Famílias têm novos formatos no mundo atual
Uma das grandes experiências da minha vida, até aqui, é a construção de uma família afetiva. O que quero dizer com isso? A Justiça vem reconhecendo que o amor une as pessoas e muitas vezes você não precisa ser pai biológico para exercer plenamente a paternidade. Meus caros leitores, é extamente este o meu caso.
Quando casei com a Fátima há 33 anos, ela vinha de um divórcio e estava com duas filhas, um e quatro anos. O interessante é que, desde a minha adolescência, um dos sonhos mais presentes no meu coração era ter uma filha adotiva. Consegui adotar duas, sendo que a mais velha me presenteou com um neto, hoje com 14 anos.
Segundo o Instituto Brasileiro de Direito de Família, “assim como as famílias mudaram, os núcleos familiares também sofreram alterações em sua estrutura e composição. Os núcleos familiares passaram a valorizar um fator imprescindível para sua formação: o amor, o afeto! Não há como negar que a nova tendência da família moderna é a sua composição baseada na afetividade”.
Palavras como “padrasto” ou “madrasta”, que se tornaram negativas, perderam um pouco do sentido para muitas famílias. Segundo Andrew Solomon, do jornal The Guardian, nem sempre as línguas refletem as mudanças sociais, ficando limitadas a descrever, por exemplo, relações familiares tradicionais e que sofreram grandes transformações.
“Acabamos limitando a crescente diversidade das famílias à sua maior ou menor capacidade de imitar estruturas tradicionais”. Como chamar a mulher que serviu de barriga-de-aluguel para uma família? Como filhos adotivos que mantêm contato com seus pais biológicos, podem descrevê-los? Pais e mães solteiros precisam explicar com frequência como é ser “pai e mãe ao mesmo tempo”.
Salomon cita um exemplo ainda mais interessante: quando Jennifer Finney Boylan se assumiu transgênero, seus filhos sentiram que não podiam mais chamá-la de pai, mas não conseguiam chamá-la de mãe porque o “cargo” já era ocupado por sua mãe. Por isso, passaram a chamá-la de Papãe.
O autor sugere abandonar as restrições binárias impostas por esses papeis e o apego estático à família nuclear. “Cuidar das crianças sempre foi uma atividade coletiva. E as relações de parentesco estão se tornando cada vez mais complicadas e diversificadas. Todo o sistema mudou de forma imensurável desde que o movimento feminista ampliou o direito ao divórcio e, assim, abriu caminho para padrastos e madrastas e permitiu que crianças integrassem mais de um lar ao mesmo tempo”, resumiu.
Portanto, “parente” deveria ser um conceito abrangente e cada família deveria ter o direito de definir seus laços de maneira compatível com sua própria realidade. O amor não é um recurso finito e a criação de um filho vai muito além de imperativos genéticos. Viva a liberdade!