O Grupo Dramático Gabriel D’Annunzio

Com o Pavilhão Recreio Cinema,além dos filmes, o espaço passou a abrigar apresentações teatrais, mímicas, mágicos, cantores, dançarinos e demais apresentações de variedades cênicas.

Márcio Zago

Texto que dá continuidade a história do teatro de Atibaia.
Inaugurado no final de 1911, o Pavilhão Recreio Cinema em pouco tempo ganhou a preferência dos espectadores e dos artistas ligados a arte cênica em Atibaia. O Teatrinho do Mercado, único espaço teatral existente até então, logo sucumbiu à concorrência e foi extinto em 1915, mas enquanto existiu acolheu inúmeros grupos teatrais formados pelos amadores da cidade. Com o Pavilhão Recreio Cinema,além dos filmes, o espaço passou a abrigar apresentações teatrais, mímicas, mágicos, cantores, dançarinos e demais apresentações de variedades cênicas.
Em 1914 surge o primeiro grupo teatral formado por amadores locais diretamente ligadosa esta casa de diversões: O Grupo Dramático Gabriel D’Annunzio. Sua diretoria ficou assim constituída: Presidente – Tranquillo Pastorelle; Secretário – Dante Bartorelle; Tesoureiro – Ferdinando Pastro e Diretor cênico,o já conhecido, Alexandre Paganelli. A peça de estréia foi “Bruno filatore”, que contou com os atores TranquilloPastorelle, C. Chiocheti, BazílioCanazzi, A. Bartholomei, Sereno Partorelli, G. Fornasari, Constante Bretan e a sra. Catharina Guizaldi. Finalizava a apresentação a comédia “Il cuoco e il secretário”, tendo no papel principal Alexandre Paganelli.
Alexandre foio responsável pelo desenvolvimento da cena teatral de Atibaia enquanto esteve à frente do Grupo Dramático Carlos Gomes e agora assumia a direção do novo grupo que se formava. Como se nota, essa nova associação era constituído somente por italianos, uma tendência da época. Naquele inicio de século XX era comum à formação de grupos e associações com afinidades sociais, ideológicas e raciais que visavam à preservação de seus ideais. O nome escolhido, Gabriel D’Annunzio (o certo seria Gabriele) era o pseudônimo de GaetanoRapagnetta, um artista controverso. O escritor, poeta e político italiano ganhou notoriedade mundial com o famoso romance “O prazer”, de 1889,dedicado à atriz Eleonora Duse, com quem teve um célebre caso de amor. São dessa época suas melhores peças teatrais.
Em 1900 ingressa na política como porta-voz do nacionalismo de extrema-direita. Os escândalos de sua vida privada, contudo, não facilitaram a nova carreira. Em 1911, perseguido por inimigos e credores, refugia-se em Paris, onde escreve “O martírio de São Sebastião”, que Debussy, depois, musicaria.
Identificado como um precursor dos ideais e das técnicas do fascismo italiano, Gabriele D’Annunzio foi uma espécie de ídolo dessa facção e adorado por parte da colônia italiana no Brasil. Seu nome foi empregado em inúmeras associações pelo país afora, e não só em associações de caráter cultural. Em Campo Largo, por exemplo, havia a Societá Italiana di Mutuo-Soccorso Gabriele D’Annunzio, que após a segunda guerra mundial daria sérios problemas aos associados. Esse novo grupo teatral que se formou a partir do primeiro cinema de Atibaialogo ganhou notoriedade e despertou a concorrência do segundo cinema, o Palace Theatre, que também tratou de formar seu próprio grupo teatral: o Grupo Dramático José de Alencar. Assunto para a próxima semana.