Corporação Musical 24 de Maio
Márcio Zago
Depois de extinta a primeira banda do município, conhecida como Banda do Hilário, surgiu em seguida a Corporação Musical 24 de Maio. Segundo João Batista Conti em seu livro “História de Atibaia”, essa banda surgiu por iniciativa de Juvêncio Maciel Fonseca, em 1899.
Outras informações dão conta de que ela foi fundada pelo músico Antônio Francisco Ramos da Fonseca (pai Juvêncio Fonseca). Oriundo de Santana do Parnaíba, Antônio Ramos da Fonseca passou a residir em Atibaia a partir de 1893 com a família (a maioria músicos) onde, além da banda, fundou também o coral da Igreja Matriz. Numa breve pesquisa surgem outras informações a respeito do inicio da corporação: A primeira do maestro Daniel Guimarães Nery na tese “Música em Atibaia, uma História Possível” onde o autorrecorre “A Gazeta de Atibaia” e informa que houve“uma banda formada pelos diretores do Clube Recreativo Atibaiano em 1900 sob a direção do Coronel Teophilo Urieste (…) o conjunto teve efêmera duração, dissolvendo-se em 1901 com a venda do seu instrumental”. Outra informação é do jornal “O Atibaiense”, de junho de 1907.
Com o título “Banda de Música” o artigo dizia que“sob a Presidência do coronel José Pires de Camargo reorganizou-se no dia 15 do corrente a banda musical desta cidade, aproveitando-se os elementos da extinta, da qual era diretor o Senhor Tenente Juvêncio Fonseca”. Nos artigos citados não há qualquer referencia aos nomes, tanto da banda extinta, como da banda em formação, mas supõe-se que a Corporação Musical 24 de maio surgiu entre 1899 e 1900 por iniciativa de Antônio Ramos da Fonseca e/ou de seu filho Juvêncio.
Inicialmente a Corporação teve apoio do Clube Recreativo Atibaiano e a direção do Coronel TeophiloUrieste, dissolvendo-se pouco depois. Em 1907 ela foi retomada sob a Presidência do Coronel José Pires de Camargo.
A respeito da reestreia da corporação, o citado artigo do jornal “O Atibaiense”, informava também que “a noite organizou-se uma grande passeata ao som festivo da nova banda, quando se dirigiram a residência do Senhor Coronel José Pires, onde o aclamaram, e de lá seguiram para o Clube Recreativo, onde receberam um saboroso copo de água (costume da época), além de um coquetel. Às nove da noite a banda percorreu as ruas da cidade cumprimentando o vigário da paróquia, Padre Kolhy, que no seu discurso falou da importância da união dos músicos”. A Corporação Musical 24 de Maio permaneceu como única no município por breve período, quando surgiu a Banda Musical União da Mocidade. A partir daí as duas agremiações passaram a se revezar nas apresentações musicais, sempre com o respeito e reconhecimento do público.
A Corporação Musical 24 de Maio atuou por mais de duas décadas, quando foi extinta em 1925. Juvêncio Maciel Fonseca tinha somente 26 anos quando assumiu sua regência, permanecendo por longo tempo nesta função. Natural de Santana de Parnaíba, Juvêncio, além de músico, exerceu por mais de 30 anos o cargo de Secretário da Câmara Municipal de Atibaia e fez parte da Guarda Municipal, como Tenente da Reserva. Excelente clarinetista se envolveu de corpo e alma em inúmeras ações culturais no município, seja regendo corais, pequenas orquestras ou participando de diversos grupos musicais, tanto no teatro, acompanhando as peças teatrais, como no cinema, sonorizando as exibições cinematográficas. Juvêncio Fonseca foi um dos artistas mais influentee atuante na formação da identidade cultural de Atibaia, reafirmando a regra de que a cultura é um dos poucos espaços de inclusão do negro na vida social da elite, principalmente naquele inicio de século XX, onde a escravidão, recém-abolida, ainda estava viva na memória e nas ações de boa parte da sociedade brasileira. Juvêncio Maciel da Fonseca faleceu em fevereiro de 1944 e mereceum estudo mais aprofundado sobre sua vida e obra para que possa, finalmente, obter o merecido reconhecimento como importante artista local.
* Márcio Zago é artista plástico, artista gráfico de formação autodidata, fundador do Instituto Garatuja e autor do livro “Expressão Gráfica da Criança nas Oficinas do Garatuja”.
Criador e curador da Semana André Carneiro.