O monstro no quarto ao lado

Um homem estupra a própria filha, de 27 dias. Como continuar lendo a notícia?

Anna Luiza Calixto

A perversidade humana ultrapassa mais uma vez os limites do sadismo e me leva a não acreditar no que eu mesma estou escrevendo. Uma bebê recém-nascida de 27 dias morreu. Não por má-formação ou condição genética adversa, mas porque o próprio pai cometeu um estupro contra ela.
O município de Aruama, na região dos lagos do Rio de Janeiro, ficou em perplexidade completa com a notícia. O enterro da menina acontecia no sábado (11) em Cabo Frio quando o criminoso foi preso. O mandado de prisão foi cumprido e o IML (Instituto Médico Legal) atestou que a pequena criança morreu devido ao impacto da penetração durante o estupro, cuja violência seu corpo não pode aguentar. Eu também não posso, como parte desta sociedade adoecida, aguentar uma notícia como esta e continuar o dia como se nada fosse.
Laceração nas genitais devido à penetração violenta. Estupro de vulnerável. Não consigo dizer que ele é pai da vítima, ele é no máximo o genitor. A palavra pai não suporta esta catástrofe humana. A menina não se sentiu bem na madrugada de quinta para sexta e o homem de 23 anos foi acalmá-la. A menina foi encontrada morta na manhã seguinte e o monstro ainda se sentiu no direito de ir ao enterro. Arrependimento? Quem sou eu pra dizer, mas quem é capaz de estuprar a filha recém-nascida será capaz de se arrepender?
Parte de mim sustenta a fé e me leva a pensar que a vida da menina foi recolhida antes dela sentir qualquer dor, invasão e sofrimento. Mas minha outra metade chora de repulsa e se debate dentro de mim porque um mundo tão cruel não pode se tornar lar de uma criança para que menos de um mês depois ela seja assassinada da maneira mais terrível quanto é possível.
A mãe da criança prestou depoimento à justiça e eu não imagino a dor que ela está enfrentando. Não culpem esta mulher, tenho certeza de que ela já está carregando este peso nos ombros. “Mas como ela não suspeitou? Não ouviu nada? Que relapsa!” – parte de vocês deve estar pensando. O culpado é o homem cujo nome não encontrei em nenhum veículo de comunicação. Ele está sendo protegido, mas a neném não foi. Antes de transferirem a culpa à mãe, lembrem-se se que crianças recém-nascidas choram e é natural que uma mulher no puerpério esteja exausta e confie em seu companheiro para cuidar da filha durante a noite. Entendam que o absurdo não está no fato de que a mãe dormia, mas sim no homem que estuprou a filha que havia nascido há três semanas e meia.
A parte mais dolorosa é que a vítima não pôde pedir socorro, era incapaz de se defender e, pior, nem entendia o que estava acontecendo com ela. Sabem, eu também não entendo. Porque o monstro não se esconde embaixo da cama, ele nos põe pra dormir.