Naturebas são elogiados depois de estudos sobre agrotóxicos
Como sou visto como natureba por alguns amigos e parentes, um artigo do Nexo Jornal, assinado por Gerd Sparovek e Andre Degenszajn, me fez pensar nessa opção de buscar, principalmente, os alimentos orgânicos. Existe uma agricultura que abusou dos agrotóxicos e outra, a orgânica, que quer voltar a alimentos mais “naturais” e é acusada por muitos de “modismo”. Sob a luz ou crítica da ciência, todos esses termos se tornam polêmicos e as reações parecem muitas vezes mais psicológicas do que fundamentadas no conhecimento do metabolismo molecular.
O texto citado aponta que a aplicação de agrotóxicos no Brasil opera em um ambiente de profunda desregulação e falta de monitoramento. O glifosato é utilizado regularmente em dezenas de milhares de hectares de lavouras todos os anos, ameaçando fragmentos de vegetação natural pela deriva (aplicação do produto em local não desejado) decorrente da pulverização aérea e terrestre, assim como as lavouras e comunidades vizinhas dos grandes imóveis rurais. Extratos de nicotina extraídos do fumo são utilizados em algumas centenas de hectares de cultivos orgânicos e agroecológicos, onde são aplicados manualmente. Escapam também à sua análise a utilização de substâncias não indicadas para determinadas culturas ou a influência dos lobbies da indústria química no afrouxamento da regulação dos agrotóxicos.
“A produção agrícola baseada em insumos industriais, ganho de escala em monocultivos, erosão genética e na assimilação do conceito da linha de produção industrial na sua organização acarreta sérios problemas ligados à saúde humana, ao bem-estar animal e à degradação ambiental. Fazendo um deslocamento temporal, a agricultura surgiu há aproximadamente 12 mil anos. Ao longo de toda sua história, até a década de 1930, sua base foi ecológica. Em 1910, foi erguido o último pilar da agricultura que praticamos hoje, denominada Revolução Verde. Mas, ao contrário do que a sua denominação pode sugerir, a Revolução Verde não trouxe notícias boas para a relação entre a agricultura e o meio ambiente”, alertam os autores.
Assim, o sistema “natureba” perdurou e sustentou a humanidade durante 99,9% da história da agricultura. Nesses 99,9% do tempo, a produção de alimentos se sofisticou integrada à natureza, aprimorada para tirar o máximo possível dos ciclos naturais dos nutrientes e da integração de diversas plantas cultivadas e criações animais. A preservação da natureza era essencial para prover os alimentos. Os sistemas de produção tradicionais, de base ecológica, supriam em torno de 70% dos alimentos consumidos pelos humanos, os 30% restantes eram extraídos da natureza. Ambos, a agricultura e o ambiente natural preservado e funcional, eram igualmente importantes. Os impactos desta agricultura nunca ameaçaram o equilíbrio climático global, a extinção em massa da biodiversidade, a disponibilidade de recursos hídricos, a contaminação do ambiente, ou, de forma direta, a saúde humana.
Nesta trajetória histórica, contextualizam Gerd Sparovek e Andre Degenszajn, a quantidade de alimentos produzidos nem sempre foi suficiente, levando, em muitos eventos, à fome e à desnutrição. Este é o aspecto mais crítico que foi equacionado pela forma de produzir adotada a partir da década de 1930. O persistente problema da fome, contemporaneamente, está menos ligado à capacidade de produção e mais às desigualdades no acesso a alimentos. A Revolução Verde mudou a lógica da relação com a natureza e simplificou o processo produtivo. Os ciclos naturais e os recursos que a natureza proporciona perderam importância. Ao invés de saber como produzir de forma integrada à natureza, o agricultor passou a se perguntar com o que produzir. A apropriação privada dos meios de produção é o centro propulsor dessa revolução, manifestado pela substituição dos saberes e das tradições pelas patentes.
Como este assunto é muito complexo, pretendo retomá-lo, sempre evitando as paixões e as reações extremadas.
* Luiz Gonzaga Neto é jornalista, analista em comunicação da Câmara de Atibaia e blogueiro, autor de brincantedeletras.wordpress.com. Esta coluna pode ser lida também no site do jornal O Atibaiense – www.oatibaiense.com.br.