E o circo chegou em Atibaia!

A chegada desses espetáculos era um evento extraordinário em uma cidade onde poucas coisas aconteciam, despertando um misto de alegria e medo na população.

Márcio Zago

Os circos desempenharam um papel significativo como fonte de diversão e cultura em Atibaia durante grande parte do século XX. Os primeiros jornais impressos do município já destacavam essa importância, atestando que, entre 1901 e 1920, a cidade recebia em média um circo por mês.
A chegada desses espetáculos era um evento extraordinário em uma cidade onde poucas coisas aconteciam, despertando um misto de alegria e medo na população. Na tese intitulada “O Circo Chegou”, de Gilmar Rocha, é ressaltado o impacto que a chegada do circo tinha nas cidades do interior. “Além dos preconceitos e das percepções de desordem – que incomodavam as autoridades locais -, o circo também trazia consigo a magia, o sonho e o espanto, que ajudavam a quebrar a rotina do trabalho árduo na vida pacata das pequenas cidades”.
Assim que os circos chegavam a uma localidade, iniciava-se o trabalho de “fazer a praça”, ou seja, de tornar o evento público e anunciar sua chegada. Os artistas, principalmente os palhaços, percorriam as ruas da cidade, fixando cartazes e anunciando as próximas apresentações, sempre atraindo uma grande quantidade de crianças. No entanto, a atividade circense também estava sujeita às regulamentações municipais.
No Código de Posturas de 1909, no capítulo VIII – “Dos espetáculos Públicos”, o artigo 26 estipulava que ninguém poderia realizar espetáculos públicos de qualquer natureza sem a prévia licença do Prefeito Municipal, sob pena de multa que variava de 20$000 a 30$000. É importante ressaltar que os circos da época eram duplamente tributados, tanto pelas apresentações realizadas quanto pelo aluguel do terreno.
Em um despacho do Prefeito Municipal, publicado em abril de 1921 no jornal “O Atibaiense”, surge um indício de como ocorriam os trâmites burocráticos que antecediam a chegada de um circo à cidade. Neste despacho, constava que um representante do Circo Nerino pedia ao Prefeito licença para dar uma série de espetáculos na cidade e a concessão do respectivo terreno para a instalação da lona.
Também constavam os mesmos pedidos feitos pelo representante do Circo Philadelphia. A resposta do Prefeito dizia: “Embora tenha sido requerida a Praça Aprígio de Toledo pelo representante do Circo Nerino, considerando o tempo decorrido sem que a dita companhia tenha chegado a esta cidade, e considerando ainda que a mesma não efetuou o pagamento do respectivo aluguel, o que dá direito a preferência – concedo a companhia do Circo Philadelphia, atualmente em Bragança, a praça referida, com a condição, porém, de efetuar hoje mesmo o pagamento do aluguel para, nesse caso, ser declarado à outra companhia em Mogi das Cruzes, a circunstância aludida, o que será feito por telegrama hoje”. Na pesquisa que realizo não encontrei qualquer referência nos jornais da época que confirmassem as apresentações dos circos Nerino e Philadelphia, mas sim dos circos Luzo-Brasileiro e Circo Pinheiro. O fato comprova ser verdadeira a disputa que havia entre os circos da época pelo caloroso e receptivo público de Atibaia.