Cinema e fascismo em Atibaia
O anúncio, permeado de fervor patriótico, enfatizava que se tratava de “um hino à Nova Itália. Um belo trabalho do Instituto Nazionale L.U.C.E., de Roma.
Márcio Zago
Em agosto de 1935, um anúncio veiculado no jornal O Atibaiense convocou a comunidade ítalo-atibaiense a participar de uma projeção especial no Cine República. O patrocínio vinha da Sociedade Italiana de Atibaia. O filme em questão era “Camisa Preta,” um notório exemplo de propaganda fascista. O anúncio, permeado de fervor patriótico, enfatizava que se tratava de “um hino à Nova Itália. Um belo trabalho do Instituto Nazionale L.U.C.E., de Roma. Todo diálogo é cantado no idioma de Dante, e merece ser assistido por todos, principalmente pelos italianos. “Camicia Nero” é uma epopeia gloriosa da Itália de 1914 a 1934; a esplêndida jornada de um povo que, martirizado pelos horrores da Grande Guerra, contagiado depois pela confusão que avassalou o mundo, conseguiu heroicamente o seu ressurgimento graças à força construtora do fascismo, o regime politico social implantado por Mussolini. Este filme mostra-nos a Itália dos “camisas preta”, no apogeu de sua grandeza”.
Sob a direção de GiovacchinoForzano, o filme “Camicia Nero”, lançado em 1933, era uma narrativa dramática que abordava os eventos ocorridos na Itália desde o início da Primeira Guerra Mundial até a ascensão de Mussolini ao poder e a subsequente transformação do país. Esta obra combinava elementos de filmes de ficção convencionais, documentários e influências futuristas, representando uma nítida propaganda ideológica. A L.U.C.E. (L’Unione Cinematografica Educativa), que produziu o filme, desempenhava um papel de destaque na produção e distribuição de filmes e documentários para o cinema, servindo como uma poderosa ferramenta de propagação da ideologia fascista. O termo “camisa preta”, que dá nome ao filme, era associado aos grupos paramilitares fascistas que apoiavam Mussolini, também conhecidos como “Milícia Voluntária para a Segurança Nacional,” que depois se tornou uma organização militar oficial da Itália.
A crise provocada pela Primeira Guerra Mundial criou espaço para o crescimento da extrema-direita em vários países, respingando em Atibaia que aderiu prontamente a todos os matizes do vestuário fascista. No mesmo ano de 1935, uma filial da Ação Integralista Brasileira foi estabelecida em Atibaia na Rua José Alvim, número 9. Conhecidos como “camisas verdes”, o Integralismo era um partido e movimento político que emergiu no Brasil na década trinta e tambémera fortemente influenciado pelos ideais e práticas do fascismo. Fundado em 1932 por Plínio Salgado, o movimento carregava o lema “Deus, pátria e família,” um slogan que ressurgiu nos últimos quatro anos ese tornouconhecido por parte do eleitorado brasileiro identificados com sua simbologia. Lembrando que o cinema foi por muito tempouma janela para mundo. Em Atibaia, assim como em muitas cidades, foi um dos principais meios de informação e formação ideológica… Para o bem e para o mal.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.