O Grupo Lyrico Franzoso-Gusso

Marcio Zago*

Ao mesmo tempo em que o povo simples de Atibaia encontrava o lenitivo eficaz contra as agruras da vida nos cânticos religiosos e nas músicas profanas, a elite econômica também se utilizava desse recurso para mitigar a alma. Mais que expressão da alma, para eles a música era também símbolo de status e erudição. A primeira notícia sobre música de câmara, portanto das elites econômicas, pinçada nas páginas do jornal “O Atibaiense” é de 1901 (data da fundação do jornal), quando um pequeno artigo chama a atenção para a apresentação de estreia do “Grupo LyricoFranzoso-Gusso” nas dependências do Clube Recreativo Atibaiano.
Parece tratar-se de um grupo de Atibaia, mas nenhuma informação confirma essa hipótese, uma vez que este artigo é tudo que existe a respeito do grupo e das pessoas citadas. Nada mais foi encontrado até o presente momento.
O artigo, com o título “Concerto” diz: “Realizou-se quinta feira última, no vasto salão do Club Recreativo Atibaiano a estreia do Grupo Lyrico Franzoso-Gusso, cujo programa foi rigorosamente executado. Entra as peças de boa execução destacamos a que mais agradou foi o gran-duo do Guarany, que foi magistralmente cantado, e a romanza Dinorah, de Meyeber. O pianista Sr. H. Gzsso portou-se admiravelmente, executando com muita expressão todas as peças do programa. O salão do Club esteve literalmente cheio, sendo todos os concertistas muito aplaudidos. O programa constou do seguinte.
Primeira Parte:
Zeller–Marcha dos Vendedores de Pássaros – Sr. H. Gusso
Carlos Gomes – Mia Picerella (S. Rosa) – Sra.Franzoso
Hervé – Fica Quieto Nhonhô – Sra. M. Franzoso
Cavalcanti – NoblesseGavotha – Sr. H. Gusso
Varney – Duo da Mascotta – Sra. M. Franzoso
Segunda parte:
Pinzarrone – Phantasia no Guarany – Sr. H. Gusso
Rotoli – La mia Bandiera – A. Franzoso
Motero – El Amor esla Vida – Maria Franzoso
N.N. – Valsa – Sr. H. Gusso
Verdi – Duo do Trovador – Sra. M. Franzoso
Terceira parte:
J. Acher – Dance Negre – Sig. H. Gusso
Meyebeer – Dinorah (Romanza) – Sig. A. Franzoso
Rossini – O Barbeiro de Sevilha – Maria Franzoso
Gounod – Valsa no Fausto – H. Gusso
Carlo Gomes – Gran Duo do Guarany – Sra. A. e M. Franzoso.”
E a nota continua: “Informaram-nos que hoje haverá novo concerto com programa atraente. Ninguém deve perder, visto ser acontecimento raríssimo entre nós ouvir musicas boas cantadas por hábeis profissionais”. Na época o Clube Recreativo Atibaiano, fundado em 1897, começava a reunir a alta sociedade atibaiana em ações recreativas e culturais. Apresentações musicais como do Grupo Lyrico Franzoso-Gusso passaram a acontecer com frequência durante as primeiras décadas do século XX, concentrando ali, além da música, a literatura, as “soirées” dançantes e as palestras, enquanto as apresentações teatrais e as projeções cinematográficas eram realizadas no “Teatrinho do Mercado. Dessa forma, ora com artistas locais, ora com artistas e companhias visitantes, a elite econômica atibaia tomava gosto pela erudição e incluía o entretenimento cultural em seu cotidiano social.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.