O Novo Prédio do Clube Recreativo Atibaiano (1941)

Ao longo dos anos, passou por diversas reformas, sendo a mais significativa realizada em 1922, sob a liderança do Major Juvenal Alvim.

Márcio Zago

Em 1941, o jornal O Atibaiense publicou uma extensa matéria sobre a inauguração do novo prédio do Clube Recreativo Atibaiano. Fundado em 1897, o clube foi, por muito tempo, um dos poucos espaços aptos a sediar eventos culturais na cidade. Sua criação esteve ligada a influentes personalidades da época, reunidas pelo então promotor público, Dr. Affonso de Carvalho. Inicialmente, o clube funcionava em um antigo casarão na Praça da Matriz, de propriedade do Sr. Vautier.
Ao longo dos anos, passou por diversas reformas, sendo a mais significativa realizada em 1922, sob a liderança do Major Juvenal Alvim. Para a construção da nova sede, o prédio antigo foi demolido, mas, segundo o jornal: “Com a demolição da velha sede não desapareceu a tradição do Recreativo, que, num mundo de recordações, continua bem viva na saudade dos atibaienses.” Com um projeto arquitetônico moderno para a época, a nova edificação foi concebida e construída por Antônio Bonini, responsável também por importantes obras na cidade, como a Santa Casa, o Fórum (no centro), o antigo Ginásio Atibaiense, entre outras. A inauguração, realizada em 25 de janeiro (1941), tornou-se um grande evento social.
O discurso oficial ficou a cargo do professor Licínio Carpinelli, que ressaltou o papel do Clube Recreativo como cenário das disputas políticas entre as alas conservadora e radical da cidade. Segundo ele: “A primeira, representada pelas pessoas de idade, cautelosas e apegadas aos preconceitos; a segunda, a da mocidade audaz, por vezes irrefletida nos seus arroubos de entusiasmo. Ambas, porém, visando sempre o progresso do seu clube e a grandeza da nossa terra, pois que a luta é sintoma da vida e imperativo da evolução.” Desde sua fundação, a política esteve presente no clube, evidenciada já na composição de sua primeira diretoria, que contava com representantes dos três poderes da República — Executivo (recém-criado na época), Legislativo e Judiciário.
O historiador Gilberto Sant’Anna, em seu livro “Atibaia – História, Escrita e Prosa”, comentou sobre a influência politica no clube: “A amarração política dos liberais perpetuou no poder o grupo liderado pelo Major Juvenal Alvim por décadas. Coube-lhe instalar o pensamento republicano no município e decidir sobre as obras públicas até os anos 1930. Sucedeu-o no comando político seu filho, José Pires Alvim. Ambos exerceram o cargo de presidente do CRA.” Após a cerimônia de inauguração, como não poderia deixar de ser, um grande baile reuniu inúmeras personalidades, em uma noite de animação e cordialidade que se estendeu até altas horas.
Um detalhe curioso ficou por conta dos ritmos dançados na ocasião: a conga e o swing. A conga, grande novidade da época, tem origem na dança carnavalesca cubana de mesmo nome e tornou-se popular nos Estados Unidos entre as décadas de 1930 e 1950. Nessa dança, os participantes formam uma longa fila, que frequentemente evolui para um círculo. Já o swing, um dos grandes sucessos dos anos 1930 e 1940, se caracterizam por uma métrica rítmica de seis a oito tempos, permitindo acrobacias e improvisações para os dançarinos mais ágeis.

* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.