Gastos com Saúde em Atibaia devem chegar a R$ 190 milhões

Atibaia é responsável por cerca de 87% do orçamento da saúde atualmente. Governo Federal responde por cerca de 12% e Estado por apenas 1%.

O Atibaiense – Da redação

A Prefeitura de Atibaia tem investido cerca de 25% do orçamento para a saúde do município, mas existe a necessidade de maior participação dos governos Estadual e Federal para que atendimentos sejam ampliados, analisa a secretária municipal de Saúde, Grazielle Bertolini, em entrevista exclusiva ao jornal O Atibaiense.
O gráfico do orçamento executado no primeiro quadrimestre mostra que 87% do custo da saúde foi bancado pela Prefeitura. Chegaram outros cerca de 12% de fonte federal e apenas 1% do Governo do Estado. “É muito pouco. Todo o custo está nas costas do município. E mesmo que tenha dinheiro, sempre vai faltar”, explica a secretária.
Ela acrescenta que atualmente cerca de 25% do orçamento municipal vai para a saúde. A obrigação constitucional é de 15%. Em 2022, a previsão é de R$ 190 milhões para a pasta, mas desse total, R$ 90 milhões são para a folha de pagamento dos profissionais da área. Dos R$ 100 milhões restantes, cerca de R$ 50 milhões são para manutenção dos atendimentos da UPA Cerejeiras e da Santa Casa. São apenas R$ 50 milhões para cobrir todo o restante dos atendimentos, o que inclui as 18 unidades básicas de saúde, realização de exames, compra de remédios para a farmácia municipal, andamento de programas etc.
“Para 2023, a previsão orçamentária é de R$ 200 milhões, mas teve dissídio e nossa folha vai para R$ 105 milhões. Tem que buscar recurso federal, recurso do Estado. Para a Santa Casa, o Estado destina R$ 1 milhão por ano. Tem que ter conversa com Estado para aumentar o investimento”, analisa Grazielle.
Recentemente, o deputado estadual Edmir Chedid solicitou ao Estado R$ 5 milhões para Atibaia. Grazielle conta que agora a equipe está fazendo o plano de trabalho para receber a verba. “Precisamos dizer com o que vamos gastar esses R$ 5 milhões e no nosso caso vamos usar para os mutirões de especialidades, para exames e cirurgias. Governo do Estado deve pagar ainda este ano e somos muito gratos pela ajuda do deputado”.

FILA DE EXAMES
Com relação aos exames no município, a secretária explica que algumas filas foram zeradas, como cintilografia miocárdica, após licitação. “Para mamografia estamos licitando um caminhão que deve vir em novembro para fazer 2.000 exames. Atualmente temos 1.400 mulheres esperando. Agora vai zerar a fila. E também vamos contratar exames em uma clínica para atender na rotina. Nenhuma mulher vai ficar sem a mamografia”.
Grazielle acrescenta que a carreta da mamografia do Governo do Estado já veio para a cidade e ajudou a diminuir a fila, mas a ação atende apenas 500 exames por cidade.
Com relação a tomografias, foi possível zerar a fila com a ampliação dos exames na Santa Casa, que recebeu novo aparelho, e com atendimentos do AME (Ambulatório Médico de Especialidades).
“Temos outros problemas, como colonoscopia e endoscopia que ainda não zeramos. Conseguimos ampliar, mas não zerou. Temos também problemas com especialidades. Oftalmologia, por exemplo. Vamos fazer neste sábado (05) o Menina dos Olhos, programa que é parceria entre a saúde, a educação e o Rotary Club. Vamos nas escolas, fazemos exames e triamos as crianças que tiverem alteração. Essas vão passar com oftalmologista. O Rotary faz a parceria com a Unicamp e os médicos vêm fazer os exames nas crianças. O Rotary também paga os óculos. Neste sábado serão 1.200 crianças atendidas no CIEM II”, destaca.
Ela acrescenta que já foram realizados o mutirão de dermatologia, de ultrassom transvaginal e a meta é, até o meio do ano que vem, estar com demandas com prazo de agendamento entre 30 a 60 dias. “Vamos agora, com esses R$ 5 milhões do Edmir Chedid, comprar mais exames e vai ajudar a diminuir as filas”.
Com relação às cirurgias, foram zeradas as filas de vesícula e de vasectomia. “Agora estamos fazendo de hérnia. Mas hérnia fazemos fora, na Unicamp e em Pedreira. Vamos começar as de ortopedia e de mioma e ginecológicas”.
Os exames de rotina são realizados pelo laboratório municipal e estão em dia. São cerca de 40 mil exames por mês.

