveram no século XX.
Sem as crônicas o memorialista não teria acesso a essas pequenas intimidades da época. Uma crônica que gosto muito fala de um passeio a Pedra Grande. De nome “PicNic”e assinada por S.R.J.ela começa assim: “Eram seis horas da manhã do dia 18 do corrente quando acordei sobressaltado com os agudos apitos da fábrica de tecidos que anunciavam aos laboriosos operários que era chegada a hora de começar os trabalhos da luta pela vida.
Em dois saltos abri a janela do aposento em que descansava o pobre corpo velho: lancei um olhar pelos ares perscrutando o estado do tempo, se si prestava ou não ao pic-nic no qual deveria tomar parte como convidado do amável e simpático amigo Maneco de Toledo…”. Por esta crônica, somada a outra publicada anteriormente no mesmo jornal, podemos saber com detalhes como eram esses passeios a Pedra Grande: o que comiam durante o trajeto; que caminho utilizavam e como era o próprio local, sua vegetação e o clima: “…subimos a uma altitude da Pedra, mais uns 50 metros. É belíssimo o panorama, domina um circulo aproximado de 20 léguas em diâmetro, a circunferência é impossível de se fazer um cálculo exato. Lá em cima sente-se um bem estar, mas pela rarefação do ar, uma estranha sensação logo convida a descer.
Permanecemos nesse ponto culminante uns vinte minutos. Desse ponto avistam-se as seguintes cidades: Piracaia; Jundiahy; Bragança; Nazareth e uma pequena parte de Itatiba; São Paulo não se pode avistar devido a Cantareira que fica em frente. O Ypiranga ou Vila Mariana percebe-se no horizonte, mas devido a não possuirmos óculos de alcance não podemos bem distingui-los…”.A partir de determinada época as crônicas deixaram de ser publicadas no jornal, retornando anos depois. Ficamos assim privados de pormenores importantes da memória local daquele recorte histórico. Fato natural se pensarmos nas inúmeras mudanças e alterações que fatalmente passou e passará um jornal que superou um centenário de existência. Para finalizar recorro a um cronista da época, que vez ou outra, assim concluía seu texto“… E aqui pingo um ponto final”.