Moradores querem incluir poluição luminosa na agenda ambiental de Atibaia

Uma das menos conhecidas das poluições, ela afeta os centros urbanos e perturba os ciclos da natureza, além de prejudicar a pesquisa e o bem-estar humano.

O Atibaiense – Da redação

A agenda ambiental de Atibaia pode ganhar em breve, com apoio da sociedade e do poder público, um novo objetivo: o controle e redução da poluição luminosa, com projetos mais adequados nesse setor. Uma das menos conhecidas das poluições, ela afeta os centros urbanos e perturba os ciclos da natureza, além de prejudicar a pesquisa e o bem-estar humano.
Se depender de cidadãos como Adelcke Rossetto Filho, Gilberto Sant’Anna e Augusto Luppi, a poluição por iluminação excessiva em praças públicas passará por esforço de mitigação de seus efeitos, em níveis que atendam o conforto ambiental. Abaixo-assinado foi elaborado e documentos anexados para entrega à Prefeitura e à Câmara. A Associação dos Engenheiros e o Ministério Público também estão no rol de entidades e instituições que devem ser procuradas e solicitadas a participar da iniciativa.

DE FORMA DANOSA
Segundo Adelcke Rossetto Filho, “foram implantados projetos de iluminação em algumas praças públicas de forma danosa a todos seres vivos, inclusive aos vizinhos. A luz à noite entra pela casa, espanta os pássaros e causa outros danos. Fiz um texto para encaminhar à Prefeitura solicitando a mitigação, com a norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que mostra claramente como deve ser. Além isso, há cópia de um estudo sobre o assunto, o que podemos chamar de conforto ambiental”.
Entre os casos de iluminação que causa desconforto ambiental, está a da rua Presidente Lincoln. “Criamos a praça para trazer a natureza para perto de nós. A iluminação é o prolongamento do dia para maior aproveitamento, iniciado pelos humanos pelo fogo. Suas finalidades são segurança, embelezamento para monumentos, características muito afins com a profissão de paisagista”, acrescentou Adelcke. “Estamos acostumados com poluição do rio, da água, do som, e outros já conhecidos, mas somente agora é que estamos nos dando conta do quanto é prejudicial a iluminação artificial”.

FALANDO DE EXCESSOS
“O projeto de praça deve-se ater à sua finalidade. O profissional precisa ler, enxergar uma bola de tênis, pequenos animais, seres humanos, carros. Para isso, precisa considerar a cor, o tipo e potência de lâmpada e seu refletor, seu posicionamento. É fundamental o item segurança, mas temos de considerar como obtê-la, que possua conforto e não provoque dano ambiental, ou seja, não polua! O problema é a dose, como um produto químico que pode ser tanto remédio quanto veneno! Estamos falando de excessos”, explicou o morador.
Para esse olhar, o uso excessivo, que pode ser distribuído em áreas carentes de iluminação, e inadequado de luz, vem causando impactos e desconforto à população, flora e fauna existentes na região, iluminando áreas não necessárias e interrompendo o período de repouso. “Como consequência, há alteração no ciclo reprodutivo das plantas, crescimento anormal e florescimento prematuro. Alteração no ciclo reprodutivo dos animais e desequilíbrio ecológico, além de aumentar os casos de doenças e estresse nos seres humanos. Denomina-se poluição luminosa o efeito causado pela luz excessiva e mal direcionada sobre o meio ambiente, ocasionando danos econômicos, sociais, científicos e ambientais”.

LUZ INTRUSA
Essa distorção se apresenta em três tipos: brilho no céu, luz intrusa e ofuscamento. No caso da praça, é a luz intrusa, que ultrapassa o limite da área que se quer iluminar, se espalha pelas laterais, atingindo regiões onde não se faz necessária. Essa grande quantidade de luz pode causar problemas ao ser humano como desconforto, insônia, pois invade o interior das residências através de portas e janelas.
A luz intrusa (ultrapassa os limites de iluminação) também tira a visão das estrelas e provoca acidentes fatais nas rodovias. Com exposição à iluminação artificial no período noturno, o ser fica vulnerável a diversos problemas, como alteração dos ciclos circadianos e no metabolismo, além de doenças degenerativas.

TÉCNICA ESPECÍFICA
O projeto executivo deve seguir a técnica específica, atendendo à norma da ABNT identificada como NBR 5101 – iluminação pública — dimensionada para áreas urbanas em geral, inclusive vias. A iluminação deve apresentar compatibilidade com a arborização, considerando os ângulos de máxima incidência das luminárias nos sentidos longitudinal e transversal à via, sua altura de montagem e a distância das árvores.
Essa visão do problema, defendem os moradores, pode auxiliar os planejadores municipais, as empresas de iluminação pública e os órgãos gestores da arborização urbana. Na internet, encontrou-se em https://www.researchgate.net/publication/311103138 o trabalho “Análise da poluição luminosa em ambiente urbano”, produzido pelas profissionais Luana Ribeiro de Oliveira, Maria Helena Rodrigo Gomes e Maria Helena, entre outras literaturas.

REDUÇÃO DA BELEZA
A BBC já produziu matérias sobre a poluição luminosa nas cidades, que faz estrelas “desaparecerem” do céu e pesquisas minguarem. Segundo um dos textos, quem olhasse para o céu na noite de 25 de janeiro de 1554, data da missa dos jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega pela fundação da cidade de São Paulo, poderia avistar mais de 4 mil estrelas – caso não houvesse nuvens nem lua. Hoje, não veria mais do que uma dúzia.
A culpada pelo “desaparecimento” dos astros é a iluminação artificial da metrópole, com seus milhões de lâmpadas nas ruas, residências e lojas, além dos faróis de carros. A chamada poluição luminosa não apenas reduziu a beleza do céu noturno, como também causa problemas práticos. Ela prejudica as observações astronômicas e, consequentemente, a realização de pesquisas científicas que ampliam o conhecimento sobre o universo.