REMÉDIOS
A retirada de medicamentos nas farmácias dos postos de saúde tem apresentado também um grande volume. No primeiro quadrimestre, 246.454 pessoas retiraram remédios (número de pessoas é alto pois alguns retiram mais de uma vez).
Grazielle explica que o município é responsável pela medicação básica. “Tem a relação mínima que municípios devem atender. Atibaia hoje atende mais que o mínimo. Mas não está 100%. Hoje estamos com soro fisiológico ringer em falta. Temos a licitação, a empresa que deveria fornecer, mas o fabricante não tem a matéria-prima. Tivemos o problema de falta de matéria-prima, da guerra da Ucrânia”.
A secretária acrescenta que mais de 200 itens padronizados são disponibilizados na rede. “Se estiver faltando, é de três a quatro dentro desses mais de 200. O que a população mais reclama não é o medicamento que é de responsabilidade da Prefeitura. É o do alto custo. Tem um grupo que o paciente faz o processo e nós retiramos junto com o Governo do Estado. É o Estado que compra e muitas vezes falta. Quando esse paciente não consegue pegar, ele entra na Justiça. E nós precisamos discutir a judicialização do SUS. Estou com uma judicialização para uma medicação oncológica que custa R$ 2 milhões para um paciente. No ano, para comprar os 200 itens que abastecem as 18 farmácias e atendem a população de Atibaia, ou seja, 145 mil habitantes, gastamos em média R$ 5 milhões ao ano. Para dar remédio para todos. Atendemos em 2021 a 129 mandados judiciais que consumiram cerca de R$ 3 milhões. A Saúde é tripartite, União, Estado e Município. A pessoa mora na cidade e o juiz não quer saber se município pode ou não comprar, não determina para Estado ou União, determina para a Prefeitura, para cumprir em 24 horas. Mas precisamos levar essa responsabilidade para quem tem mais dinheiro, que é Estado e União”.

SANTA CASA
Com as mudanças na intervenção da Santa Casa, Grazielle avalia que a relação com a Secretaria de Saúde melhorou. “Conseguimos melhorar na vazão, resolutividade do Pronto-Socorro. Mudamos equipe. Melhoramos a qualidade dos exames de imagens, com equipamentos novos. Estamos informatizando o prontuário, para ter o prontuário eletrônico e integrar a informação com a Secretaria de Saúde. Gestão compartilhada nunca tinha que ter sido perdida. Agora a pessoa tem alta já com encaminhamento para a rede básica de saúde para o acompanhamento e o prontuário dela está disponível para toda a rede municipal de saúde”, conta.
Enquanto a questão do Hospital Municipal não se resolve (está na Justiça), estão sendo feitas algumas mudanças paliativas na Santa Casa, mas segundo Grazielle, o espaço do hospital atual não comporta mais o atendimento. “Vamos agora reformar o prédio da esquina para colocar a maternidade, mas é um paliativo. Também vamos mudar a entrada para quem vai ser atendido no pós-cirúrgico. Hoje ficam na recepção do Pronto-Socorro e parece que há muita gente sem atendimento, mas na verdade são pessoas que estão com o retorno pós-cirúrgico agendado”.

PROFISSIONAIS E POSTOS
DE SAÚDE
A secretária conta também que a equipe da saúde foi reforçada, com a contratação de 150 novos funcionários, entre eles 12 médicos, mas esse total ainda é insuficiente.
Atualmente há 18 unidades básicas de saúde, mas nem todas com a equipe completa. “Das 18 unidades, temos em construção três unidades novas. Uma delas é a do Tanque. É bem pequena a atual, então não aumentamos o total de unidades com essa nova no Tanque, somente trocaremos por um prédio maior e teremos mais equipes trabalhando. Para o bairro da Usina está sendo licitada nova unidade, também maior que a atual. E haverá uma unidade, esta sim ainda não existente, para atender o Conjunto Habitacional Jerônimo de Camargo”.
Com relação ao posto do Imperial Grazielle explica que são hoje três equipes. “Imperial está com equipe incompleta. Precisaria de mais três equipes. Após terminar a obra de ampliação do Imperial, que será a maior unidade da cidade, serão seis equipes atendendo no local. Vamos ampliar ainda as unidades do Cerejeiras, Portão e Alvinópolis. Áreas que cresceram muito. Meta é entregar tudo até o final do governo. O Tanque tem previsão de entregar entre março e abril de 2023. O Imperial queremos entregar em janeiro de 2023. A parte nova já entregamos. Usina e Jerônimo até final de 2023. As ampliações ainda vão demorar um pouco mais pois são pelo FINISA (financiamento federal) e estava na Câmara para aprovar”, explica a secretária.

