O primeiro coreto
Marcio Zago*
No livro “Atibaia – O Paraíso Possível na Terra”, de Nelson Silveira Martins o autor transcreve uma festa ocorrida no sábado de aleluia de 1865. No final do texto menciona o artigo de um correspondente do “Correio Paulista” quefazia referencia a um coreto existente em frente à igreja matriz. Do mesmo modo que o artigo elogiavaa festa, principalmente em relação às violas e as cantigas ao ar livre,também criticava os “enfeites” utilizados: “…Outro tanto, porém, não aconteceu no que diz respeito ao ornamento da igreja, do coreto e do Largo, que constou apenas de uma grande quantidade de tiras de chita vermelha, tão surrada que mal servirá para forros de canastras, guarnecidas (as tiras) de galões de velins amarrotados e marcados que não serviriam nem para pregar nas vestes do mais burlesco dos lacaios de comédias”.
O texto crítico do correspondente do “Correio Paulista” também chamou a atenção de João Batista Conti, que cita o mesmo trecho em seu livro “História de Atibaia”.Portanto em 1865 havia um coreto no Largo da Matriz e provavelmente foi o primeiro da cidade. No inicio do século XX já não havia nenhum coreto, segundo informações do próprio João Batista Conti.Ainda, segundo ele, em 1909 foi construído um segundo coreto no próprio Largo da Matriz e mais tarde outro no Largo do Santo Cruzeiro (décadas depois seria construídooutro na Praça Aprígio de Toledo).
Na consulta que realizo nas páginas do Atibaiense revela-se o contrário. As noticias dão conta que em 1904 Castro Fafe requereu, e conseguiu, da Câmara Municipal de Atibaia um terreno para edificar um coreto no Largo do Santo Cruzeiro (hoje Praça Miguel Vairo). Em julho de 1909 o jornal “O Atibaiense” informou sobre uma apresentação da banda musical “União da Mocidade” que ocorreu no coreto do Santo Cruzeiro, confirmando que até essa data ele já estava em plena atividade.
Somente dois meses depois é que chegaram as primeiras noticias da construção do coreto do Largo da Matriz. E aqui deixo claro tratar-se apenas de uma observação que realizei ao comparar os fatos. Nada mais que isso. O coreto do Largo do Santo Cruzeiro foi construído em frente à capelinha ali existente e palco de inúmeras apresentações e concertos musicais que ocorriam nas vésperas do dia da Santa Cruz (assunto já abordado anteriormente). O coreto abrigava também os disputados leilões que forneciam os recursos necessários para a manutenção da igrejinha, sob o olhar atento de seu zelador, o português Castro Fafe. Quanto ao coreto do Largo da Matriz, sua aquisição se deu através da Câmara Municipal e foi inaugurado dia 7 de novembro de 1909, com a banda musical União da Mocidade, na época regida pelo maestro Tapajara Pinto.
O coreto ficava entre àRua José Lucas e a porta da igreja, no largo da Matriz (hoje Praça Claudino Alves). Três anos depois ele foi totalmente reformado ganhando o dobro de seu tamanho original até ser demolido em 1936, quando ocorreu uma grande reforma na praça… Mas isso é outro assunto.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.