A depredação das placas das trilhas da Serra do Itapetinga: uma derrota da sociedade
Por José Guedes, Francisco Leal, Bruna Locardi e Marina Koketsu que integram o Coletivo Socioambiental de Atibaia.
Fotos – José Guedes
Acordamos em uma manhã de sábado (17/06), e nos deparamos com uma triste notícia de um grupo de whatsapp: fotos retratavam a destruição das placas de entrada das trilhas da Minha Deusa e da Gruta São José no Parque Estadual do Itapetinga, em Atibaia. A primeira trilha é o principal acesso para quem vai andando ao Monumento Natural (MoNa) Estadual da Pedra Grande e a segunda leva para uma gruta com a imagem de São José, em que se encontram ruínas de uma área de banho na Serra do Itapetinga, conhecida como “Monges”.
Essas placas foram instaladas em 2021, junto com mais outras 12, durante a execução do projeto de apoio ao uso público do Complexo de Visitação da Laje da Pedra Grande, que foi liderado pela OSCIP SIMBiOSE, com financiamento municipal (Fumdema) e com apoio da Fundação Florestal (FF). Estas unidades de conservação (UCs) estaduais na Serra do Itapetinga têm a gestão sob responsabilidade da Fundação Florestal.
Placas de entrada das trilhas Minha Deusa (do lado esquerdo) e da Gruta São José (lado direito) e no centro a placa de advertência (Foto José Guedes em fevereiro de 2022).
Como as trilhas não haviam sido oficialmente sinalizadas desde a criação dessas UCs, que existem há 13 anos, a colaboração do Município no ordenamento e instalação das placas foi uma importante adição de fonte de segurança e conhecimento aos visitantes, assim como, reforço nas imagens do Parque e do MoNa. Ressaltamos outras duas importantes ações deste projeto liderado pela SIMBiOSE: o manejo da trilha da Minha Deusa e a contagem dos visitantes na laje da Pedra Grande.
Este trabalho de recuperação da trilha construiu 250 degraus, 80 saídas de água e uma série de escadas hidráulicas para reduzir a erosão e facilitar o acesso das pessoas à Pedra. Porém, isso aconteceu apenas no primeiro trecho da trilha, a qual ainda precisa de manutenção após o córrego. Por sua vez, a contagem dos visitantes trouxe dados muito importantes: mais de 100.000 pessoas visitaram o MoNa Pedra Grande em 2021, mesmo com alguns fechamentos da UC por conta da pandemia de covid-19. Pela trilha da Minha Deusa, mais de 10.000 pessoas passaram pela mesma, vindas de diversos estados do Brasil e de mais de dez países.
Este levantamento ressalta a importância turística de Atibaia que se soma às diversas práticas esportivas na Serra, que conta com eventos de porte nacional, como o Rocky Mountain Games, Pedra Grande Trail Runner, festival Takao Ono, entre outros relacionados ao voo livre. Outro aspecto importante é que Atibaia concorreu ao prêmio Top Destinos Turísticos na categoria Turismo de Aventura. Nesse sentido, arriscamos a dizer que um dos principais atrativos deste turismo no município está relacionado a estas trilhas no Parque Estadual do Itapetinga, as quais precisam ser melhor cuidadas para proporcionar uma boa experiência aos/as usuários/as.
Entretanto, a Fundação Florestal possui um histórico de recursos limitados e o recente contingenciamento do governo estadual de São Paulo restringiu a disponibilidade de funcionários e recursos empregados em ações de gestão, fiscalização e educação ambiental. Além disso, o apoio municipal do Fumdema, que contribuiu na contratação de uma organização da sociedade civil (SIMBiOSE), foi finalizado em fevereiro de 2022.
Nesse momento, acontece a pavimentação da estrada de acesso à Pedra Grande, o que deve gerar um grande aumento na visitação do local. Como será essa visitação ampliada em um cenário de placas quebradas e falta de equipe para organização?
Placa de entrada da trilha Gruta São José no Parque Estadual do Itapetinga, em Atibaia, São Paulo. (Foto José Guedes em fevereiro de 2022).
Além dessas três placas quebradas em 17/06/2023, outras quatro placas (três de sinalização e uma de advertência) foram quebradas ao longo da trilha da Minha Deusa. Uma delas sinalizava a opção de caminho após uma bifurcação, levando os visitantes a passarem na bica d’água (desde já deixamos a dica de pegar a direita no final da longa subida inicial da trilha). No total de 15 placas instaladas, sete já foram quebradas em menos de dois anos. Possivelmente, isso foi resultado da ação de um ou poucos indivíduos, entre mais de 10.000 visitantes no ano, que reflete problemas educacionais em nossa sociedade. Esta ação isolada contribui para a confusão dos visitantes, principalmente turistas e moradores que não possuem familiaridade com o trajeto.
Consideramos que o ocorrido demanda atenção não só do órgão gestor estadual, mas também do poder público local, dos empresários do turismo e da sociedade civil para garantir uma boa experiência aos visitantes, auxiliar na segurança de moradores e turistas em paralelo ao reduzido impacto ambiental na Serra, cartão postal da cidade.
E como fazer para que as partes interessadas se façam mais presentes nesse processo? É essencial que o poder público local, e os demais atores sociais, reconheçam e valorizem a Pedra Grande como um patrimônio natural e cultural de Atibaia e região com enorme contribuição à qualidade de vida, economia e ao turismo local.
A exemplo do que ocorre no Monumento Natural da Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí, acreditamos na importância no estreitamento de laços entre o Estado e o Município, construindo uma relação colaborativa de longo prazo com investimento permanente. Projetos são importantes, mas os prazos curtos prejudicam seus resultados. Da mesma forma, investimento em estrutura é positivo, mas a ausência de pessoas na operação e segurança, a estrutura fica vulnerável ao pior lado da sociedade.
O efeito do vandalismo às placas foi imediato: ao percorrermos a trilha para averiguar os danos no sábado, encontramos uma família com criança de colo, retornando no meio da trilha da Gruta São José. Era a primeira vez deles no local e a falta de sinalização adequada os deixou inseguros em qual caminho seguir. Esperamos que este cenário se reverta e as trilhas da Serra do Itapetinga possam ser cuidadas e conservadas para proporcionar sempre boa experiência aos nossos mais de cem mil visitantes e acessível a todos os atibaianos.
Placa de entrada da trilha Minha Deusa no Parque Estadual do Itapetinga, em Atibaia, São Paulo. (Foto José Guedes em fevereiro de 2022).