Anna Luiza Calixto participa de série da EPTV de Campinas sobre abuso sexual

Discutindo a importância da educação sexualna prevenção às violências, o episódio está disponível na GloboPlay.

A EPTV, emissora de televisão afiliada da Rede Globo em Campinas, apresentou durante a última semana (de seis a dez de fevereiro) os cinco episódios da série documental “Abuso”, coordenada pelo jornalista Heitor Moreira, que adapta o conteúdo do livro “Abuso – a cultura do estupro no Brasil” de autoria da jornalista e apresentadora do Bom DiaBrasil, Ana Paula Araújo.
A pesquisa de quatro anos da autora se transformou em uma narrativa de impacto sobre a realidade da violência sexual no país, dialogando com vítimas, familiares e especialistas da área para compreender o que apontam as estatísticas e qual o papel social no enfrentamento a este crime. Ana Paula entrou até mesmo em presídios para ouvir diretamente de autores de crimes sexuais sobre suas versões dos casos.
Para participar do episódio da série que discute a violência sexual contra crianças e adolescentes – com destaque para a predominância de agressores no meio intrafamiliar – a escritora, educadora sexual e palestrante Anna Luiza Calixto foi convidada representando o Projeto Bem me quer, ferramenta cidadã que a jovem fundou em 2016 para levar as pautas de direitos humanos para as salas de aula brasileiras e que hoje já visitou 13 estados do país.
Em um diálogo com Heitor, Anna explica em frente às câmeras a importância da educação sexual para prevenir toda forma de conduta violenta e abusiva contra crianças e adolescentes, contrariando as falsas ideias que convencem muitas pessoas de que a educação sexual pode erotizar precocemente as crianças, expondo-as a conteúdos pornográficos ou inadequados a sua faixa etária. “Não é sobre isto. A educação sexual é capaz de ensinar crianças e adolescentes sobre o conceito de consentimento, o direito de dizer não, a importância da denúncia, a diferença do contato afetuoso e do toque abusivo e a autonomia corporal.” – disse Anna Luiza em sua entrevista.
A sérietraz histórias que provocam verdadeira perplexidade nos espectadores. Durante o episódio 2, em que Anna Luiza participa, a série apresentou o depoimento de uma adolescente que aos 12 anosfoi estuprada pelo próprio pai e ficou grávida. A vítima, hoje com 13 anos, decidiu entregar a bebê para adoção e revelou surpreendente lucidez em sua fala (protegida pelo anonimato) ao dizer que espera que a criança tenha uma vida boa em uma família que lhe dê amor. Anna Luiza destaca que a decisão dela deve ser respeitada por todos, uma vez que questioná-la seria outra violência e, ainda, quem lidará com as consequências da escolha é a própria vítima.
A série discutiu outros aspectos da violência sexual, como o estupro marital (aquele que acontece dentro do relacionamento em que a vítima é violentada pelo próprio parceiro), a possibilidade de sobrevivência e resiliência da vítima após o abuso sexual e a frequência desta violência durante datas como o Carnaval.
Além de Anna Luiza Calixto, foram convidados para a série nomes como os da diretora-presidente do Instituto Liberta Luciana Temer e da apresentadora Angélica, que em 2022 revelou ao público ter sofrido abuso sexual quando adolescente durante um ensaio fotográfico profissional. Sua entrevista destacou o quanto é absurdo que após ter sofrido uma violência tão séria a vítima ainda se sinta culpado pelo que aconteceu, enquanto boa parte da sociedade reforça estes estigmas desumanos e patriarcais.
Os cinco episódios foram exibidos nas quatro praças da emissora, em Campinas, Ribeirão Preto, Central e Sul de Minas Gerais. Ainda assim, moradores de Atibaia e região podem assistir a todo o conteúdo de “Abuso” na GloboPlay, que disponibilizou os episódios também para não assinantes.Basta pesquisar a palavra “Abuso” no buscador da plataforma ou acessar o link disponibilizado do perfil do Instagram @annaluizapalestrante para o público.
Para encerrar o episódio, Anna Luiza e Luciana Temer olham diretamente para a câmera e levam um recado para os abusadores. “Você roubou minha infância, minha feminilidade, minha capacidade de olhar para as pessoas e confiar, de olhar para o amanhã e pensar que ele vai ser melhor, minha esperança… E eu não falo aqui como Anna Luiza, falo como infância brasileira. Mas tem uma coisa que você não pode roubar de mim: a minha voz.” Que a voz de tantas vítimas nunca seja silenciada pelo eco do medo e da culpa, que jamais será de quem sofreu a violência.