Anna Luiza Calixto publica livro infantil de prevenção ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes

A Cartilha Bem me quer, mal me quer? é ummanual prático de prevenção, orientação e combate ao abuso sexual infantil através da educação sexual e da literatura. Na foto estão Stephanie Marino e Anna Luiza Calixto.

Por todo o Brasil, três crianças e adolescentes são vítimas de violência sexual a cada hora, dia após dia. Durante o período de distanciamento social em decorrência da pandemia do Covid-19, a estimativa do último relatório publicado pela UNICEF é que violação de direitos impacta um número 48% maior de meninos e meninas brasileiros de diferentes faixas etárias, regiões, etnias e condições socioeconômicas. As violências contra crianças e adolescentes não cumprem quarentena e, mais do que nunca, invadem as casas e as vidas desta população etária, em uma realidade retratada por estatísticas que têm crescido vertiginosamente em uma curva sem freio e mais invisibilizada do que nunca.
Pensando em caminhos para combater esta violência tão perversa, a jovem atibaiense Anna Luiza Calixto, escritora infantil, cientista social em formação pela Universidade Federal de São Paulo, palestrante e colunista do Jornal O Atibaiense, escreveu a Cartilha Bem me quer, mal me quer?, uma ferramenta poderosa no combate ao abuso sexual infantil: um manual prático de orientação, combate e prevenção a esta violação de direitos, conduzindo –através da literatura infantil – o contato dialógico com as crianças sobre este tema tão duro, fazendo uso da história de uma menina brasileira vítima de abuso sexual para apresentar os caminhos e incentivar a denúncia e trazer à pauta o direito à dizer não, a não culpabilidade da vítima, os limites de cada corpo, a autonomia corporal, a responsabilidade afetiva e, o mais importante, a diferenciação do contato afetuoso para o toque abusivo – o bem me quer e o mal me quer –, apresentando positivamente a rede de proteção – a exemplo do Conselho Tutelar, retratado como um time de futebol – e elucidando com sutileza e didática metodológica apropriada esta temática ainda pouco trabalhada com nossas crianças e adolescentes.
Anna Luiza Calixto, autora da Cartilha, fundou em 2015 uma ferramenta de cidadania itinerante que leva as pautas dos direitos humanos para as salas de aula de catorze estados brasileiros, em contato com meio milhão de estudantes para mapear e identificar as violências, o Projeto Social Os Cinco Passos. Autora deste e outros cinco títulos, a jovem representa o estado de São Paulo no Comitê Nacional de Adolescentes pela Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, atuando na área do direito da criança e do adolescente desde 2008.
Em entrevista ao jornal O Atibaiense, conta: “Pautar a violência sexual infantil é mais do que necessário: é urgente. Nossas crianças e adolescentes devem estar na ordem do dia de todos os dias no tecido da sociedade, família e Estado, tripé elementar da rede de proteção. Quando foi anunciado o período de distanciamento social, uma imensa preocupação se abateu sobre nós: e as crianças que estarão isoladas com seus próprios algozes, em quarentena com seus abusadores? A severidade da questão se acentua pelo fato de que nossos fortes aliados nesta luta, os professores e educadores, perderam o contato presencial com as crianças – o que é determinante na identificação das manifestações sintomáticas do abuso sexual infantil. Mais do que nunca, toda ferramenta de prevenção e mapeamento desta violação de direitos é imprescindível; e foi pensando nisto que nasceu a Cartilha Bem me quer, mal me quer? para ser fio condutor deste diálogo com as crianças, para discernir o que chamamos no livro de carinho de verdade e carinho de mentira, apontar que a culpa da violência nunca é do violentado e orientá-las a procurar por um adulto de confiança e pedir ajuda, denunciar.”
O livro infantil foi publicado com o apoio e parceria da Missão Aliança, organização de combate às injustiças sociais com sede no Brasil e outros nove países, do Ministério Público do Trabalho e do PETECA, programa cearense que lidera diferentes frentes nacionais no enfrentamento do abuso sexual infantil através de políticas públicas intersetoriais articuladas. Procurador do Trabalho, Dr. Antonio de Oliveira Lima (ou Seu Peteca, como é conhecido) relata: “Temos acompanhado de perto a constante crescente dos números de vítimas do abuso sexual infantil durante a pandemia e sabemos da necessidade de reinvenção do sistema de garantia de direitos para atender a esta demanda. Então, a sempre parceira do MPT, Anna Luiza, propôs um material orientador para alcançar o maior número de crianças possível e vencer a primeira barreira em que esbarramos: a dificuldade de identificação do abuso, uma vez que o violentador faz uso da alienação emocional para descaracterizar o conceito da criança de afetuosidade. A Cartilha é uma resposta extremamente necessária e emergencial para a infância brasileira, nossa prioridade absoluta.”
O livro infantil, ilustrado pela designer gráfica Stephanie Marino, disponibilizado através das redes sociais do Projeto Social Os Cinco Passose da autora, acaba de selar uma importante parceria com a UNICEF, para contemplar o trabalho social realizado pela Instituição com as crianças que vivem nas comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas brasileiras. Durante o seu lançamento, as primeiras crianças de todo o Brasil que realizaram a leitura do material tiveram a palavra livre para compartilhar suas reflexões e contar suas experiências com a leitura da obra para o público do sistema de garantia de direitos, que ouvia atento do outro lado da tela.
A Cartilha Bem me quer, mal me quer? foi escrita em uma metodologia pensada e construída considerando as especificidades e particularidades da infância, em estado de pleno desenvolvimento peculiar, abordando a temática com cautela para não as crianças à conteúdos que esta possam não estar preparadas para assimilar. Revisada por uma psicóloga especialista em sintomas psicossociais em suspeita de violação de direitos e doutora em psicologia escolar, a Cartilha é um sucesso entre as crianças e tem o apoio do Movimento Nacional de Combate e Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes: Faça Bonito.
Prevenir a violência sexual infantil é a resposta mais que necessária, urgente, em meio a esta demanda ascendente, considerando que mais de 70% dos casos são praticados por uma figura de cuidado ou um adulto muito próximo a criança e, em mais de 90% das estatísticas, a violência aconteceu dentro de casa (Dados: Ministério da Saúde) Para a melhor experiência de leitura com o maior aproveitamento da Cartilha, Anna Luiza Calixto propõe: “”Precisamos aprender a ouvir nossos meninos e meninas, sem medo ou preconceitos. Sempre que me perguntam, durante alguma oficina do Projeto Os Cinco Passos, a partir de que faixa etária é possível conversar com nossas crianças e adolescentes sobre o abuso e a exploração sexual, eu devolvo a pergunta: a partir de que idade nossas crianças e adolescentes podem ser violentados sexualmente? Não há limites para a violência. A Cartilha propõe o diálogo de criança pra criança; o aprendizado coletivo e a descoberta do corpo e dos próprios direitos. Muitos adultos que representam figuras de cuidado para crianças e adolescentes não se sentem preparados para conduzir esta abordagem, e a literatura infantil oferece uma ponte, ao passo que apresenta uma personagem como principal interlocutora, promovendo reflexões que suscitarão trocas entre o pequeno leitor e o adulto de sua confiança. Não podemos desviar o olhar porque quem não denuncia, também violenta. Toda criança é nossa criança.”

SERVIÇO
Aos leitores interessados em ter acesso à Cartilha Bem me quer, mal me quer?, entrar em contato com a autora: anna.calixto@unifesp.br ou (011) 9 7369 6388