VACINAÇÃO
As campanhas de vacinação perderam adesão, segundo a secretária. “Estamos com duas campanhas no momento: poliomielite que foi prorrogada e a campanha de multivacinação. A de pólio chegamos a uma cobertura vacinal de 90,68%. Ainda não é o ideal, pois todas as campanhas a meta é ficar acima de 95%, para ter cobertura segura, de imunidade de rebanho. Quando vemos dados de crianças com até um ano de idade, é a menor a cobertura, de 86,05%”.
A secretária diz que há um desafio com todas as vacinas. “Voltamos a abrir a vacinação de influenza. Atingiu 77%. Para a Covid-19 houve grande adesão nas duas primeiras doses. Terceira e quarta doses não chegamos a 70% de cobertura, caiu muito. E estamos vacinando. O que podemos fazer com relação a todas as vacinas é um investimento profundo em educação sanitária. Temos que discutir saúde e autocuidado desde a escola, desde criança, com um trabalho de conscientização desde a escola”.
O trabalho tem sido de busca ativa, procurando faltosos e indo atrás. Há ainda como novidade para 2023 a implantação do certificado de regularidade vacinal como exigência de matrícula. Não é a carteirinha. Pais devem ir ao posto, mostrar a carteirinha do filho para ser emitido o certificado ou serem orientados sobre as vacinas que faltam. Os que se negarem a dar as vacinas nas crianças assinarão um termo de responsabilidade.
“Temos que voltar a ter a confiança da população no calendário de vacinação. Era um orgulho para o brasileiro e nós éramos um exemplo no mundo”.

DENGUE E
FEBRE MACULOSA
Os casos de dengue confirmados em Atibaia já chegaram a 1.042 em 2022. “Temos nosso trabalho de orientação casa a casa durante a semana e todos os sábados o trabalho de catatreco. Essa deveria ser ação da limpeza urbana, mas fazemos para diminuir acúmulo dos criadouros. Agora é crucial prevenir. Chegaram as chuvas e o calor”.
Sobre a febre maculosa, Grazielle explica que há trabalho de orientação, especialmente dos que vivem no campo. Foram dois casos registrados em Atibaia até o momento e um evoluiu para óbito. “ A febre maculosa é isolada de áreas que tem infestação. É por meio do carrapato. Temos em nossa região muitas áreas de infestação, principalmente onde tem rios e córregos. É pelo carrapato estrela, que é de mata, não é de área urbana. Fizemos uma ação com o Sindicato Rural para conscientizar sobre os cuidados, como as roupas de mangas compridas, botas, examinar o corpo. Se perceber picada, pessoa deve observar se sintomas vão aparecer”.
A varíola dos macacos teve cinco casos confirmados na cidade entre julho e agosto e não há registros recentes. Quanto aos casos de Covid-19, são poucas as notificações recentes, mas há trabalho para aumentar a cobertura vacinal.
Uma preocupação hoje é com casos de hepatites B e C, sífilis e HIV. Em 2022 foram confirmados 19 casos de HIV positivo em Atibaia e de sífilis, 85. Segundo a secretária, o teste é rápido e sigiloso e pode ser feito na rede básica de saúde.

SAÚDE MENTAL
Durante a pandemia, as doenças mentais passaram a ter mais atenção. E agora, com a volta à normalidade, estão aparecendo os casos, especialmente em crianças. “Com volta às aulas presenciais recebemos muitos casos de crise de ansiedade, pânico, automutilação de crianças e adolescentes. Estamos preocupados e acompanhando”.
“Nossa epidemia silenciada é a saúde mental. Uma das ações em nosso plano de governo é a estruturação da saúde mental. Estamos inaugurando o CAPES AD (voltado para dependentes de álcool e drogas. Quando falo drogas não é só ilícita. Temos uma legião de pessoas dependentes de remédios. E em 2023 vamos implantar o CAPES IJ que é o infanto juvenil. E temos o CAPES 2, que atende os casos graves”, finaliza.