Companhia de Fantoches
Um fenômeno comum naquela época, mas que deixou de acontecer, provavelmente, em razão das mudanças climáticas.
Márcio Zago
No inicio do século XX Atibaia recebeu a visita de algo inédito até então: O Pavilhão Minas Gerais. Armado no Largo do Mercado a companhia trazia pela primeira vez um espetáculo de fantoches para o município. A novidade encantou as crianças e os adultos da época que encheram “a cunha” todas as apresentações. O Pavilhão Minas Gerais, segundo os jornais, era a única companhia neste gênero a percorrer os vários estados brasileiros, sempre com grande aceitação popular. A companhia tinha como diretor e empresário Henrique Fornero, que manipulava os bonecos pelo sistema mexicano, oferecendo, segundo “O Atibaiense”, espetáculos executados com “muita habilidade e limpeza”.
O sucesso foi tanto que o Recreio Cinema teve de alterar sua programação para não coincidir os dois horários de apresentação, uma vez que ambos funcionavam no Largo do Mercado e trabalhavam com entretenimento. Vindo de Bragança, onde também fez grande sucesso, a companhia permaneceu na cidade por quinze dias, dois dos quais nada aconteceu em razão das fortes chuvas que caíram na cidade.
Um fenômeno comum naquela época, mas que deixou de acontecer, provavelmente, em razão das mudanças climáticas. Entre as atrações levadas a cena estava à grandiosa peça sacra “A vida e a morte de Pedro Malazarte”, onde o principal personagem era o “Briguella”, que representava o papel de galã. Este personagem fez sucesso por muito tempo. Já em 1895 o jornal “O Município”, de Diamantina – MG registrava a chegada da “Companhia Briguela” à cidade. Esta companhia foi antecessora do Pavilhão Minas Gerais e também pertenceu a Henrique Fornero. Assim descrevia a matéria: “Contra a expectativa pública, estranha em sua maioria ao modo de ser da companhia, os bonecos do Sr. Henrique têm obrado maravilhas no proscênio, chamando à plateia uma concorrência numerosa de espectadores. E tal tem sido essa concorrência que por duas vezes, a polícia suspendeu a entrada, com a intenção louvável de evitar o que se passa lá dentro, onde apesar da proibição, o auditório se confunde numa massa negra, cerrada e compacta, ficando os espectadores uns sobre os outros, colados às paredes, à bancada da musica, as costas dos vizinhos, inclinando-se, movendo-se, desenvolvendo tal calor, que em plena estação fria, fica-se ali como se estivesse num forno, com as honras de um biscoito”. Como se vê, o espetáculo fazia realmente grande sucesso. E o artigo continua: “Entre os bonecos tem sido estrepitosamente aplaudido o Briguella, pau para toda obra, que pelo seu perfeito mecanismo figura mais a caráter do que os outros (…). Á situação das gargalhadas repetidas, insistentes e estrondosas, os espectadores a encontra nas espirituosas comedias, onde o boneco Briguella é sempre façanhudo herói de mil proezas, fazendo cousas do arco da velha”. Depois de Atibaia a companhia seguiu para a capital do estado, onde foi cumprir um extenso compromisso de apresentações, deixando a criançada daqui com saudades do boneco Brigella e dos bons momentos vividos no Pavilhão Minas Gerais.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.