O futuro do jornalismo local vai depender da agilidade das equipes
Por Luiz Gonzaga Neto
O jornalismo local ganhou importância com a pandemia. Mais em casa, os cidadãos passaram a buscar mais informações sobre sua rua, o bairro, região e cidade, para tomar decisões, seja de compras, seja de deslocamentos, seja de planejamento. Assim, as “local news”, como dizem os americanos, podem ser um artigo de primeira necessidade diariamente, ajudando no enfrentamento de desafios e na conquista de objetivos. Essa orientação, em muitas comunidades, ainda é exceção e não a regra.
A longevidade do jornal O Atibaiense comprova a prioridade da notícia e do anúncio locais. Em artigo para o Nieman Lab, informativo americano, Sarah Alvarez reconheceu a importância desse serviço e seu potencial para o futuro. Nos Estados Unidos, muitos jornais locais deixaram de existir, sugerindo que a imprensa precisa aprofundar e estender sua compreensão sobre o que é importante para as comunidades, para além do barulho da internet e da agitação desmiolada das redes sociais.
As comunidades precisam de diferentes modelos de notícias. Nós que estamos envolvidos neste ecossistema, temos de decidir se queremos servir à curiosidade das audiências de elite ou às carências do público em geral. Há uma experiência a considerar em Detroit, EUA, construída pelo Outlier Media. A questão é semelhante no cenário brasileiro, quando pensamos no contexto geral. Desigualdade de renda implica padrões diferentes de consumo de informação, tanto aqui quanto lá. As pessoas com menos dinheiro têm menos tempo para navegar na internet em relação a quem tem mais renda e mais disponibilidade de investigar, comparar, avaliar e descobrir oportunidades interessantes.
Todos buscam informação, hoje muito nas redes sociais e nos sites de compras. Quem precisa do jornalismo tradicional, no sentido do noticiário político, econômico e social? As camadas médias, formadas por profissionais liberais, educadores, empresários e empreendedores, costumam valorizar mais os meios de comunicação estabelecidos. Prestadores de serviços, funcionários do comércio e da indústria, entre outros, tendem a buscar a informação precisa sobre preços, promoções e oportunidades de negócios. Grupos minoritários, com teses de gênero e posturas criativas e inovadoras tanto em tecnologia quanto nas atitudes, se sentem atraídos por notícias que falam de seus ídolos, das celebridades que cultuam, de seus estilos de moda, consumo e comportamento.
Essa divisão acima é certamente superficial, quase caricata, e passa por cima de nuances cada vez mais detalhistas, que cruzam os desejos, sonhos e objetivos das várias classes sociais e suas camadas internas, “roubando” noites de sono de publicitários e marketeiros. Os jornalistas sempre quiseram ignorar essas “firulas”, mas o momento agravado pelo coronavírus nos jogou no mesmo barco e na mesma tempestade. Os mais inteligentes e criativos vão sobreviver. O esforço de inclusão não pode mais ignorar distinções nem marginalizar segmentos sociais que historicamente ficaram esquecidos.
Uma vida cívica saudável pressupõe jornalismo adaptado à função de servir, de preencher as necessidades de informação em primeiro lugar. Os “gaps” informativos são perigosos tanto para os indivíduos quanto para as populações. Em casos de emergências, como inundações cíclicas, desabastecimento ou perdas de vidas em acidentes, a falta de informação pode impactar negativamente os cidadãos. Os sites governamentais tentam preencher esse vazio, mas apenas os veículos de comunicação possuem a credibilidade e a rapidez indispensáveis para distribuir informações de utilidade pública. Se o jornalismo local será capaz de resolver tantas demandas, vai depender da agilidade das equipes, de sua sensibilidade para os temas de interesse geral e da criação de redes de contato realmente eficientes entre produtores e consumidores de notícias.
* Luiz Gonzaga Neto é jornalista, analista em comunicação da Câmara de Atibaia e blogueiro, autor de brincantedeletras.wordpress.com. Esta coluna pode ser lida também no site do jornal O Atibaiense – www.oatibaiense.com.br.